ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

25/Set/2019

Discurso de Bolsonaro na ONU tem várias críticas

No seu discurso de estreia na Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro comprou as brigas que já vem travando desde que assumiu o governo e reiterou conceitos do "bolsonarismo". Sob escrutínio da comunidade e imprensa internacionais por sua política ambiental, o brasileiro culpou "mentiras da mídia" pela repercussão no exterior do aumento das queimadas na Amazônia, atacou Cuba e o "politicamente correto", afirmou que o Brasil "esteve muito próximo do socialismo" e endereçou críticas ao presidente francês, Emmanuel Macron. Ele voltou a sustentar a teoria de que os países que o criticam têm interesse comercial nas riquezas minerais do País e afirmou que é uma "falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade" e um "equívoco" chamar a floresta de pulmão do mundo.

"Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista", disse Bolsonaro, que falou em um "ambientalismo radical" e "indigenismo ultrapassado". Em sua oitava viagem internacional, Bolsonaro tenta reverter o desgaste na imagem do País no exterior. O governo brasileiro tenta fazer dos corredores das Nações Unidas, e do discurso do presidente na plenária, um palco para a gestão da crise diplomática que teve como fator de combustão as falas de Bolsonaro, durante a campanha e já na cadeira de presidente, sobre política ambiental e exploração da floresta. A Assembleia Geral da ONU e a estreia do brasileiro na organização se tornaram o maior teste de política externa de Bolsonaro. Segundo Bolsonaro, a Amazônia não está sendo devastada nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Ele afirmou que o Brasil é muito diferente daquele estampado em muitos jornais e televisões.

Apesar de prometer um tom conciliatório, Bolsonaro deixou claro que suas críticas estavam direcionadas a líderes como Macron e saudou, como aliado, o norte-americano Donald Trump. "Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania! Um deles por ocasião do encontro do G-7 ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir. Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta", afirmou Bolsonaro. Depois de discursar, Bolsonaro se sentou na plateia do plenário da ONU para assistir à fala de Donald Trump. O plenário estava com lotação praticamente completa durante o discurso de Bolsonaro. Uma das líderes presentes para ouvir o brasileiro foi Angela Merkel, chanceler da Alemanha, que bateu quatro palmas, sem entusiasmo, quando o discurso de Bolsonaro acabou. Um dia antes do discurso da abertura da Assembleia Geral, a ONU foi palco de uma discussão global sobre mudanças climáticas e meio ambiente, algumas das principais preocupações do secretário-geral da instituição, o português Antônio Guterres.

Líderes internacionais, entre eles Macron debateram o futuro das florestas tropicais, das quais a Amazônia é a maior, e lançaram uma aliança para conservá-las. O governo brasileiro esteve ausente da sessão. Bolsonaro leu trecho de carta da liderança indígena Ysani Kalapalo, que já declarou apoio ao presidente e esteve presente no plenário acompanhando a delegação brasileira durante seu discurso. Ele criticou o líder da etnia caiapó cacique Raoni, indicado ao prêmio Nobel da Paz. Segundo ele, o cacique é "peça de manobra" de governos estrangeiros. "Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas", disse Bolsonaro. Já Ysani, que acompanha a delegação brasileira, foi alvo de uma nota de repúdio assinada por representantes de 16 povos do Xingu. Para iniciar e terminar seu discurso de 32 minutos, Bolsonaro agradeceu a Deus (palavra que foi citada quatro vezes) pela sua vida e citou a facada que sofreu durante a campanha eleitoral.

No início do discurso, Bolsonaro criticou o programa Mais Médicos, e disse que se tratava de "um verdadeiro trabalho escravo" que fora "respaldado por associações de direitos humanos do Brasil e da ONU". A delegação de Cuba fez diversas anotações enquanto o presidente discursava criticando o regime daquele país. Depois de cerca de três minutos, se retiraram da sala e deixaram as cadeiras vazias. Em tom irônico, Bolsonaro afirmou ainda que "o socialismo está dando certo na Venezuela: todos estão pobres e sem liberdades" e disse que o Foro de São Paulo "continua vivo e tem que ser combativo", com direito a menções a Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez. Quando o presidente começou a falar sobre ideologia, na parte final de seu discurso, a plateia dispersou a atenção e começou a conversar. Bolsonaro criticou o "politicamente correto" e o que chamou como uma tentativa de "destruir a inocência das crianças, pervertendo a identidade biológica".

"Durante as últimas décadas, nos deixamos seduzir, sem perceber, por sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade, mas o poder absoluto. A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas", afirmou Bolsonaro, repetindo lições do escritor Olavo de Carvalho. Perante lideranças de outros 192 países, Bolsonaro disse que não se pode apagar "nacionalidades" "em nome de um "interesse global abstrato". "Esta não é a Organização do Interesse Global. É a Organização das Nações Unidas", disse. O "novo Brasil", que Bolsonaro disse estar apresentando à plateia, não aceitará "terroristas sob disfarce de perseguidos políticos". O presidente citou o ministro da Justiça, Sérgio Moro, o combate à criminalidade e disse que o "alvo preferencial do crime" no Brasil eram os policiais militares.

"Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o doutor Sérgio Moro", disse. A delegação brasileira com lugar no plenário, para ouvir o discurso do presidente, foi composta pelo chanceler, Ernesto Araújo, a primeira-dama, Michele Bolsonaro, com a indígena Ysani Kalapalo, o deputado e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelson Trad, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.