02/Jul/2019
Foram necessários 20 anos de negociações para chegar a um acordo sobre um pacto comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Mas, uma implementação vencedora pode levar anos, com ambientalistas e sindicatos fazendo da aprovação final um desafio. Na Europa, alguns políticos e ativistas afirmam que a abertura dos mercados domésticos às exportações agrícolas brasileiras irá alimentar o desmatamento na Amazônia. Agricultores e pecuaristas da França à Polônia dizem que estão sendo sacrificados para garantir mercados para as poderosas exportações industriais da Europa, como automóveis e maquinário. Segundo o Greenpeace Internacional, negociar mais carros por vacas nunca é aceitável quando leva à destruição da Amazônia. Segundo o Parlamento Europeu com o Partido Verde da Alemanha, a declaração de intenções sobre o acordo climático de Paris apenas melhora a imagem de Bolsonaro enquanto ele continua a desmatar a Amazônia.
Na América do Sul, políticos de esquerda e sindicatos dizem que o acordo prejudicará a geração de empregos devido a um influxo de importações europeias mais baratas. Segundo Alberto Fernández, candidato à presidência da Argentina, a única coisa que o acordo trará é mais pesar para os argentinos. A única chance de progresso é vender grãos e carne bovina, mas o país precisa de indústrias, afirma ele. O acordo mostra que negociações comerciais ainda são possíveis apesar do crescente protecionismo mundial, já que a União Europeia acrescenta outro acordo depois de fechar pactos com o Canadá, México, Japão e Cingapura nos últimos anos. Mas, o acordo com o Japão teve efeito provisório 18 meses depois de um acordo político. O Canadá levou quase quatro anos para a implementação provisória. Os obstáculos a esses acordos ressaltam o difícil caminho que os negociadores da União Europeia e do Mercosul têm para implementar um acordo comercial para criar um bloco comercial de 780 milhões de pessoas, com uma economia de US$ 21 trilhões.
A União Europeia tem que submetê-lo aos 28 países membros do bloco para aprovação em meio a um aumento de partidos que se opõem à globalização. No ano passado, o governo populista da Itália afirmou que não iria ratificar o acordo do Canadá, uma medida que pode anular todo o acordo. Com essa reação em mente, os negociadores da União Europeia fizeram um grande esforço para apaziguar tanto os líderes europeus quanto seus pares sul-americanos, garantindo o acordo comercial mais benéfico do bloco até o momento. A previsão é retirar mais de 4 bilhões de euros (US$ 4,6 bilhões) em custos tarifários para exportadores europeus, quatro vezes mais do que o acordo com o Japão, que entrou em vigor em fevereiro. O acordo protege muitas marcas agrícolas europeias do queijo Comté da França ao famoso presunto italiano de Parma. O vinho e o azeite europeus terão acesso isento de impostos à América do Sul.
O Mercosul permitiria que as organizações não-governamentais supervisionem as leis ambientais e trabalhistas e implementem efetivamente o Acordo de Paris. O presidente francês, Emmanuel Macron, que pediu à União Europeia que salvaguardasse os agricultores e as metas climáticas do bloco, considerou o acordo uma boa medida, dado que as exigências feitas por ele foram levadas em conta. Para a União Europeia, o acordo oferece acesso mais livre a um mercado de 260 milhões de pessoas. O acordo visa dar tempo aos fabricantes do Mercosul para se prepararem para as importações europeias, reduzindo gradualmente as tarifas ao longo de vários anos. O presidente argentino, Mauricio Macri, que liderou a pressão do Mercosul pela negociação, afirmou que o acordo estimularia o crescimento econômico com o influxo de investimentos, enquanto abre caminho para a Argentina aprovar mais reformas pró-mercado. O Brasil se beneficiaria de uma das cotas mais generosas da União Europeia para importação de carne.
Analistas políticos afirmam que o acordo terá o apoio da influente bancada ruralista no Congresso e até mesmo o apoio dos membros do Partido dos Trabalhadores de áreas rurais. O governo deve ter uma maioria fácil para esse tipo de acordo. Para os patrocinadores do acordo, o maior desafio da América do Sul virá na Argentina. Tem uma das economias mais fechadas do mundo, com 40% da população apoiando o protecionismo. Macri é considerado essencial para a implementação. Seria muito difícil imaginar que fosse aprovado sob uma administração da oposição (de Fernández). Sindicatos poderosos, intimamente aliados aos peronistas de Fernández, se opõem ao acordo comercial. E não são apenas grandes indústrias. Pequenos produtores do setor de couro por exemplo, afirmam que irão pressionar os legisladores a rejeitar o acordo. Eles consideram que será a destruição da indústria Argentina. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.