03/Dec/2025
Diante de uma demanda menor que a esperada quanto à renegociação das dívidas de produtores rurais com recursos subsidiados pelo Tesouro, o Banco do Brasil vai a "campo" tentar entender os motivos do represamento dos recursos. O banco iniciou nesta semana uma rodada de conversas com representantes do setor produtivo do Rio Grande do Sul e do Paraná. O objetivo é diagnosticar os motivos para o baixo apetite do crédito com recursos públicos e dar tração às operações. Quase todas as instituições financeiras estão com baixa demanda nessa linha, com uma demanda muito inferior aos R$ 12 bilhões que foram estimados. Há mais operações a juros livres sendo demandadas, ao contrário da expectativa de que os recursos controlados poderiam se esgotar rapidamente. Essa é a realidade de todas as instituições financeiras.
A Medida Provisória 1314/2025, que autoriza a renegociação das dívidas de produtores rurais e cooperativas agropecuárias, liberou R$ 12 bilhões em recursos do Tesouro para renegociação e liquidação das operações. Do montante total, o BB recebeu R$ 4,3 bilhões em recursos controlados da linha operada pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As operações têm prazo de pagamento de até nove anos com juros de 6% a 10% ao ano e limite de valores a serem renegociados conforme porte do produtor. Para acessar os recursos, os produtores e cooperativas têm de comprovar perdas e prejuízos decorrentes de intempéries climáticas nos últimos cinco anos. Dos R$ 4,3 bilhões que o Banco do Brasil recebeu para operar em renegociações, R$ 1,222 bilhão já foi aprovado e outros R$ 522 milhões estão em análise ara liberação. As operações iniciaram em 27 de outubro.
O banco tem em torno de R$ 1,8 bilhão em processo adiantado, o que está abaixo da expectativa. Começou com uma exigência maior de garantias atreladas às operações e à medida que avançou com as renegociações, está inclusive revendo e tentando olhar mais cada situação, o que tem facilitado esse processo, e atuando de uma forma muito simplificada. No Rio Grande do Sul, o BB terá reuniões a partir desta quarta-feira (03/12) com a Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Ocergs). O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, deve acompanhar as agendas, bem como representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
A ideia é tentar entender no Rio Grande do Sul, que é o principal foco, porque a demanda não está no patamar imaginado. A expectativa do banco é desembolsar os R$ 4,3 bilhões recebidos para operar a linha, mas o desempenho vai depender da conjuntura. Entre as hipóteses aventadas para o baixo apetite dos produtores está uma superestimativa da demanda de crédito para renegociação pelos produtores rurais. O volume de recursos que foi muito discutido envolvia mais recursos a taxas livres do que controladas quando foi estabelecido o teto de R$ 3 milhões por mutuário para enquadramento no crédito com recursos públicos, talvez agricultura familiar e médios produtores já tenham sido atendidos pelas diferentes medidas, mas a ideia é tentar entender diretamente nos Estados em que o Banco do Brasil tem mais operações que se enquadram nas condições.
Ainda é cedo para ter noção real do que está ocorrendo, talvez em janeiro, seja possível ter uma avaliação mais precisa, porque muitas parcelas devem vencer somente em dezembro e janeiro. Na linha de crédito para renegociação de dívidas rurais com recursos livres das instituições financeiras a taxas livres, o BB já aprovou R$ 13,5 bilhões em operações de 21 de outubro até a última sexta-feira e tem outros R$ 4,8 bilhões na esteira sob análise. São R$ 18,3 bilhões em operações aprovadas e na esteira com recursos livres. Essas operações estão rodando bem e estão próximas do patamar esperado. A expectativa é alcançar nas próximas semanas entre R$ 20 bilhões e R$ 24 bilhões em operações com taxas livres. Há chance de atingir esse patamar ainda em dezembro. Na modalidade com taxas livres, a principal estratégia é a oferta de recursos com taxas pós-fixadas, considerando a tendência de queda na taxa básica de juros, a Selic.
Do montante total, cerca de 40% dos recursos foram renegociados a taxas pós-fixadas. Tudo indica que haverá redução na Selic no primeiro semestre do ano que vem, se o produtor optar por uma taxa pós-fixada, considerando a Selic hoje de 15%, ele tem probabilidade de ter ganho com menor taxa, o que ao mesmo tempo dá uma melhor capacidade de pagamento futuro a ele. O BB foca em quatro tipos de clientes para as operações de renegociações. São eles: os produtores rurais com inadimplência superior a 90 dias, produtores com inadimplência até 90 dias, produtores com atraso no pagamento há menos de 15 dias e produtores ainda com adimplência, porém com fluxo de caixa apertado e operações a vencer no fim deste ano e início do ano que vem. Estes últimos dois grupos têm menor impacto nas provisões de ativos problemáticos e no indicador de inadimplência do banco.
Ao todo, 83 mil produtores estão no alvo do banco para a renegociação de operações de crédito rural, estando a maioria com os pagamentos das parcelas em dia, mas enquadrados nas condições possíveis para prorrogação e liquidação de dívidas. Deste total, apenas 5,7 mil clientes possuem dívidas vencidas há mais de 90 dias. O banco procura conversar proativamente com todos os clientes que se enquadram nesses quatro perfis, levando as condições das linhas de renegociação, mesmo para aqueles que estão 100% adimplentes para entender a necessidade do fluxo de caixa de cada um e da capacidade de pagamento. As redes de agências do Banco do Brasil no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, além de fazer busca ativa sobre os produtores aptos à renegociação, levantam a base de produtores ainda não atendidos. A maior concentração de operações passíveis de serem renegociadas com recursos subsidiados está no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, conforme os critérios de municípios e produtores aptos à renegociação.
Há maior potencial de crescimento na demanda pela linha do BNDES com recursos controlados no Rio Grande do Sul. Dentro do público do BB, dentre os quatro perfis de clientes que traçados, a demanda ainda não chegou. Essas renegociações das dívidas rurais devem ajudar a aliviar a inadimplência da carteira de agronegócio do BB, que hoje está concentrada em operações com recursos livres sobretudo de grandes produtores em especial nos estados de Mato Grosso, Goiás, Bahia e São Paulo. É um menor número de produtores, mas com volume maior de operações e endividamento. O peso do pequeno e do médio produtor na inadimplência do BB é mínimo. No Rio Grande do Sul, apesar dos eventos climáticos extremos consecutivos, o indicador de inadimplência é menor que o de outros Estados, em virtude de medidas de renegociações já ofertadas anteriormente pelo Executivo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.