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05/Nov/2019

Acordo entre EUA e China não deve ser abrangente

O acordo que pode levar ao fim da guerra comercial entre Estados Unidos e China - anunciado em 11 de outubro - não é um acordo real, pois não alcança os temas mais relevantes do embate, como subsídios e tecnologia. O que foi anunciado é um acordo apenas no nome. Há ceticismo com a possibilidade de a China comprar entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões de produtos agrícolas dos Estados Unidos - como se comprometeu -, pois, para isso, teria de se indispor com parceiros comerciais importantes, como o Brasil. A primeira fase do acordo entre China e Estados Unidos não é um acordo real, pois não tem mudanças significativas nos temas complexos, como transferência de tecnologia e subsídios. Há ceticismo em relação à possibilidade de a China comprar de US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões de produtos agrícolas norte-americanos. O recorde de compra é algo como US$ 30 bilhões. Mas, nos anos recentes, foi menos. A China provavelmente vai usar o acordo como uma ameaça. Se Trump não for flexível, não continuará com as compras.

O objetivo da China é se livrar ao máximo das tarifas. Estão jogando duro com Trump e tentando ver se ele cede diante da campanha de reeleição. Quando Trump anunciou o acordo, enfatizou os benefícios para os fazendeiros, em particular dos Estados de Iowa e Nebraska. Em julho, houve um encontro de Trump com o embaixador dos Estados Unidos na China, Terry Branstad. Originalmente, o encontro era para ser sobre como as negociações estavam indo. Mas, antes da reunião, Trump havia feito algumas mudanças na política de etanol dos Estados Unidos e irritado os fazendeiros. Pela primeira vez, pareceu que poderia perder apoio substancial na base rural. Terry Branstad foi governador de Iowa, uma região de produção de milho, e o etanol é muito importante para Iowa e Nebraska. Trump mencionou Iowa e Nebraska quando anunciou a primeira fase do acordo. Alguns mercados receberam bem o anúncio. A disputa entre Estados Unidos e China começou no comércio, mas se expandiu para muitas áreas: empresas em lista negra, investimento estrangeiro direto, câmbio.

Então, mesmo se tivermos um acordo comercial, não significa que a relação entre Estados Unidos e China será normalizada. Não há um vencedor em guerras comerciais. Há apenas aqueles que perdem menos. Pelo que foi anunciado até agora, parece que a China perdeu menos. A única coisa que ela ofereceu foi a maior compra de produtos agrícolas. Não ofereceu concessões em subsídios. Os chineses acham que Trump é vulnerável e estão tentando empurrá-lo para rescindir as tarifas. Trump não deverá recuar. Se o fizer, vai parecer para muita gente que ele perdeu, principalmente para sua base. Muitos fazendeiros acham que é um dever patriótico aguentar um pouco de dor, porque é certo que os Estados Unidos batalhem com a China. Mas, se Trump ceder, eles vão pensar: ‘Sacrifiquei anos do meu negócio para quê?’ Ceder para a China não ajudará Trump a ser reeleito. Se a demanda global desacelerar de 4% para 1% ou 2%, isso é muito relevante para o Brasil em termos de exportações.

Uma das razões pelo ceticismo em relação ao acordo é que não é tão fácil para a China parar de comprar de muitos outros países e só comprar dos Estados Unidos. A China tem de gerenciar suas relações bilaterais uma por uma. O Brasil, por exemplo, não é um parceiro sem importância. Dado esse cenário da guerra comercial, o que se espera para a economia global em 2020 é um ano de desaceleração. O fator de incerteza, produzido principalmente por Trump, não vai embora. Depois, a Europa está se encaminhando para uma possível recessão. Parte tem a ver com a guerra comercial, mas não acho que seja a única razão. A Europa falhou em consertar os balanços de muitos bancos. A economia alemã está mais fraca do que imaginávamos e a japonesa também. A China não é mais capaz de estimular o crescimento como antes por causa da dívida. Os Estados Unidos não deverão entrar em recessão, mas Europa, Japão, China e guerra comercial são suficientes para desacelerar o crescimento global. Se a economia global cresce menos de 3%, será uma recessão. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.