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22/Out/2019

Sustentabilidade: a experiência positiva da ILPF

Uma propriedade rural com rotatividade constante de atividades na mesma área, que está sempre em produção, garantindo renda o ano todo, produtividade acima da média e qualidade do solo, das águas e do meio ambiente. Assim poderia ser definida a Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). Ali são produzidos eucalipto, soja e milho na safra de verão; milho, sorgo e girassol na colheita de inverno, além de bovinos de corte. Tudo em 5 mil hectares, sendo 2,5 mil próprios e 2,5 mil arrendados. O eucalipto foi plantado há dez anos e dá madeira com cortes a cada sete anos, além de proporcionar sombra para o gado; os grãos, colhidos em duas safras anuais, representam mais uma fonte de renda e o pasto, cultivado entre os renques de eucalipto, concomitantemente com a soja e o milho de verão, garante alimento para os bovinos assim que as lavouras são colhidas, num sistema harmônico e sucessivo.

A propriedade adotou uma técnica preconizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), denominada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Esta tecnologia tem sido importante para recuperar pastagens degradadas no País. Calcula-se que haja 80 milhões de hectares de pastos deteriorados nos campos brasileiros e uma alternativa sustentável e intensiva de uso da terra. Quando assumiu a propriedade, em 2006, a produtora percebeu dois problemas: endividamento e solos degradados, infestados por cupinzeiros. A recuperação da área da forma tradicional seria cara e, naquele momento, economicamente inviável. A Embrapa sugeriu a integração lavoura-pecuária (ILP), que pareceu bastante inteligente, pois a agricultura subsidia a recuperação da pastagem. O início foi plantando soja e semeando pasto na mesma área, concomitantemente. O resultado foi muito positivo. Os grãos foram colhidos, as contas foram pagas e o pasto estava reformado e pronto para receber os animais.

Atualmente, em 3 mil hectares são mantidas agricultura (com duas safras anuais), em 1,5 mil hectares, pecuária (com pasto entremeado na área de grãos) e em 250 hectares, o eucalipto. A ocupação intensiva do solo por meio da ILPF vai além da maior lucratividade da Fazenda Santa Brígida. Este pacote tecnológico contribui também para reduzir o aquecimento global. Diversos pesquisadores já realizaram trabalhos na fazenda e a conclusão é que a propriedade reduz em 55% as emissões de gases de efeito estufa, quando comparados a sistemas convencionais, além do sequestro e fixação de 5 toneladas de gás carbônico equivalente por hectare/ano. Não à toa essa tecnologia vem sendo difundida pela Embrapa como contribuição para o Brasil atingir suas metas de redução das emissões, dentro do Acordo de Paris.

De acordo com o pesquisador em Mudança de Clima da Embrapa Solos, Renato Aragão Ribeiro Rodrigues, que também é presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF, o País criou o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), do qual a ILPF é uma das tecnologias. E, no âmbito do Acordo de Paris, o Brasil vem trabalhando a ILPF como a principal tecnologia de produção de alimentos, com mitigação das emissões e adaptação à mudança do clima. Atualmente, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área com ILPF no Brasil (considerando-se todas as suas variáveis, como ILP, ILF e ILPF) soma 15 milhões de hectares. Um crescimento expressivo se se considerar que em 2005 a área correspondia a menos de 2 milhões de hectares. Essa evolução demonstra a eficácia das políticas públicas e o engajamento dos produtores na busca de soluções sustentáveis de produção.

Essa área já total já quase alcançou a meta sugerida pelo Brasil para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O País comprometeu-se a restaurar 15 milhões de hectares de pastagens e adotar, em 5 milhões de hectares, sistemas integrados, como a ILPF, até 2030. Mas, a perspectiva de crescimento da área agricultável ocupada com ILPF no País é de mais de 20 milhões de hectares até 2030. Seria possível chegar, portanto, a 35 milhões de hectares com a tecnologia. É muito importante destacar que a ideia é que esse crescimento seja todo feito em áreas de pastagens degradadas ou pouco produtivas, sem a necessidade de abertura de novas áreas de floresta. O desmatamento zero é uma questão de importância vital para posicionar o País como a grande potência agrícola e ambiental do planeta. A Rede ILPF está montando uma estratégia de internacionalização que tem como objetivo principal demonstrar a sustentabilidade da agricultura brasileira. A Rede ILPF está desenvolvendo um modelo de certificação de propriedades que usam a tecnologia e fazem gestão adequada da propriedade, incluindo os aspectos ambiental e social.

O objetivo é mostrar para o mundo que o Brasil tem um modelo consistente e sustentável de produção agropecuária e que o produtor brasileiro precisa ser remunerado adequadamente por isso. A ILPF pode ser considerada um sistema de produção de alimentos, fibras e energia extremamente sustentável. Ela promove ganhos econômicos, sociais e ambientais, como redução da erosão, aumento da matéria orgânica do solo e conservação da sua estrutura, conservação de água, aumento do conforto térmico para os animais, redução do uso de agrotóxicos, aumento do estoque de carbono, mitigação das emissões de gases do efeito estufa, adaptação do sistema aos impactos da mudança do clima, entre outros. Estudos apontam que, para se produzir 1 tonelada de carne bovina em um sistema tradicional, a emissão de gases do efeito estufa é de 11,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente. Num sistema de ILPF, é de 1,5 tonelada. A área necessária para produção nesse mesmo exemplo é de 8,6 hectares na pecuária convencional, enquanto na ILPF é de 2,4 hectares.

Cada sistema é único e não há uma "receita de bolo" para se fazer a ILPF. No entanto, de forma geral, o sistema mais comum é feito assim: planta-se a soja em outubro e colhe-se em fevereiro. Imediatamente após a colheita da soja, é feito o plantio do milho em consórcio com o pasto (geralmente, braquiária). Em junho/julho é feita a colheita do milho e a gramínea está pronta para ser pastejada pelos bovinos, que ficarão na engorda até outubro. Dessa forma, há disponibilidade de alimento de qualidade para os bois na época da seca (inverno) e o sistema opera durante o ano todo. Pode-se adicionar nessa área o plantio de eucaliptos, entremeados entre as linhas de lavoura e pasto. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.