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10/Set/2019

Momento de contradições no agronegócio do País

Vivemos um momento cheio de contradições no agronegócio brasileiro. Por um lado, estão as previsões do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de que só haverá segurança alimentar no planeta nos próximos 10 anos se a oferta de alimentos crescer 20%, considerados os aumentos das populações e da renda per capita dos países emergentes. E, para que esse crescimento da oferta global se materialize, o Brasil terá que aumentar a sua própria em 41% no período. Essa diferença significativa é atribuída a três fatores cuja simultaneidade é rara: temos uma tecnologia tropical sustentável, disponibilidade de terras e, sobretudo, gente empreendedora e capacitada a promover os saltos demandados. Por outro lado, os recentes incidentes relacionados a incêndios e desmatamentos na Amazônia se transformaram em fatores de rejeição aos nossos produtos agrícolas exportáveis, sem falar num “terrorismo”, determinado por um suposto exagero no uso de defensivos agrícolas por parte de nossos agricultores.

O setor rural condena vigorosamente todo desmatamento ilegal. Só é aceitável aquele permitido pelos organismos governamentais responsáveis. De 2004 – ano do auge de desmatamento na Amazônia – até hoje, a derrubada da floresta caiu 72%, embora tenha havido um pequeno aumento nos últimos dois anos. Mas isso não se deve a agricultores. Na sua maior parte, são ilegalidades cometidas por madeireiros, grileiros e até garimpos clandestinos. Mas reconhece que houve um aumento nos últimos anos e encarece ao governo as medidas necessárias para que toda ilegalidade seja punida exemplarmente. No caso dos defensivos, realmente, o Brasil é mesmo um dos maiores consumidores de agroquímicos do mundo, o que se justifica plenamente pela extensão territorial cultivada, pelo fato de fazermos duas safras por ano no mesmo terreno, enquanto os países do Hemisfério Norte fazem apenas uma, e por sermos um país tropical, onde as pragas e moléstias são mais numerosas e agressivas. Mesmo com tudo isso, estudos da FAO mostram que usamos muito menos defensivos por hectare cultivado e por quilo de produto agrícola do que o Japão, a Coreia e vários países europeus.

É uma falácia a acusação de que os alimentos brasileiros são produzidos com mais agroquímicos que os concorrentes. O que tem que ser melhorado é a forma do uso. Basta usar todos os equipamentos exigidos por lei, aplicar a dose certa do “remédio” certo para combater a doença ou as pragas certas que não haverá problema. O movimento ambientalista tem condenado a liberação de grande número de defensivos agrícolas pelo governo federal nos últimos meses. Essa é outra falácia. Nos últimos três anos, de fato, licenciamos mais moléculas do que no passado, mas isso é feito com o máximo cuidado quanto a efeitos eventualmente nocivos ao meio ambiente. Na verdade, estamos apenas recuperando o atraso de anos de burocracia que impedia o registro de defensivos mais modernos e menos agressivos ao ambiente, reduzindo o tempo de avaliação de risco, que chegava a até 10 anos, três ou quatro vezes mais do que nos países concorrentes.

O setor erra na comunicação sobre todos estes temas, e a repetição de notícias distorcidas e até falsas as transformaram em verdades. É essencial corrigir tais desinformações. Os consumidores do mundo todo têm o direito de conhecer a verdade dos fatos para decidirem o que vão comprar, e informá-los adequadamente é um dever dos brasileiros, produtores e governos. Até porque isso tudo pode, de fato, comprometer nosso futuro de grande campeão mundial de segurança alimentar, frustrando aquela expectativa do USDA, que é compartilhada por estudos similares realizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em conjunto com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Os produtores de alguns países europeus não ficaram felizes com o acordo Mercosul-UE.

Não querem sair de sua zona de conforto para enfrentar uma competição em que podem levar desvantagem. Tal reação preocupou alguns governos na União Europeia, que passaram a rediscutir o acordo. E esses três temas – desmatamentos, incêndios e defensivos – mal explicados e mal comunicados, reforçaram essa posição de rediscussão. É absolutamente essencial que se promova uma ampla campanha de esclarecimento sobre a extraordinária sustentabilidade de nossa agropecuária para que as coisas voltem aos eixos. E temos uma enorme quantidade de dados e argumentos que nos favorecem inequivocamente no grande mercado global. A sustentabilidade está influenciando as tendências de consumo de alimentos. Com a verdade sobre a sustentabilidade de nossa produção restabelecida e com o conhecimento das tendências de consumo, o Brasil se posicionará competentemente no cenário da segurança alimentar global. Fonte: Roberto Rodrigues - FGV Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.