18/Nov/2025
Para minar a lucratividade de crimes ambientais como o desmatamento, o Brasil precisa ampliar o combate às redes de lavagem de dinheiro que os sustentam. É o que conclui estudo do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, que defende a inclusão de frigoríficos, serrarias e exportadoras no rol de empresas obrigadas a reportar operações financeiras suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A pesquisa "Lavagem de Dinheiro e Crimes Ambientais" analisa o elo econômico que conecta o desmatamento, o garimpo e a pecuária ilegais à economia formal. O relatório aponta que a estratégia mais eficaz, diante da dificuldade da fiscalização presencial em áreas remotas, é a "asfixia financeira" das redes criminosas. O estudo revela que a criminalidade ambiental evoluiu para operar por meio de estruturas comerciais e logísticas complexas, aproveitando-se de brechas regulatórias. O diagnóstico aponta para uma defasagem entre o perfil da criminalidade e o desenho regulatório atual. A criminalidade ambiental é cada vez mais sofisticada. Hoje, ela se infiltra nas cadeias produtivas de forma estruturada, e o combate precisa acompanhar essa mudança.
Os números comprovam a dimensão do problema. De acordo com o Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI), os crimes ambientais movimentam entre US$ 110 bilhões e US$ 281 bilhões anuais. Estimativas do Banco Mundial elevam esse impacto para cerca de US$ 1 trilhão por ano, configurando um sistema financeiro ilícito global de "alto retorno e baixo risco" que fragiliza instituições democráticas. O estudo detalha como esse fluxo ocorre em setores importantes da economia brasileira. Na cadeia do ouro, a "presunção de boa-fé" na primeira aquisição do metal, recentemente declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), era um gargalo que facilitava a lavagem do minério ilegal. Apesar de avanços recentes, como novas normas do Banco Central que definem operações suspeitas já na primeira compra, os controles ainda são insuficientes para conter a contaminação da cadeia de suprimentos. Situação ainda mais crítica é a das cadeias da madeira e da pecuária, que seguem praticamente fora do radar da Lei de Lavagem de Dinheiro.
Serrarias, madeireiras e exportadoras não são "sujeitos obrigados", ou seja, não precisam conhecer seus clientes ou reportar transações atípicas ao Coaf. Na pecuária, o mecanismo ilegal mais comum é a "triangulação de gado", na qual bovinos criados em áreas de desmatamento ilegal são transferidos para fazendas regulares antes da venda para frigoríficos. Iniciativas como o programa "Boi na Linha", que centraliza nos frigoríficos o dever de bloquear fornecedores envolvidos com ilegalidades ambientais, são apontadas como um protótipo do caminho a seguir. No entanto, sem obrigações legais de prevenção à lavagem de dinheiro, a efetividade dessas medidas é limitada. O relatório do Instituto Esfera defende um novo paradigma no combate a esses crimes: a ampliação do conceito de "conhecer seu cliente" para "conhecer sua cadeia de suprimentos". A implementação dessas mudanças é considerada crucial para transformar a lógica de alto lucro e baixo risco que hoje impera nos crimes ambientais, protegendo tanto o meio ambiente quanto a integridade do sistema econômico nacional. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.