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07/Out/2019

Leia a entrevista com o ministro do Meio Ambiente

Preocupadas com a exigência cada vez maior dos consumidores, empresas estrangeiras que trabalham com produtos brasileiros pediram ao governo que passasse com mais regularidade informações sobre as questões envolvendo o meio ambiente do País, mais especificamente a Amazônia. A resposta do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que está em viagem pelos Estados Unidos e Europa há quase 20 dias, foi a de que o Brasil entregará um boletim semanal com os dados desejados, além de ter uma atuação mais direta com essas companhias por meio das embaixadas e das câmaras de comércio no Brasil e no exterior. O ministro descreveu que os investidores europeus e norte-americanos sabem que houve exacerbação das informações que circularam sobre as questões ambientais no Brasil e que eles reforçaram a intenção de manter os investimentos no País. O ministro também previu que o fundo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para captar recursos para negócios do setor de biotecnologia e bioeconomia na Amazônia deve estar em operação em janeiro ou fevereiro do ano que vem. Segue a entrevista:

O senhor está há quase 20 dias em viagem no Exterior, pelos Estados Unidos e capitais europeias. Na agenda, os compromissos principais foram reuniões com investidores e entrevistas para a imprensa local. A ideia é mudar a imagem do Brasil aqui fora, principalmente depois das queimadas na Amazônia

R: Também estivemos reunidos com entidades do terceiro setor, as ONGs, e com autoridades governamentais. A ideia foi explicar o que está acontecendo com todas essas discussões sobre desmatamento no Brasil e também a parte de apoio financeiro. Foi uma viagem bastante produtiva.

Quais foram as principais perguntas dos investidores em Londres? As mesmas dos demais locais por onde passou?

R: A grande maioria dos investidores na Inglaterra e em outros países entendem que houve uma exacerbação dessas questões ambientais sobre o Brasil. Eles sabem que o Brasil tem feito muito na área ambiental e que muitas das coisas que foram ditas por aí não correspondem com a verdade. O que eles precisam? Do ponto de vista do sentimento que as pessoas têm em relação a esse assunto ambiental, que o Brasil ajude essas empresas a terem informações de forma mais rápida e precisa para que eles possam também ser fonte de informação.

Como seria isso?

R: A preocupação é com os consumidores deles. Eles querem ter informações, não apenas que elas fiquem a cargo do governo. É uma ideia interessante. Temos algumas estratégias: o papel das embaixadas é importante, as câmaras de comércio também e temos a possibilidade de ter um núcleo de comunicação que vai fornecer permanentemente, municiando cada um desses setores com dados, informações e estudos rapidamente. Eles terão sempre informação atualizada sobre tudo. Foi pedido e vamos fazer. Será um esforço conjunto de vários órgãos do governo ao mesmo tempo: Ministério da Economia, das Relações Exteriores...

O Ministério da Agricultura...

R: O Ministério da Agricultura e certamente o do Meio Ambiente. Vamos fazer uma espécie de boletim robusto para divulgar informações uma vez por semana ou com a periodicidade que for necessária. Eles (empresários) têm todo o interesse de divulgar isso porque querem continuar os investimentos.

Esse pedido vai na mesma linha daquela carta aberta dos fundos que gerem R$ 65 trilhões e pediram que o Brasil que tome medidas para combater o desmatamento?

R: Estive com esses fundos em Nova York, os maiores do mundo, e foi uma reunião excelente. Todos reafirmaram a oportunidade de investimentos no Brasil, o apetite por investimentos, a decisão por investir, mas eles também querem ter as informações claras sobre o que está acontecendo. Só isso: eles não criticaram o Brasil; disseram apenas que querem estar informados.

As informações prestadas pelo governo serão suficientemente confiáveis para esses empresários? Porque há muitas críticas...

R: São confiáveis. Todos os temas ambientais precisam ser ditos com bastante clareza e sempre haverá de nossa parte disposição de esclarecer. Ficou muito claro nessa viagem que boa parte das dúvidas se resolvem com entendimentos, de explicar os dados.

O senhor esteve em Paris, que poderia ser o ponto mais nevrálgico da viagem depois dos embates dos presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron. Houve manifestações do Greenpeace em frente à Embaixada. Como está o relacionamento com os investidores?

