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03/Set/2019

Alimentos: mudança de hábitos e novos conceitos

Climatarians são chamados os que "escolhem o que comer de acordo com o que for menos nocivo ao meio ambiente", de acordo com a definição do britânico Cambridge Dictionary. O jornal The New York Times incluiu o conceito em sua lista de novas palavras relacionadas à alimentação em 2015, embora tenha sido mencionada pela primeira vez em 2009. Hoje é um modelo de comportamento urgente. A mudança na dieta pode trazer benefícios ambientais de grande escala que não são alcançáveis unicamente pelos produtores, segundo um recente relatório das Nações Unidas. Mais atitudes que transformam um indivíduo em um climatarian? Tentar calcular a pegada de carbono de cada produto que chega às suas mãos, evitar o desperdício de alimentos e limitar o consumo de carne (não é necessário restringi-lo em 100%).

Os vegetarianos e os que se adaptam a suas múltiplas variedades, incluindo os flexitarianos, entram em geral no conceito de dieta climática. No entanto, climatarians e veganos não são sinônimos porque consumir somente frutas, legumes e verduras não garante o respeito ao meio ambiente se cada gomo de tangerina que se come estiver envolto em plástico: a degradação desses resíduos também contribui para as mudanças climáticas, segundo um estudo da Universidade do Havaí publicado na revista PloS ONE. Também não vale consumir tomates de outra parte do mundo, por causa da emissão de gases do efeito estufa no transporte. Ainda mais importante é conhecer a época dos alimentos, porque o que é produzido fora dela requer mais energia. Todas essas decisões podem ser tomadas por um onívoro, assim como comer espécies capturadas por meio de pesca sustentável ou pequenas porções de carne de frango e suína provenientes de uma criação extensiva.

Não haverá vegano que critique quem faz isso. Um dos alimentos que mais contribuem para as mudanças climáticas é a carne, especialmente a bovina. Um estudo do Centro para a Alimentação e Nutrição Barilla indica que a produção de um quilo de carne resulta em mais de 31 quilos de dióxido de carbono equivalente (a soma de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso). Os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) também são reveladores. A pecuária — especialmente a industrial — é responsável por 14,5% dos gases do efeito estufa. Polui mais que todos os carros, trens, navios e aviões que se deslocam pelo mundo. Também gera 92% das emissões de amônia — o que acidifica o solo, diminuindo sua qualidade —, gasta em um ano a mesma quantidade de água de todas as famílias espanholas em 20 anos e suas rações contribuem para o desmatamento.

A pesquisadora sueca Julia Wärnberg, professora da Universidade de Málaga — que dirige há anos o projeto Predimed Plus, em Málaga, que avalia a prevenção de doenças cardiovasculares por meio da dieta mediterrânea hipocalórica e a promoção da atividade física — destaca a importância de "estarmos cientes" do que levamos para a boca. Wärnberg faz várias perguntas: "Será que realmente precisamos de um abacate que venha do Peru ou de uma manga do Brasil? É necessário beber um suco de laranja quando não há laranjas no verão? Por que não são substituídas por morangos, uvas ou tomates, que são da época e também têm vitamina C?”. Saber de onde vem, como é produzido, a quem prejudica o que comemos ou que esforço precisa fazer a pessoa que os recolhe para nós no campo. E, no caso da carne ou do peixe, como foi tratado o animal de que nos alimentamos.

Isso ajuda a manter um peso saudável, de acordo com a docente, como também a incrementar a conexão com a natureza e seus ciclos, e a entender a importância de cuidar do meio ambiente. A saúde do ser humano e a do planeta andam de mãos dadas, e escolher o tipo de alimento que se coloca no prato também é fazer política. As decisões de hoje afetam o amanhã das próximas gerações. A escala é muito importante. E, mesmo que aquilo que uma pessoa faça seja quase simbólico diante da grande indústria, é uma questão de moral. O último requisito para ser um climatarian é ter tempo. As compras são uma corrida de obstáculos em etapas. Não há uma prateleira onde todos os produtos sustentáveis sejam colocados. É preciso assumir que a vida é trabalho. E que coisas básicas como a nutrição e o descanso também exigem esforço. Isso nos transmite valor em relação ao que consumimos e à ação de consumir. Fonte: El País. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.