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06/Ago/2019

Guerra comercial EUA x China deverá se prolongar

O presidente dos EUA, Donald Trump, repeliu o conselho de seus consultores para aumentar as tarifas sobre a China, depois de uma troca acalorada na qual ele insistiu que as arrecadações eram a melhor maneira de fazer com que Pequim cumprisse as exigências dos EUA. Os EUA estão agora preparados para impor tarifas de 10% sobre as importações chinesas que não são atualmente tributadas a partir de 1º de setembro. As linhas de batalha estão endurecendo também em Pequim, o que aumenta as perspectivas de que um acordo pode ser adiado para depois da eleição presidencial dos EUA, no próximo ano. Trump, que especulou que os chineses podem estar esperando para negociar com um possível sucessor democrata, diz que uma economia americana forte dá a Washington a vantagem se a disputa se arrastar. Mas consultores argumentaram que uma nova rodada de tarifas poderia prejudicar a economia dos EUA e um estreitamento adicional de relações com a China. As últimas negociações comerciais em Xangai foram breves e improdutivas.

O representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, estiveram na China por pouco mais de 24 horas, e seu itinerário consistiu em um jantar na noite em que chegaram e uma reunião que durou cerca de três horas. Nenhuma das equipes foi acompanhada por grandes grupos de colaboradores, necessários para discussões técnicas detalhadas, como nas rodadas anteriores. As conversas na semana passada envolveram menos de 10 pessoas, incluindo intérpretes. Depois de voltar, os negociadores comerciais e outros assessores reuniram-se na quinta-feira à tarde para informar Trump sobre as negociações. Lighthizer e Mnuchin disseram que as conversas não produziam o tipo de resultado que Trump pretendia. Trump, que tinha um comício de reeleição marcado para Ohio mais tarde naquele dia, queria garantir aos agricultores - que foram os mais atingidos pela guerra comercial, uma vez que a China reduziu as compras de milho, soja e carne suína dos EUA - que ele ao menos tinha garantido compromissos concretos dos chineses de que eles iriam aumentar suas compras agrícolas dos EUA.

Para sua frustração, Lighthizer e Mnuchin não puderam lhe dar nenhuma garantia. "Tarifas", disse Trump à sua equipe. Entre os presentes estavam seu assessor de segurança nacional, John Bolton, o assessor econômico Lawrence Kudlow, o consultor chinês Peter Navarro e o chefe de gabinete Mick Mulvaney. Todos eles, exceto Navarro, se opuseram inflexivelmente às tarifas. Isso estimulou um debate que durou quase duas horas. Pequim insiste que as tarifas devem ser retiradas em troca de concessões exigidas pelos EUA. O presidente norte-americano disse que sua paciência se esgotou e sustentou seu argumento de que as tarifas são a melhor forma de alavancagem. Seus assessores acabaram cedendo, e depois ajudaram o presidente a redigir o tweet anunciando uma extensão das tarifas para basicamente todas as importações chinesas. A decisão ocorreu após semanas de aconselhamento de alguns conselheiros de Trump, incluindo seu genro Jared Kushner, para colocar as negociações na China em segundo plano, de acordo com as pessoas e um ex-funcionário do governo.

Os conselheiros do presidente pediram que Trump se concentre em outros pactos comerciais, incluindo o acordo pendente com o Canadá e o México, que ainda precisa da aprovação do Congresso, bem como conversas com o Japão, que nas últimas semanas ganharam força. O mercado de ações é um dos principais indicadores de confiança econômica de Trump. A determinação de Trump de impor as tarifas pode ter sido reforçada pela decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), apenas um dia antes, de cortar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual. Os efeitos econômicos da disputa comercial, pelo menos aos olhos do presidente Trump, não foram enormes para a economia dos EUA e ele acha que o Fed está baixando as taxas para acomodar sua política comercial, segundo o Peterson Institute for International Economics. Talvez isso o tenha encorajado a aplicar mais tarifas. A resposta, no entanto, foi rápida. As ações despencaram nos EUA com a perspectiva de uma prolongada briga comercial, e grupos empresariais alertaram sobre o impacto nos gastos do consumidor.

Produtos de consumo que haviam sido poupados em rodadas anteriores - incluindo smartphones, roupas, brinquedos e videogames - agora estarão sujeitos a tarifas. O Conselho Empresarial EUA-China, que representa empresas que fazem negócios na China, expressou temores sobre o impacto das tarifas em seus membros. A China não importa o suficiente dos EUA para impor uma taxa equivalente nas tarifas, de modo que a provável retaliação poderia incluir "aumento do escrutínio regulatório, atrasos nas licenças e aprovações e discriminação contra as empresas norte-americanas em licitações governamentais", segundo o presidente da entidade, Craig Allen. A China tem suas próprias pressões na frente doméstica. A decisão do governo Trump de prosseguir com a venda de armas a Taiwan, que Pequim vê como uma província separatista a ser reunificada com o continente um dia, é carta nas mãos dos líderes do governo chinês que desconfiam de Trump.

O Ministério das Relações Exteriores da China acusou Washington de estar por trás de protestos em massa contra o governo em Hong Kong, com uma porta-voz chamando o movimento de "trabalho dos EUA". Nos círculos do governo chinês, há fortes vozes contra qualquer acordo com o governo Trump, segundo Myron Brilliant, chefe de Assuntos Internacionais da Câmara de Comércio dos EUA. A cada escalada de qualquer governo, os dois lados se distanciam e as perspectivas de um acordo abrangente de alto padrão se tornam mais remotas. Apesar da deterioração nas negociações, Trump mostrou confiança na posição dos EUA. "As coisas estão indo muito bem com a China", disse o presidente norte-americano, no Twitter. "Eles estão nos pagando dezenas de bilhões de dólares, possibilitados por suas desvalorizações monetárias, e injetando enormes quantias de dinheiro para manter seu sistema funcionando. Até agora, nosso consumidor não está pagando nada - nem inflação. Não há ajuda do Fed!", disse Trump. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.