ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

01/Out/2019

Títulos Verdes: mercado global está em expansão

Evoluindo muito lentamente nos últimos anos e despertando interesses marginais, o mercado das finanças verdes passou por uma verdadeira mudança de status nos últimos dias. O assunto foi tema de pelo menos cinco relatórios internacionais de diferentes instituições divulgados recentemente, foi assunto de discussões na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada em Nova York e em eventos paralelos e até virou um fundo de renda fixa de acesso a todos os bancos centrais do mundo. Ainda que tenham estado em bastante voga agora, se trata de um mercado ainda relativamente muito pequeno, mas em forte expansão. A emissão de títulos verdes passou de menos de US$ 50 bilhões em 2014 para US$ 230 bilhões no ano passado, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS).

O salto dado nesses quatro anos é atribuído justamente à criação dos Princípios de Títulos Verdes da Associação Internacional do Mercado de Capitais (ICMA), que provêm um padrão mais claro sobre as características que os ativos devem ter para serem considerados verdes. Até aí, havia uma resistência por parte dos investidores sobre projetos que realmente deveriam ganhar o selo de green bond. Por conta disso tudo, é bem possível que, apesar da presença maciça na mídia recentemente, a revolução que acompanha esse segmento, dito como o futuro do mercado financeiro, já esteja ocorrendo de forma mais profunda do que se imagina. Dirigentes de instituições financeiras internacionais apontam que é preciso que os setores produtivos em todo o mundo aumentem o nível de inovação para fazer uma transição mais rápida da matriz energética, muito baseada ainda em combustíveis fósseis, para outras fontes renováveis, entre elas solar e eólica.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) previu que um aumento anual em investimentos verdes de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global, o equivalente a US$ 1,7 trilhão, poderia gerar 170 milhões de empregos. Segundo a entidade, o montante corresponde a um terço do que é gasto atualmente pelos governos com subsídios a combustíveis fósseis. O mercado dos green bonds ainda segue muito concentrado. O 4º Índice Global de Finanças Verdes (GGFI 4) mostrou que os europeus dominam esse segmento, com destaque para a cidade de Amsterdã, com o maior volume de títulos emitidos, e Londres, mais bem classificada como a cidade com maior qualidade de ativos. Segundo o Banco Central da Holanda, às vezes os fatos não correspondem à dinâmica necessária de avanços requeridos à realidade de países sobre este tema.

Mas, é papel dos bancos centrais atuar, inclusive junto com governos, para que tais ações sustentáveis avancem, pois suas atuações são relevantes e ajudam a dar maior ritmo a debates e a adoção de iniciativas por parte dos próprios governos. Na sequência, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) lançou a ferramenta para os bancos centrais poderem incorporar esses ativos em seus balanços, menos de uma semana depois de a instituição suíça fazer recomendação nesse sentido, ainda que tenha apontado o tamanho do mercado como um limitador para grandes fatias de seu uso. O BIS afirma estar confiante que, agregando o poder de investimento dos bancos centrais, é possível influenciar o comportamento dos participantes do mercado e ter algum impacto no desenvolvimento de padrões de investimento verde. Os instrumentos do BIS seguem padrão do ICMA e ou da britânica Climate Bonds Initiative (CBI). A crença é de uma maior pulverização desses títulos nos próximos anos.

O Brasil já foi apontado pela CBI como a estrela potencial desse segmento, tendo ganhado até um evento em que era protagonista em Londres, há três anos. Os dados da GGFI 4, porém, mostram que o País ainda está bem aquém de seu tamanho latente, com São Paulo e Rio de Janeiro ocupando colocações bem baixas no ranking (46ª e 55ª, respectivamente). Pelo terceiro ano consecutivo, no entanto, a Embaixada do Brasil em Londres vem insistindo no tema e reunindo um crescente número de interessados nessas ferramentas com origem doméstica. Em agosto, por causa das queimadas na Amazônia, as questões ambientais do Brasil ganharam o noticiário internacional e o tempo de discussões dos líderes das sete maiores economias do globo (G7). Polêmicas à parte sobre como o governo vem lidando com a situação, o ministro das Relações Exteriores do Brasil afirmou estar esperançoso com a possibilidade de o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) criar ainda este ano um fundo robusto para apoiar projetos sustentáveis na floresta, ao lado do Fundo Amazônia, gerenciado hoje pelo Ministério do Meio Ambiente.

Não foi apenas o Brasil que ficou na berlinda em relação a questões ambientais. A Comissão Europeia afirmou, na semana passada, que, se os Estados Unidos quiserem fechar acordos comerciais com o bloco comum, terão de aderir ao Acordo de Paris, sobre o qual o presidente Donald Trump não esconde suas resistências. Conforme a temperatura do globo aumenta, mais os países são colocados contra a parede. E o mercado financeiro e as empresas não podem deixar escapar o momento em que uma crise pode virar uma oportunidade. Afinal, segundo o Banco Central da Holanda, as empresas precisam considerar em seus balanços, por exemplo, se as cotações da tonelada de CO2 variam de US$ 50,00 para US$ 100,00 ou US$ 150,00. Faz toda a diferença este tipo de variação no impacto dos seus negócios. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.