ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

17/Dez/2019

Acordo EUA-China: os impactos para o agronegócio

A fase 1 do acordo comercial entre Estados Unidos e China indica uma aproximação e tentativa de conciliação entre os dois países, mas não deverá ter impacto acentuado sobre as exportações brasileiras do agronegócio. O Brasil ainda tem vantagens no fluxo das importações de soja da China. A China não deverá diminuir de forma muito severa as aquisições no Brasil. Dentre os fatores que garantem a competitividade da soja brasileira, destacamos o dólar acima de R$ 4 e os problemas na safra norte-americana de 2019/2020, que reduziram tanto o tamanho da produção e a qualidade do grão. Para a soja – produto mais afetado nos Estados Unidos pela guerra comercial –, a notícia da fase 1 do acordo é altista para os preços futuros e, em tese, poderá pressionar negativamente os prêmios nos portos brasileiros, que já ficaram mais baixos ao longo dos últimos meses.

Também poderá ocorrer uma alta dos prêmios de exportação dos Estados Unidos de forma que a soja brasileira continuaria competitiva para outros destinos do mundo. Isso poderia provocar uma inversão do que vinha ocorrendo nos anos de guerra comercial, quando alguns destinos vinham se abastecendo nos Estados Unidos por causa de preços mais competitivos por lá. Se o acordo de fato gerar maior demanda chinesa nos Estados Unidos, os fundos podem sair de suas posições vendidas em Chicago, o que pode dar suporte adicional às cotações futuras. Na sexta-feira (13/12), os futuros da oleaginosa fecharam em alta em Chicago. Entretanto, a ausência de detalhes mais concretos levou o mercado a devolver ganhos. Perto do fim da sessão, informações sobre compras chinesas de produtos agrícolas voltaram a dar impulso às cotações, que mesmo assim fecharam bem abaixo das máximas do dia.

O representante de comércio dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, disse no domingo (15/12), que a fase 1 do acordo com a China “está resolvida”. Segundo ele, o setor agropecuário norte-americano deve vender mais para a China, mas também haverá ampliação dos negócios em áreas como indústria e serviços. Há uma lista que inclui indústria, agricultura, serviços, energia e afins. Haverá um total para cada um desses segmentos. No segundo ano, os Estados Unidos querem duplicar as exportações de produtos para a China, se esse acordo estiver em vigor, segundo ele. Os Estados Unidos vendiam para a China em torno de US$ 128 bilhões em 2017, antes da guerra comercial. Segundo o representante do governo dos Estados Unidos, as exportações vão aumentar em “pelo menos US$ 100 bilhões”. Para o setor agrícola, há um compromisso de vendas para a China “entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões”, mas os Estados Unidos pretendem atingir entre US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões em novas vendas da agricultura ao longo dos próximos dois anos.

A meta é pretensiosa e fica praticamente 4 vezes acima do mais valor anual já adquirido pela China de produtos agrícolas norte-americanos. Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a China se comprometeria a adquirir US$ 50 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) afirma que o país asiático concordou em comprar US$ 16 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos a mais do que a base em 2017 (US$ 24 bilhões), ou seja US$ 40 bilhões no primeiro ano. Não há uma data para o começo das negociações da próxima fase. Será necessário resolver as traduções finais e as formalidades. A segunda fase será determinada pela forma como será implementada a fase 1. O acordo, de qualquer forma, não vai resolver todos os problemas entre os dois países.

Ainda que a fase 1 do acordo tenha se confirmado, ainda há desconforto entre as duas partes. O governo chinês tem liberado compras de soja norte-americana lentamente, o que não agrada ao governo norte-americano. A China se propôs a ampliar compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos em valores que jamais adquiriu, o que gera dúvidas no mercado. Pelo acordo, a China comprará US$ 50 bilhões do setor agropecuário norte-americano. O recorde de exportações anuais de produtos agrícolas dos Estados Unidos para a China ocorreu em 2012, no total de US$ 26 bilhões. Comparando os preços das commodities àquela época e agora esse valor seria de US$ 19,5 bilhões. Ou seja, a China teria que adquirir praticamente o dobro em produtos agrícolas dos Estados Unidos, sem ter esclarecido quando e nem quais commodities serão adquiridas.

A venda antecipada de soja no Brasil está em níveis superiores aos do ano passado, o que significa que as tradings estão conseguindo fazer negócios futuros e a China aparece como principal comprador. Para 2019/2020, 45% da safra brasileira de soja já foi negociada, acima de igual período do ano passado e da média dos últimos anos. Além disso, a China não está conseguindo controlar os surtos de Peste Suína Africana (PSA) e precisa importar carne suína, bovina e de frango, porque o preço das proteínas no mercado chinês está muito elevado. E os Estados Unidos não teriam como atender essa demanda em 2020. A concretização das compras chinesas de produtos agrícolas nos Estados Unidos poderá ser monitorada pelos relatórios semanais de exportação do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Fontes: Cogo Inteligência em Agronegócio, Reuters, Broadcast Agro e Bloomberg.