12/Nov/2025
A COP30 começou esta semana, e é alvissareiro destacar as iniciativas do agronegócio brasileiro para a conferência. Liderado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, embaixador do agro brasileiro para a COP30, nasceu o Fórum Brasileiro da Agricultura Tropical, que produziu o documento "Agricultura Tropical Sustentável: Cultivando Soluções para Alimentos, Energia e Clima". No mesmo movimento, o Instituto Pensar Agro, braço técnico da Frente Parlamentar da Agropecuária, também apresentou "COP30 - O Futuro da Agropecuária Tropical". Muito sobre a agropecuária brasileira está sendo debatido na Agrizone, área dedicada ao setor montada pela Embrapa. Ali, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ocupa um grande espaço para tratar dos principais temas do campo. Os biocombustíveis estão bem representados.
Na Blue Zone, as entidades de biodiesel, biometano e etanol, junto com a indústria automotiva, de autopeças e de engenharia, mostram, com conteúdo e eventos, o que o Brasil faz nesse setor. Tanto a CNA, em sua área, quanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoverão painéis sobre biocombustíveis. Até a Petrobras deve apresentar o diesel coprocessado, combustível fóssil com conteúdo renovável a partir de óleos vegetais e, como no Brasil inteiro, misturado a 15% de biodiesel. Mas, mesmo com todo esse movimento positivo, há pontos que preocupam. O governo federal perdeu uma boa chance de mostrar coerência ao não levar adiante a compra de B100, o biodiesel puro, para geradores de back-up. A medida teria sido um gesto simbólico e prático, reforçando o compromisso com os biocombustíveis e valorizando a cadeia produtiva que já entrega resultados concretos.
Em vez disso, prevaleceu a hesitação, e ficou a impressão de que o discurso ambiental continua mais forte do que a ação. É justamente nas decisões simples, como esta, que se mede a disposição real de transformar o que se fala em política pública consistente. Ou seja: quem quiser conhecer a realidade da agropecuária e dos biocombustíveis brasileiros encontra na COP informação consistente e confiável, além da presença das lideranças do setor, que estão no pavilhão para garantir nossas mensagens e ocupar todos os espaços relevantes. É motivo de orgulho ver o que o agro brasileiro conseguiu organizar e apresentar na COP30. Dito isso, incomoda o tom de ceticismo, às vezes de cinismo, que algumas vozes do próprio agro, ou admiradas pelo agro, têm adotado em relação à COP no Brasil. O incômodo com visões divergentes, por vezes antagônicas, e a alegada predominância de ONGs que "não escutam o agro tropical" revela falta de visão, ou excesso de ímpeto defensivo.
O navio do Greenpeace está lá, visível para quem olha a baía do Guajará; os ativistas estão lá; os problemas de estrutura e os preços exorbitantes também. Tudo isso é passível de crítica. Mas é preciso reconhecer quem escolheu outra postura: fincar os pés na COP30, levar as mensagens corretas, rebater distorções na hora em que aparecem e colocar o olho no olho de quem nos critica. Fomos a Belém para defender, com espírito aberto, o que acreditamos e o que a prática demonstra, sem desqualificar ninguém, nem mesmo o ativista anti-agro que circule pela cidade. Estou lá para defender o modelo de produção da soja brasileira, a indústria de processamento, o biodiesel de hoje e o SAF e HVO de amanhã, o plantio direto, as práticas de baixo carbono e a construção de ferrovias. Se preciso, defendo até a Aprosoja-MT, que abriu guerra contra a Moratória da Soja, em nome de algo maior: a agropecuária tropical brasileira.
Temos a chance de consolidar um conceito poderoso, agropecuária tropical, e sua liderança na segurança alimentar, na segurança energética e na resiliência climática. Com essa ideia na mão, por que perder tempo com quem vive de denunciar o agronegócio? Que falem: nossa fala é mais consistente e tem propósito público e social. Alguns dirão: "Se eu for à COP30, estarei defendendo o governo do Lula, que não é bom para o agro". Outros dirão: "Não acredito em mudança do clima causada pelo homem; esse evento é uma hipocrisia". Não procede. Primeiro, o espaço não é do governo; o espaço existe para ser ocupado. Segundo, quem fala é quem está presente e controla as mensagens. Terceiro, num mundo cada vez mais fragmentado e sem regras claras, as COPs passaram a reunir pessoas, organizações e governos como poucos fóruns fazem hoje, algo que a OMC, por exemplo, já não consegue. Queiram ou não os céticos, as COPs ganharam vida própria e se transformaram no principal palco global para discutir algo central para o Brasil: agropecuária e biocombustíveis.
As COPs, portanto, fazem parte da solução. São o veículo para buscar o reconhecimento que o nosso agro tanto cobra. São o lugar para falar além dos convertidos, ampliar alcance e conquistar novos interlocutores. Comparecer é praticamente uma obrigação. Nós, disseminadores da agropecuária tropical e dos biocombustíveis, grupo ao qual me incluo, precisamos nos apropriar das COPs, superar os arautos do "juízo final" e, por que não, aprender com os ativistas: nem tudo o que dizem é distorção. O objetivo da COP30 é discutir mudança do clima. O nosso propósito, porém, é apresentar a agropecuária tropical e os biocombustíveis. Como numa trilha: o objetivo é contemplar a natureza, mas o propósito é outro: superar nossa capacidade física, viver a experiência, valorizar o percurso. Depois da COP30, a agropecuária tropical e os biocombustíveis serão mais conhecidos e mais bem compreendidos. Vamos usar a força orbital da COP30 para ganhar tração e alcançar novas órbitas. Fonte: André Meloni Nassar. Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Broadcast Agro.