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03/Out/2019

As atividades com receita bruta inferior ao custo

A economia tem seus mistérios. Há duas semanas, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgaram dados positivos do Produto Interno Bruto (PIB) no setor de proteína animal no primeiro semestre deste ano. A soma da riqueza das cadeias produtivas de aves, suínos e bovinos avançou 4,65% entre janeiro e junho, ante aumento de apenas 0,53% no PIB de todo o agronegócio no período. No setor primário da pecuária, dentro das propriedades, o PIB impressionou: 10% de alta na primeira metade de 2019. O avanço foi atribuído à demanda internacional pelos produtos pecuários brasileiros. Motivo de comemoração para o setor?

Não é o que mostra o projeto "Campo Futuro", coordenado pela mesma CNA que auxiliou na elaboração dos dados do PIB do agronegócio, mas, agora, em parceria o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), universidades e centros de pesquisa. O programa visitou produtores rurais de 22 Estados brasileiros para levantamento dos custos de produção de 23 atividades agropecuárias. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (02/10), mostram que produtores de seis das atividades analisadas obtiveram receita bruta com as vendas inferior ao custo operacional total, resultando em margem líquida negativa. Entre essas atividades com lucratividade média negativa, três são justamente de proteína animal: suínos, com margem negativa de 4%; bovinos de leite, com 11%, e aves, com 33% de receita bruta inferior ao custo total.

Completam a lista os produtores de tilápia, com margem negativa de 4%; de trigo, com 15%, e de café, com 28% de prejuízo. As condições macroeconômicas e a taxa de câmbio encareceram os custos e explicaram, em parte, os resultados negativos no bolso desse grupo de produtores. Impacto negativo também vem da fatura gerada em maio de 2018, com a greve dos caminhoneiros, que vem sendo paga até agora. A paralisação gerou incertezas sobre o tabelamento de fretes e influenciou a negociação de fertilizantes. O custo desse insumo subiu 23% no primeiro semestre de 2019, ante igual período do ano anterior. A misteriosa economia, como nos mostram as duas pesquisas, prova que alta do PIB não significa, necessariamente, lucro ao produtor. Os custos engoliram as margens e os pecuaristas desses três segmentos, além não comemorar, ainda tiveram um prejuízo, literalmente, animal. Fonte: Gustavo Porto.