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24/Set/2019

Indústria brasileira: fraco desempenho preocupa

Ainda que esteja se enfraquecendo atualmente, a produção industrial no mundo cresceu 10% desde 2014, enquanto a atividade das fábricas brasileiras teve contração de 15%, sendo o destaque negativo entre os países pares da América Latina e pesando no desempenho da região no período (-4%). Sem mudança nesse quadro, o País corre sério risco de perder o posto entre os dez maiores países industriais do mundo, alerta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Atualmente, o Brasil ocupa a nona posição. Para além dos efeitos negativos da crise de 2014 a 2016 sobre a confiança e o emprego, os variados choques que a atividade sofreu e os problemas estruturais explicam a disparidade do desempenho industrial brasileiro frente a países vizinhos. E o pior: esses fatores devem levar a indústria, que tem peso de cerca de 11% no Produto Interno Bruto (PIB), à nova retração este ano, após registrar crescimento em 2017 e 2018, influenciada também pela desaceleração global.

O pico de participação da indústria no PIB foi em 1976, com 22,3%, a preços constantes de 2010. Nos países emergentes, excluindo a China, a atividade das fábricas cresceu 8% desde 2014, enquanto na América Latina o desempenho foi de queda de 4%, mas o destaque negativo entre os países mais relevantes da região foi o Brasil. A queda da produção industrial no Brasil não aconteceu em outros países da região. À exceção da Argentina e dos problemas gravíssimos da Venezuela, a crise industrial do Brasil foi uma das mais profundas da América Latina, e a recuperação tem sido das mais frustrantes possíveis também. No México, a produção industrial ficou praticamente estagnada no período, enquanto, no Chile, houve avanço pequeno de 2%, mesmo sendo um dos países mais abertos do mundo, bastante dependente da mineração e, portanto, da China. Na Colômbia, o crescimento foi significativo, de 11%, mesmo com um atentado das Farc em oleodutos em 2015 que impactou bastante o setor. Dentre os motivos que ajudam a explicar a desempenho mais fraco do Brasil em relação aos vizinhos, pode-se citar primeiro os diferentes choques que vem impactando a economia do País.

Com a queda das exportações argentinas, que afeta principalmente produtos manufaturados, a perda está entre 0,6% e 0,7% do PIB em 2017 e 2018, considerando efeitos diretos e indiretos. A interdição parcial da produção da Vale após a tragédia de Brumadinho (MG), deve tirar 0,1% do PIB em 2019 e entre 0,4% e 0,5% da produção industrial. Outro evento extraordinário foi a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, que é difícil estimar o impacto quantitativo, mas foi o marcador temporal da piora das previsões sobre o crescimento. Antes da greve dos caminhoneiros, a indústria brasileira apresentava uma discreta retomada, mas já tinha o pior desempenho entre os países mais relevantes da América Latina. Isso é explicado pelos efeitos da crise econômica iniciada em 2014, que elevou o nível do desemprego e a incerteza na economia, reprimindo a indústria de bens de consumo, destaque positivo entre os outros países latinos analisados.

Outra consequência da crise foi o aumento de incerteza, o que também afetou a indústria de bens de consumo, além da de bens de capital. O desempenho fraco da indústria reflete tanto a demanda quanto problemas estruturais de competitividade e produtividade, como a complexa estrutura tributária, o baixo investimento e o parque produtivo obsoleto. Assim, é cada vez maior o risco de a atividade fechar 2019 com queda na produção física, o que tende também a reduzir o patamar de crescimento da economia como um todo. Já há estimativa de queda entre 0,47% e 1% da produção industrial este ano. Se a indústria voltar a recuar, interrompendo o crescimento de dois anos depois da crise de 2014 a 2016, a recuperação, além de lenta, será descontínua, o que é ainda mais preocupante, porque as motivações para a retomada do investimento são interrompidas. Em 2017 e 2018, o setor industrial avançou 2,5% e 1%, respectivamente. Isso tem agravado a trajetória de desindustrialização que foi iniciada desde meados dos anos 80.

Dos anos 80 até 2017, o valor adicionado da indústria brasileira ao PIB cresceu 24%, na lanterna entre 40 países pesquisados, o que representa mais de 90% da indústria do mundo. A média mundial é de alta de 205%. O risco, com esse crescimento baixo e aquém de outras economias, é o Brasil deixar o "batalhão de elite da indústria mundial". Em 2005, o Brasil tinha participação de 3% da indústria mundial e era a sétima potência do mundo. Em 2018, a participação caiu para baixo de 2% do PIB industrial global, e o Brasil está na nona posição. Países abaixo do Brasil, a exemplo da Indonésia, vem crescendo a participação. Então, o País corre o risco de sair desse bloco de dez maiores países industriais do mundo. A Indonésia, em 10º, pode ultrapassar o Brasil já em 2019. Além disso, nesse contexto, o País tem menos condições de participar das transformações da indústria 4.0, porque é difícil aumentar o investimento em inovação em meio à forte ociosidade, à demanda fraca, e à elevada incerteza, seja do ponto de vista tecnológico, geopolítico ou da política interna. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.