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01/Nov/2019

Guerra comercial poderá causar nova crise global

Autoridades mundiais manifestaram fortes preocupações durante a recente reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que é preciso começar a agir agora para evitar que o planeta seja novamente envolvido em uma crise financeira global. Estas avaliações ocorreram devido a uma conjuntura desfavorável, acentuada nos últimos seis meses com a desaceleração mais forte da economia em diversos países, agravada pela escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, o que provocou um movimento quase sincronizado de distensão de política monetária em nações avançadas e mercados emergentes. Tais condições acomodatícias de política monetária pelo mundo também colaboraram para aumentar vulnerabilidades financeiras internacionais, sobretudo a forte elevação de dívidas corporativas. Juros negativos passaram a ser um novo normal especialmente na Europa. O mundo hoje tem perto de US$ 15 trilhões em ativos cujos proprietários pagam para depositá-los, sobretudo para ter a proteção de governos, como ocorre com títulos púbicos da Alemanha.

A guerra comercial é o ponto que mais assusta autoridades e investidores, pois há um consenso de que ela pode levar os Estados Unidos e o mundo a uma recessão, que poderia deflagrar rapidamente mais uma crise financeira internacional. O temor de que a escalada das disputas entre os governos de Donald Trump e Xi Jinping pode voltar a aumentar a qualquer instante gera uma percepção geral de insegurança e estado de alerta que demandam ações para evitar um gigantesco sell-off de ativos, sobretudo de ações de empresas nas principais praças financeiras globais que poderiam lembrar de alguma forma o que ocorreu em 2008. E os riscos são grandes. Caso ocorra uma retração da economia mundial equivalente à metade da registrada na Grande Recessão há pouco mais de dez anos, ativos corporativos em risco, cujas empresas geram lucros inferiores ao que precisam pagar de juros de dívidas, poderiam atingir US$ 19 trilhões ou 40% do total do passivo de companhias em economias avançadas, e alcançaria um nível superior ao da crise deflagrada com a quebra do banco Lehman Brothers.

Em plena Grande Recessão, o setor financeiro se perguntava o que deveria ter sido feito cinco anos antes para evitá-la. Agora, é preciso que agir para não permitir que a próxima crise surja em 2024. Um dos focos de ações preventivas de governos seria adotar medidas macroprudenciais, como exigências contra-cíclicas de capitais para bancos, empresas e investidores institucionais a fim de reduzir fragilidades de caixa. Essa posição seria válida apesar de a solidez financeira atual ser melhor do que a registrada antes da crise de 2008, já que os bancos estão muito menos alavancados devido ao cumprimento de regras adotadas por agentes reguladores, especialmente nos Estados Unidos. No entanto, eles precisam cada vez mais diminuir a exposição a empréstimos a empresas cujas condições operacionais não oferecem boas perspectivas de rentabilidade e devem, ao mesmo tempo, elevar garantias de companhias devedoras. Há vários pontos que geram mais apreensão de autoridades internacionais, como empréstimos feitos por empresas do setor não bancário pelo mundo, que somente nos Estados Unidos já alcançam US$ 1 trilhão.

Além disso, há também uma atenção especial a fundos de pensão, que em busca de maior rentabilidade em tempos de juros muito baixos aumentaram a exposição em ativos menos líquidos, como imóveis e participações no capital de empresas, o que pode ser problemático se uma recessão mundial acabar provocando uma queda súbita de seus valores de mercado. Muitas autoridades também defendem que para evitar uma acentuada retração do PIB global que provocaria uma crise financeira mundial são necessárias medidas econômicas estruturais, entre elas o aumento de gastos públicos, sobretudo nos países com folga no orçamento para estimular o nível de atividade. Uma alternativa que poderia reforçar a demanda agregada dos países em uma conjuntura de redução da velocidade da demanda agregada seria a adoção de projetos apoiados pelas "finanças verdes", sobretudo obras de infraestrutura, que teriam a vantagem adicional de combater o aquecimento global.

Autoridades internacionais não acreditam que uma crise financeira global está prestes a ocorrer, pois o mundo tem mais chances de escapar de uma recessão do que de enfrentá-la no próximo ano. O PIB mundial deve crescer 3,0% em 2019 e 3,4% em 2020, nível ainda distante dos 2,5% quando fortes retrações ocorrem. Contudo, em um contexto repleto de incertezas e temores para a economia global, especialmente com as longas disputas comerciais entre Estados Unidos e China que não devem acabar em 12 meses, é melhor adotar medidas logo para não permitir que surja a Grande Recessão 2.0. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.