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10/Jan/2020

Crise EUA-Irã não deve afetar exportação do Brasil

A escalada de tensões entre Irã e Estados Unidos não deve afetar diretamente as exportações agropecuárias do Brasil ao país persa. Mas, o mercado está atento ao direcionamento dos preços dos grãos, em especial do milho. O produto está entre os principais embarcados pelo Brasil ao Irã e é matéria-prima para a alimentação dos animais nas empresas produtoras de carnes. As companhias dos setores de grãos e carnes listadas na B3, então, ficam sujeitas a eventuais efeitos vindos dos desdobramentos das tensões. Embora o Irã tenha sido o segundo maior importador de milho em 2019, as fatias de mercado ocupadas pelos parceiros comerciais são similares. A exportação de milho é muito pulverizada, são muitos players que consomem e em número muito próximos. Não existe um comprador predominante. No setor de soja, por exemplo, mais de 80% das exportações brasileiras são direcionadas à China. No ano passado, o Irã importou 5,4 milhões de toneladas do produto, ficando atrás apenas do Japão, que negociou 6,8 milhões.

Segundo o estudo Índices Exportação do Agronegócio, elaborado pelo Cepea, o milho foi a commodity que registrou maior crescimento de exportações, aumentando em 130% o volume no acumulado de janeiro a novembro de 2019 ante o mesmo período de 2018. O ano passado representou um marco no setor, com oferta de quase cem milhões de toneladas brasileiras. Os Estados Unidos tiveram uma série de incertezas e problemas com o clima, então isso disparou os preços norte-americanos e trouxe uma competitividade muito grande para a safra brasileira, que conseguiu se beneficiar. Devido ao ciclo temporal de negociações das exportações, possíveis impactos no preço da logística causados pela situação do Irã só devem ser sentidos no segundo semestre. O Brasil é um parceiro comercial mais importante para o Irã do que o Irã é para o Brasil. O peso do Irã nas exportações agropecuárias do Brasil é de 3%, mas o peso do Brasil nas importações do Irã é de 20%. Da exportação do agronegócio, mais da metade é milho. O mercado deve se ajustar.

Quanto à soja, apenas 2% da exportação brasileira tem como destino o Irã. O Brasil deve conseguir se reorganizar sem grandes danos caso algo nessa relação comercial venha a acontecer. Assim, o impacto de uma possível dificuldade do Brasil em exportar milho ao Irã seria mínimo. De todo modo, é preciso atenção aos efeitos da aversão ao risco no mercado futuro de commodities e no comportamento de câmbio. A preocupação neste momento é de que o acirramento das tensões Estados Unidos-Irã pode tirar o foco dos mercados de commodities dos fundamentos. O quadro de oferta e demanda passa a não ser o driver de mercado e sim o conflito geopolítico. Todas as vezes em que houve guerras ou conflito geopolítico, os preços das commodities a nível mundial caíram. Por outro lado, há a possibilidade de valorização do dólar em meio à busca por ativos mais seguros. As empresas estão se posicionando de forma bastante defensiva, observando estruturas de hedge e câmbio, na expectativa de que o conflito não ocorra e que, se ocorrer, que elas estejam preparadas ou com menor exposição possível a isso.

Na área de carnes, a conjuntura positiva se sobrepõe à possibilidade de risco às exportações por causa das tensões entre Estados Unidos e Irã. O cenário atual é muito positivo para as empresas de proteína animal no Brasil, com as notícias sobre peste suína africana (PSA) e a chegada da gripe aviária na China, além da seca na Austrália. Uma alta do dólar devido à tensão entre Estados Unidos e Irã pode incentivar a exportação de milho e deixar a oferta doméstica mais restrita para empresas de carne, que têm no cereal um custo relevante de matéria-prima. Por outro lado, o cenário de exportação de carne segue positivo, pois a demanda global continua elevada. O discurso do presidente Donald Trump, de que não quer guerra e que serão aplicadas apenas sanções econômicas ao Irã, contribuiu para acalmar os ânimos do mercado financeiro. Donald Trump ressaltou que as sanções permanecerão em vigor até o Irã mudar de comportamento. Ele defendeu também que o Ocidente trabalhe junto por um acordo com o regime iraniano.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec) indicam que o Irã importou o equivalente a US$ 214,07 milhões em proteína do Brasil no acumulado de janeiro a novembro na modalidade Free On Board (FOB), ou seja, em que o exportador é responsável pelos custos de transporte até o momento de embarque em navio. O montante do ano passado representa recuo de 30,6% em comparação ao mesmo período de 2018, quando as vendas para o Irã somaram US$ 308,8 milhões. À época, o país era o sexto maior parceiro comercial do setor. O Irã segue uma tendência de queda nas importações de carne bovina desde 2018, enquanto outros parceiros comerciais brasileiros aumentaram substancialmente o consumo, como a China. Apesar da queda nos volumes negociados, é preciso manter boas relações comerciais com o país persa. Em um primeiro momento há um cenário positivo em relação a outros países, mas o Irã é importante para ter um leque de opções. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.