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09/Out/2019

Incra: crise entre aliados do governo e militares

A demissão do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), general João Carlos Jesus Corrêa, expôs a crise entre o secretário especial de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, a ala militar do governo e o próprio Ministério da Agricultura. A queda de Corrêa, depois de oito meses no cargo, foi atribuída a Nabhan e teria passado sem grandes traumas se o general não tivesse saído dizendo que se tornara uma “pedra no sapato” por contrariar interesses e até mesmo por atacar “verdadeiras organizações criminosas”. O episódio incomodou o presidente Jair Bolsonaro e reforçou o movimento que pretende impedir Nabhan de interferir no Incra. Dispensado com o general Corrêa, o coronel Marco Antonio dos Santos falou em interesses de pessoas ou grupos “não exatamente republicanos” em superintendências do instituto. Questionado se Nabhan estaria nesse grupo, o coronel respondeu: “Pela lógica, sim”.

Presidente licenciado da União Democrática Ruralista (UDR) e amigo de Bolsonaro, Nabhan foi um dos principais colaboradores do presidente na campanha. Desde o início do governo, no entanto, sua atuação tem causado incômodo entre os militares e na equipe da Agricultura. A pressão do secretário para derrubar Corrêa, sob o argumento de que a gestão do general tinha falhas, era conhecida nos bastidores do governo há meses. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tentava, porém, segurar o general no cargo como forma de neutralizar as investidas de Nabhan sobre o Incra, mas não conseguiu. Uma reunião de Bolsonaro com Tereza Cristina e Nabhan no Planalto, no dia 30 de setembro, selou o destino de Corrêa e de quatro coronéis, também dispensados. A ministra queria comunicar a decisão diretamente ao general, mas a informação vazou.

Em mensagem de despedida enviada a um núcleo restrito de servidores do Incra, Corrêa disse ter levado um grupo qualificado para sua equipe para uma tarefa de saneamento do órgão. Ele considera que estava contrariando interesses e agindo com ética e honestidade e que isso passou a incomodar. O coronel afirmou que existem várias facções incrustadas no Incra, em uma ou mais situações delituosas. Mais de 50 processos estão em andamento contra várias dessas facções apurando casos de corrupção, desvios, aquisições fraudulentas, distribuição de bens sem lastro nas superintendências regionais do Incra. Conforme o coronel, a direção do Incra em Brasília não teve autonomia nem interferência na indicação das superintendências nos Estados. Foram todas ocupadas por indicações políticas. Na última semana, Nabhan afirmou, após cerimônia no Planalto, que a Medida Provisória da regularização fundiária seria feita por meio de “autodeclaração” e estava praticamente pronta.

No entanto, a proposta ainda exige estudos para sair do papel. A declaração de Nabhan sobre o assunto foi mais uma das que aborreceram a equipe do ministério. Auxiliares de Tereza Cristina têm receio de que os conflitos no campo aumentem se vingarem ideias como a da autodeclaração. O secretário afirmou, porém, que a mudança no sistema fundiário faz parte de um compromisso de governo. De qualquer forma, a estratégia para enquadrar Nabhan pode ser posta em prática já na indicação do novo presidente do Incra e de diretores da autarquia. A ministra quer que seja um civil. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), apoia o ex-deputado Valdir Colatto (MDB) para a presidência do Incra. Nabhan afirmou não acreditar que haja um movimento para isolá-lo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.