14/Nov/2025
De acordo com dados do Panorama da Saúde Mental 2025, feito pelo Instituto Cactus em parceria com AtlasIntel, que ouviu 10 mil pessoas com mais de 16 anos de todas as regiões do País, três em cada quatro brasileiros (74,3%) dizem já ter vivenciado as consequências diretas de algum evento climático extremo, como queimadas, enchentes, tempestades ou ondas de calor, e 42% afirmam que as mudanças climáticas já tiveram ou têm impacto em sua saúde mental. Nervosismo e preocupação intensa ao pensar nas mudanças climáticas e nos riscos para os seres humanos é o que caracteriza a chamada ecoansiedade. Esses sintomas são relatados por mais da metade (58%) dos brasileiros. Cerca de um terço das pessoas também diz enfrentar dificuldades para dormir, trabalhar ou se relacionar socialmente em função da ansiedade climática. A ansiedade ambiental não é vista como doença. O termo é usado porque ela está associada à angústia e à preocupação diante da percepção de uma ameaça iminente, acompanhada pela sensação de impotência por não haver ferramentas suficientes para enfrentar ou reduzir os riscos ambientais. Trata-se de uma reação individual à crise climática.
A maior percepção da gravidade dos impactos climáticos também está relacionada com a piora da saúde mental, mostra a pesquisa: ou seja, quem considera os impactos das mudanças climáticas muito graves tem mais sinais de sofrimento psicológico. As mudanças climáticas já têm um impacto direto no cotidiano e na saúde emocional de milhões de brasileiros. Não se trata apenas de uma questão ambiental, mas também humana e social. Quando uma família perde a casa em um desastre, ou quando uma chuva mais forte desperta o medo de perder o pouco que tem, isso também afeta o equilíbrio mental. Deixa de ser uma questão apenas individual, e passa a ser uma questão coletiva, a partir do momento em que começa a afetar as relações sociais. A qualificação da saúde mental da população é medida pela pesquisa por meio do índice contínuo de avaliação da saúde mental (ICASM), que permite a avaliação de dinâmicas relacionadas ao bem-estar emocional dos brasileiros a partir da agregação de respostas dos entrevistados a um questionário de saúde. O índice gera uma pontuação de 0 a 1.000: quanto menor a pontuação, piores são os reflexos na saúde mental.
O ICASM da população que sente o impacto da crise ambiental é de 596 pontos, ante 744 para os que não percebem os efeitos, evidenciando a relação entre as mudanças climáticas e a saúde mental. As transformações do clima ameaçam a segurança, a moradia e os vínculos comunitários; por isso, trabalhar para mitigar as mudanças climáticas é também cuidar da saúde mental individual e coletiva. As mulheres sentem mais os efeitos da crise climática em sua saúde mental, com quase metade delas relatando se preocupar diariamente com o tema (44% delas, ante 28% dos homens) e ter ansiedade relacionada à responsabilidade pessoal em ajudar a resolver problemas ambientais (47% delas, ante 25% deles). A interpretação é de que a maior inquietação entre a população feminina é um reflexo da sobrecarga de cuidados e pode estar relacionada à apreensão delas a respeito das futuras gerações. As mães são muito mais preocupadas do que os pais nesse debate. A pesquisa aponta ainda que a preocupação diária com as mudanças climáticas cresce linearmente com a idade, variando de 25,8% entre jovens de 16 a 24 anos até 49,7% entre idosos (mais de 60 anos).
É mais difícil ver a questão do meio ambiente chegar com naturalidade nos mais jovens, porque eles lidam com mais preocupações de diferentes esferas. No caso dos idosos, como o conjunto de fatores de estresse que pioram a saúde mental deles é mais limitado, então o tema está mais no radar. Os mais velhos também observaram melhor as mudanças climáticas ao longo do tempo. O relatório também abordou o estado da saúde mental da população de forma geral, sem focar apenas nos efeitos climáticos. Depois de uma melhora na saúde mental dos brasileiros de 2023 para 2024, o ICASM total voltou a cair, registrando 667 pontos em 2025, uma piora de 15 pontos em relação ao ano passado. A situação financeira continua sendo a principal preocupação: 83% dos participantes relataram apreensão com o tema pelo menos uma vez nas duas semanas anteriores à pesquisa. Questões socioeconômicas e desemprego estão associados a índices de saúde mental mais baixos. Sono irregular e cansaço diurno também fazem parte da rotina da população: 72% dos respondentes dormiram menos de seis horas em pelo menos uma noite nas duas semanas anteriores à pesquisa e 64% declararam sentir forte sonolência durante o dia.
A sensação de não estar adequado física ou intelectualmente também permanece em níveis elevados e afeta a saúde mental dos brasileiros. Quase metade (48%) disse ter se sentido feio ou pouco atraente e mais de um terço (35%) se considerou pouco inteligente ao menos uma vez nas duas semanas anteriores. A relação da saúde mental com esses fatores é bidirecional, ou seja, tanto afeta como é afetada por eles. Pessoas desempregadas apresentam, por exemplo, maior taxa de depressão. Mas, ao mesmo tempo, pessoas com depressão tendem a ter menos estabilidade de trabalho (o que poderia elevar o desemprego). Assim como no grupo dos que mais sofrem com ecoansiedade, as mulheres aparecem novamente com os piores índices de saúde mental geral. Entre elas, as mais jovens ou com filhos pequenos são as que mais sofrem. No recorte por faixa etária, a situação se inverte: não são os mais velhos os mais afetados, como é o caso da ansiedade climática, mas os jovens de 16 a 24 anos. Um dado que exige atenção é que 18% dos respondentes afirmaram ter tido pensamentos de se ferir ou de que seria melhor estar morto em alguma frequência nas duas semanas anteriores, sendo que 7% deles contaram que têm esse tipo de pensamento quase todos os dias. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.