05/Dec/2025
Escrevendo da Europa, fica evidente como os riscos deixaram de ser variáveis acessórias e hoje funcionam como ativos estratégicos que definem precificação, acesso a mercados e percepção de confiabilidade do Brasil como fornecedor global de alimentos e commodities. Depois de quase três décadas observando, analisando e atuando junto à formação de preços, mercados internacionais e gestão de riscos, é impossível não afirmar algo que muitos ainda resistem a enxergar: competitividade agrícola deixou de ser sobre somente sobre produzir; passou a ser sobre prever, proteger e sustentar valor. O mundo mudou. As bolsas de Chicago, Nova York e Londres precificam clima, safras e contextos macroeconômicos. A Europa, como bloco, precifica reputação e governança. E cadeias globais passaram a precificar sucessão, compliance e exposição sistêmica. É aqui que muitos setores ainda subestimam a profundidade da agenda de risco. A nova geografia da competitividade exige domínio de uma matriz cada vez mais complexa:
- Risco climático
- Risco regulatório e de rastreabilidade
- Risco de mercado, incluindo geopolítica e tarifas
- Risco logístico
- Risco operacional
- Risco reputacional
- Risco sistêmico e financeiro, com raízes socioeconômicas
- Risco tributário, ampliado pela reforma e sua incerteza normativa
- Risco tecnológico e cibernético
- Risco de inteligência e capital humano
- Risco de sucessão e continuidade estratégica
- Risco de legitimidade e ESG
O que vejo, analisando de dentro do setor há anos, é que esses riscos não caminham sozinhos. Eles se amplificam entre si. Quando clima falha, logística pressiona, reputação fragiliza e capital se retrai. Quando governança é frágil, sucessão quebra continuidade. Quando inteligência de gestão não evolui, o risco sistêmico se materializa, como vimos nas recuperações judiciais recentes. E aqui está a virada conceitual que precisa ser dita com clareza: Durante muito tempo, mercados absorveram erros, e com isso negócios ruíram ou foram reposicionados. Mais do que nunca, gestão precisa ser entendida como pilar de segurança porque impacta diretamente o resultado final das operações agro. O Brasil tem atributos que o mundo reconhece: escala, eficiência técnica, capacidade de adaptação e famílias produtoras resilientes. Mas só converte isso em resultado quando existe mitigação de riscos como cultura, não como reação.
Mitigação não é planilha. É leitura estratégica, antecipação, governança, timing, comportamento de mercado, diplomacia comercial e consistência operacional. Essa visão não é teórica. Ela vem de anos acompanhando ciclos, volatilidade, crises, reorganizações, fundos, bancos, tradings e cadeias globais. E tem amadurecido ainda mais agora, enquanto pesquiso e escrevo o livro que lançarei em 2026 sobre a relação entre agro, mercado e gestão de riscos. Sigo aprofundando nas minhas redes sociais cada tipo de risco, seus desdobramentos e como transformá-los em vantagem real para o Brasil no comércio internacional. Porque a verdadeira estratégia não está em reagir ao mercado, mas em entender o que o molda. E é nesse ponto que o agro brasileiro pode deixar de ser apenas fornecedor e tornar-se referência global em inteligência aplicada. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.