06/Ago/2019
O temor de uma guerra cambial na economia mundial assustou os investidores nesta segunda-feira (05/08) e deve ter implicações mais amplas para o mercado internacional de moedas e a atividade econômica do planeta, que pode entrar em recessão. Nos países emergentes, há possibilidade de enfraquecimento mais duradouro das moedas, que devem permanecer sob severa pressão, com repercussões nas políticas monetárias dos bancos centrais. Alguns, inclusive, poderiam adiar cortes de juros e até mesmo subir as taxas. Para o Brasil, a visão é que a trajetória de queda da Selic deve prosseguir, embora o Real possa testar níveis mais altos. Não é por acaso que o termo "guerra cambial" apareceu com destaque no vocabulário dos mercados nesta segunda-feira (05/08). Desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pegou todos de surpresa na semana passada, ao anunciar a imposição, a partir de 1º de setembro, de uma tarifa de 10% sobre os US$ 300 bilhões em importações chinesas que ainda não foram alvejadas pela alfândega norte-americana, a única mudança concreta que se observou na China em reação à ameaça foi o rompimento pelo dólar da marca de 7 yuans nesta segunda-feira (05/08).
Informações sobre uma suposta orientação do governo da China a empresas estatais para interromper compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos ou dando conta de que o governo chinês estaria se questionando sobre dar continuidade às tratativas com o governo norte-americano vieram de bastidores, mas também contribuíram para aumentar a preocupação dos agentes no mercado financeiro mundial. O Banco do Povo da China (PBoC) atribuiu o rompimento pela moeda norte-americana da marca de 7 yuans (o que não ocorria desde 2008) a medidas unilaterais e de protecionismo comercial e à imposição de tarifas. Pouco depois, o Banco Central chinês alegou que não usa a desvalorização do yuan como ferramenta em disputas comerciais e reforçou a narrativa padrão de que a taxa de câmbio é determinada pelo mercado. Porém, nada impediu que analistas enquadrassem o movimento da moeda chinesa como fruto de uma permissividade proposital do PBoC.
Em outras palavras, predomina a visão de que a instituição "deixou" o yuan se enfraquecer a um nível que, em ocasiões anteriores, interveio para evitar. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou um discurso menos comedido e disse que trata-se de manipulação cambial. Sem deixar claro se estava sugerindo que o Federal Reserve (Fed) fizesse o mesmo com o dólar, Donald Trump ainda perguntou se o Banco Central norte-americano estava atento à situação. São reiteradas as manifestações públicas de Trump reclamando de juros considerados por ele como “altos demais” e demandando um corte da taxa básica pelo Fed. Ao passo que desencadeou uma onda mundial de aversão a risco e faz derreter os mercados acionários, o recrudescimento das tensões entre China e Estados Unidos disparou como contrapartida a busca por ativos considerados seguros, como bônus soberanos de países desenvolvidos e moedas como o iene e o franco suíço.
A tal ponto que motivou uma reunião de emergência no Japão em que autoridades do Ministério das Finanças, do Banco do Japão (BoJ) e da Agência de Serviços Financeiros (FSA) se comprometeram com a adoção de ação apropriada se a apreciação excessiva do iene tiver um impacto negativo sobre a economia e as finanças do país. Na renda fixa, as compras de Treasuries se intensificaram tanto que o diferencial negativo no intervalo de referência do Federal Reserve (Fed) da curva de juros, entre a T-bill de 3 meses e a T-note de 10 anos, se ampliou rapidamente para perto dos 30 pontos-base. Os mercados emergentes vêm sendo penalizados desde a semana passada pela onda de aversão ao risco e o movimento pode se intensificar ainda mais. Modelo do Morgan Stanley mostra que a alocação em moedas destas regiões (Real, peso mexicano, lira turca e rand da África do Sul) caiu para 23% desde que o Fed se mostrou menos "dovish" e Donald Trump anunciou novas tarifas para a China.
O aumento na volatilidade desde então mostra que cresceram os movimentos mais defensivos. Segundo o grupo financeiro holandês ING, o risco de uma guerra comercial terá amplas implicações para o mercado internacional de moedas e, especialmente, nas divisas de emergentes, que tendem a se enfraquecer. A desvalorização do yuan foi considerada como uma decisão deliberada do governo chinês e os investidores já incluíram o risco de movimentos semelhantes em suas listas de temores. Segundo a Capital Economics, a guerra cambial, ao enfraquecer as moedas de emergentes, oferece risco para as políticas monetárias da região. Alguns países, como México e Indonésia, podem adiar cortes de juros, enquanto outros, como Colômbia, podem até subir as taxas. Mas, para o Brasil, o Banco Central deve continuar na trajetória de reduzir a Selic, pois a instituição tem sinalizado maior preocupação apenas quando há risco de o Real enfraquecido pressionar a inflação.
Segundo o banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH), as moedas de emergentes devem permanecer sob severa pressão. Os fatores por trás do recente enfraquecimento destas moedas vão continuar em jogo e o BBH está pessimista ("bearish", no jargão do mercado financeiro) com os ativos de emergentes. O banco dinamarquês Danske vê que a tendência de dólar forte deve se provar mais persistente. Segundo a BK Asset Management, o perigo representado pela simultaneidade de eventos preocupantes mundo afora é resumido da seguinte forma: a escalada de tensões comerciais, os protestos em Hong Kong, o movimento aparentemente implacável em direção a um Brexit sem acordo e a abertura de uma segunda frente na guerra comercial com a Europa, justamente quando o setor industrial da região está embicando para dentro de uma recessão, poderiam todos se combinar em uma possível recessão na Europa e na Ásia e uma desaceleração acentuada no crescimento dos Estados Unidos no segundo semestre deste ano. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.