ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

19/Nov/2025

TFFF: entrevista com Marcelo Marangon - banco Citi

Em Belém para eventos relacionados à COP30, o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon, disse ver demanda no mercado financeiro para os títulos que serão emitidos pelo Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF). "Tem um potencial enorme. (...) Vejo (demanda). O fundo tem um objetivo de preservação das florestas e tem uma rentabilidade. Ele é uma alocação de capital produtiva, em que você vai ter uma governança muito sólida, um uso de recurso com destino específico e que vai ter a remuneração do capital", disse o executivo. O TFFF é uma das grandes apostas do governo para essa cúpula da ONU sobre mudanças climáticas.

Trata-se de um mecanismo que deve gerar recursos para pagar os países que protegem as florestas essenciais para conter o aquecimento global. Para funcionar, o fundo precisa atrair US$ 25 bilhões de governos e entidades filantrópicas. Após ter esse montante inicial, seriam emitidos mais US$ 100 bilhões em títulos para o setor privado. Por ora, foram levantados US$ 5,5 bilhões entre Brasil, Indonésia, Noruega, França e Portugal. Marangon afirmou também que, diante de um cenário internacional complexo, o Brasil está bem-posicionado para alavancar investimentos relacionados à transição energética. "Somos um dos principais países do mundo em capacidade de atrair esses investimentos. Tem uma agenda positiva muito sólida para o País." Segue a entrevista:

O financiamento para transição energética tem vários entraves: os projetos necessitam de grande volume de investimentos, as taxas de retorno são incertas e de longo prazo. Como vocês conseguem trabalhar?

Marcelo Marangon: O mercado evoluiu bastante no entendimento dos principais desafios do financiamento climático. No passado, a gente falava só em investimentos em sustentabilidade e em transição energética. Hoje a gente fala em taxas adequadas de retorno para o capital alocado nesses projetos, fala em parceria público-privada, em Ecoinvest (programa do governo federal para impulsionar investimento privado em projetos sustentáveis), que é um blended (mistura) finance. Nele, para cada real colocado pelo Tesouro, você alavanca 6,5 vezes o capital privado.

O sr. avalia como central que o capital público entre primeiro?

Marcelo Marangon: Grande parte dessa ambição de US$ 1,3 trilhão (valor considerado necessário para países em desenvolvimento se adaptarem às mudanças climáticas e fazerem a transição energética) vai vir do setor privado. Agora, é importante que se tenha um capital público ou concessionário para fomentar a locação do capital privado. Nos diversos momentos dos projetos, seja na estruturação, no desenvolvimento ou operação, você precisa de diversas soluções financeiras com diferentes graus de risco. No caso de minerais críticos, por exemplo, entre a exploração e a operação em si, é longo caminho, com muitos riscos. Então, precisa diluir esse risco, o que pode ser feito atraindo capital concessionário - que tem uso de recurso específico para fomentar a sustentabilidade. Isso alavanca o capital privado. É o capital público que mitiga risco. Você tem o BNDES participando ativamente nesses projetos.

Sendo CEO de um banco norte-americano, como vê as ações do governo dos EUA contra as medidas de sustentabilidade ambiental? Prejudica o financiamento de projetos na área?

Marcelo Marangon: O ambiente econômico, global e local, tem suas variáveis. A gente está vivendo aqui no Brasil um momento de transição de taxa de juros. Tem uma taxa alta, que torna mais desafiador o retorno dos projetos. Mas temos uma gama de projetos muito bem mapeados em vários setores. A nossa missão é apoiar o desenvolvimento dos nossos clientes, seja nos Estados Unidos, seja aqui.

Quão complicado está o cenário internacional, com as medidas de Trump, com diversos países em situação fiscal preocupante, além de crises políticas, como na França?

Marcelo Marangon: É interessante porque o Brasil, em termos relativos, está muito bem-posicionado. Fazendo aqui a ponte com a COP, temos uma matriz energética limpa, uma biodiversidade enorme e um grande potencial de investimento em data center, minerais críticos e energia renovável. Somos um dos principais países do mundo em capacidade de atrair esses investimentos. Tem uma agenda positiva muito sólida para o País.

Como avalia o TFFF? Acha que vai haver demanda pelos títulos no mercado?

Marcelo Marangon: Nós aplaudimos a iniciativa. Achamos que ainda veremos novos países contribuindo para o fundo e que, sim, tem um potencial enorme. Esse é um dos exemplos (para destravar o financiamento climático).

Mas acredita que haverá demanda pelos papéis quando eles forem emitidos para o setor privado?

Marcelo Marangon: Vejo (demanda). O TFFF tem um objetivo de preservação das florestas e tem uma rentabilidade. Ele é uma locação de capital produtiva, em que você vai ter uma governança muito sólida, um uso de recursos com destino específico e que vai ter a remuneração do capital. Então, esse é um ótimo exemplo de capital privado com capital público. Você tem a indução da atração do capital privado através de contribuições de nações para preservação de florestas.

A questão então seria levantar, primeiro, os US$ 25 bilhões com países?

Marcelo Marangon: É. O primeiro passo agora é trazer volume dos países. A gente tem aí US$ 5,5 bilhões, mais países estão discutindo (fazer aportes). A Alemanha já sinalizou que vai contribuir com um volume relevante. Os países têm o seu processo de governança para as aprovações. A gente espera que esse volume aumente.

Fonte: Broadcast Agro.