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30/Set/2019

Posição de Bolsonaro já preocupa o agronegócio

Manifestações do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo às ligadas às questões ambientais, causam desconforto em parte do agronegócio. Enquanto representantes do setor, entre eles lideranças, produtores e empresários, consideraram "firme" a recente fala do presidente na Assembleia Geral da ONU, em defesa dos interesses e da soberania do Brasil, outros afirmam que ela não favorece a conquista de mercados globais e pode até dificultar o fechamento de novos acordos de comércio. Para esses, pode haver problemas para o acordo UE-Mercosul, dadas as "indiretas" do presidente em relação à França, país que discorda da parceria com os latino-americanos. No dia do discurso, poucas entidades se manifestaram publicamente e isso é sintoma de que não há consenso. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o presidente falou o que os brasileiros queriam ouvir.

Uma das poucas entidades a se pronunciarem publicamente na própria terça-feira (24/09) foi a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para a entidade, Bolsonaro conseguiu posicionar o Brasil na ONU, defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. É o que pensa também a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). Outras lideranças veem riscos após a fala incisiva de Bolsonaro na ONU. O maior problema poderá ser, na opinião desse grupo, a efetivação do acordo UE-Mercosul, fechado em julho pelos governos dos blocos latino-americano e europeu. Em cerca de dois anos a parceria deve começar a valer de fato, após a aprovação do acordo pelos Parlamentos dos países envolvidos.

Antes do evento na ONU o cenário já era delicado, principalmente após a repercussão internacional das queimadas na Amazônia e a troca de farpas entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron. Em seu discurso na ONU, o mandatário brasileiro não mencionou diretamente a França, mas criticou atitudes de Macron, sem citar seu nome. Neste contexto, o acordo UE-Mercosul deve, no mínimo, atrasar. Bolsonaro citou que é a favor do livre comércio, mas a polarização ambiental não ajuda nesse discurso. A França, por exemplo, nunca quis fechar o acordo. Agora arrumou mais argumentos para ser contra. O que pesa em favor da negociação é o grande interesse de indústrias europeias. O meio ambiente é um tema sensível para a Europa. Por isso, o mais indicado seria o diálogo com representantes do setor de meio ambiente e o reforço da posição de que o Brasil deu a resposta correta contra o desmatamento ilegal.

Ainda que até o momento não tenham ocorrido reações expressivas de rejeição de consumidores do exterior aos produtos agrícolas brasileiros, a experiência demonstra que as pressões vêm repentinamente. O ex-embaixador do Brasil em Washington e em Londres, diplomata Rubens Barbosa, não crê que o acordo UE-Mercosul esteja em risco, pois há interesse de países europeus em manter o mercado aberto na América Latina. O acordo tende a ser ratificado, mas não será fácil. Barbosa avalia que Bolsonaro abriu, com seu discurso, novos pontos de atrito lá fora. A expectativa era de que o presidente fornecesse um quadro real do que está ocorrendo no Brasil, porque há muita desinformação no exterior quanto às queimadas na Amazônia. Mas, ele preferiu fazer um discurso firme, duro e voltado para o público interno. Para Barbosa, pontos novos de atrito no exterior terão de ser administrados nos próximos meses.

Ainda a respeito do acordo entre os dois blocos, a Abraleite pontua que não resta dúvida de que a agropecuária brasileira, como grande produtora e exportadora de alimentos, incomoda muitos países e isso preocupa esses países, que se utilizam de críticas e qualquer argumento para tentar prejudicar o Brasil. A questão, para um representante do setor exportador, é que o discurso de Bolsonaro "não ajuda". Para quem está querendo atrair investimento externo, palavras desse tipo não encorajam ninguém a investir no País. Em seu discurso, Bolsonaro disse ser "uma falácia" considerar a Amazônia patrimônio da humanidade e afirmar que a floresta é o pulmão do mundo. Há pouca chance de o presidente mudar o tom. Ele já está pensando nas eleições de 2022. Por ser adepto da tática do conflito permanente, o presidente precisa ter sempre um inimigo do outro lado. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.