R: Nos reunimos com os principais grupos investidores franceses no Brasil, como Casino, Total, BNP Paribas, Crédit Agricole... Foram muitos, 18 grupos. Ficou claro que eles estão muito animados com o Brasil do ponto de vista das reformas econômicas. Eles querem manter o fluxo de investimentos. Entendem que o Brasil é um parceiro importante para os investimentos franceses e querem que se passem as informações sobre o meio ambiente de forma mais racional possível. Se mostraram muito amigos do Brasil, reafirmaram que a relação histórica é muito boa. Não tivemos nenhum problema. Essa mesma perspectiva se mostrou em outros países. Nos EUA, as empresas têm um viés bem comercial. Na Alemanha houve a mesma preocupação que a dos franceses. Lá estivemos com 20 e poucas empresas, que têm investimentos gigantescos no Brasil, e todas reafirmaram seus compromissos com o País. Esclarecemos todas as dúvidas.

O senhor falou de preocupação com consumidores e as notícias que veiculam aqui são a de que a H&M, que é a segunda maior varejista de moda do mundo, parou de comprar couro do País citando preocupações ambientais. Também ocorreu isso com os calçados Vans e Timberland e com o grupo de roupas para o ar livre The North Face. Como o governo tem acompanhado isso?

R: Não nos chegou nada oficial. Que a gente saiba, não há nenhuma decisão dessa natureza. Se falou sobre isso, mas nada que tenha sido implementado. Entendemos que diante desse esforço de comunicação que estamos fazendo e vamos fazer, muitos desses comentários não vão se concretizar. Todos que foram aos nossos encontros saíram muito satisfeitos com as informações prestadas. Isso não quer dizer que não haja um caso ou outro que queira mais informação. E vamos apresentá-las.

Em entrevista à BBC, o senhor disse que o Brasil precisaria de US$ 50 bilhões por ano se quisessem mesmo proteger a Amazônia. Como se chegou a essa cifra?

R: Falamos de potencialidade, não de necessidade. Se calculássemos US$ 100 por hectare, que é um valor baixo, chegaríamos a US$ 50 bilhões. Então, o Brasil tem um potencial enorme para recebimento de recursos quer seja para o PSA (Pagamento de Serviços Ambientais) ou mecanismos de mercado de crédito de carbono, de hedge, enfim, todos os mecanismos de financiamento ligados à questão de preservação ambiental.

O ministro Ernesto Araújo disse que está para sair em breve um fundo do BID para apoiar a economia sustentável da Amazônia. O senhor tem mais informações?

R: Negociamos esse fundo com o BID em Washington. É um fundo para captar recursos do setor privado junto com recursos governamentais e será aberto para as empresas do setor privado, para fomentar o empreendedorismo de negócios do setor de biotecnologia e bioeconomia na Amazônia. Segundo o BID, deve estar pronto no período de três a seis meses. O fundo deve estar operando em janeiro ou fevereiro do ano que vem. Fora outros fundos e recursos que o presidente (Jair Bolsonaro) assinará.

O senhor acredita que o futuro da Amazônia está mais ligado a fundos como esse ou na ideia do presidente de quem também é preciso desmatar para ter desenvolvimento econômico na região?

R: O que defendemos aqui na Europa e nos Estados Unidos é que o Brasil tem uma lei, o Código Florestal, bastante rígida. O Brasil deve fazer as coisas de acordo com as leis e nesse caso, é esse código, que é suficientemente restritivo, a ponto de ser considerado uma norma preservacionista. Não temos que fazer mais do que a lei determina. O Brasil vai cumprir a lei e atrair investimentos, gerar negócios. Para você que é do Broadcast e tem leitores que são empresários e investidores, a questão da bioeconomia é a grande oportunidade de negócios. Temos a região mais rica do País em termos de recursos naturais e o pior índice de desenvolvimento humano. Isso não tem cabimento. Essa é uma riqueza que o Brasil tem e outros países não têm. Precisamos destravar os investimentos, tirar as barreiras.

Em entrevista ao Broadcast, o professor Alexandre Antonelli, um brasileiro que comanda as pesquisas de um dos maiores jardins botânicos do mundo, o Kew Gardens, aqui de Londres, disse que o governo precisa ouvir mais os cientistas. O senhor acha que o governo precisa ouvir mais a ciência?

R: Em geral, o Brasil tem um bom acervo de produção de conhecimento. O que falta é transformar ciência em benefício econômico para a sociedade. Sem isso, é difícil convencer as pessoas que há um valor intrínseco (na Amazônia).

Fonte: Agência Estado.