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12/Nov/2025

COP30: Nobel de Economia sugere “Pix do Clima”

Prêmio Nobel de Economia em 2019, a francesa Esther Duflo apresentou nesta terça-feira (11/11), na COP30, sua proposta do "Pix do clima" ou o que também poderia ser entendido como um Bolsa Família climático. A ideia é que os adultos dos países mais afetados pelas mudanças climáticas recebam US$ 3,00 por dia, complementados por uma transferência extra a cada dez anos. Em troca, esses países adotariam mecanismos de precificação de carbono, ou seja, os emissores de gases dessas nações pagariam para poluir. O mecanismo, desenvolvido em parceria com o marido dela, Abhijit Banerjee (também Nobel de Economia em 2019), e com Michael Greenstone, professor na Universidade de Chicago e conselheiro-chefe de economia do governo de Barack Obama, foi batizado de Fair (justo em inglês, mas cujas iniciais significam previsível, automático, imediato e regular).

"Mas, nos últimos, ele recebeu o apelido 'Pix do clima'", disse, rindo, Duflo em sua apresentação, da qual também participou o presidente da Vale, Gustavo Pimenta. O apelido vem do fato de que as pessoas dos países pobres mais atingidos pelas mudanças climáticas receberiam o dinheiro por uma transferência direta em suas contas, numa forma de financiamento para adaptação. "Ele (o mecanismo) não é caridade. É reconhecer danos. É criar justiça pela cooperação", disse a economista. Em sua apresentação, Duflo lembrou que os beneficiados vivem em áreas com menos acesso a ar-condicionado e com poucas áreas verdes. Ela destacou que a taxa de mortalidade nesses países em dias muito quentes é superior à de países ricos. “O FAIR eliminaria a pobreza extrema e contribuiria para a adaptação”, destacou. O custo do “Pix do Clima” seria de US$ 721 bilhões por ano. Segundo a economista, dado o volume de recursos, o montante teria de ser bancado com financiamento público. Para isso, países deveriam taxar em conjunto as maiores corporações multinacionais em 21%; e os bilionários, em 2%.

“Não é uma quantia enorme (...), mas os desafios são que pessoas ricas e grandes empresas são muito poderosas. Elas conseguem fazer lobby contra essas propostas e garantir que elas não aconteçam”, disse Duflo. Questionado sobre a proposta de Dulfo, o presidente da Vale disse considerar positivo haver uma nivelação da taxação global das multinacionais para evitar o desbalanceamento entre diferentes localidades. Ele lembrou que a empresa já paga valores acima dos 21% sugeridos por Duflo. Para a Nobel de Economia, a transferência à população dos países pobres se justifica porque os efeitos das mudanças climáticas são mais sentidos nos países de baixa e média renda, enquanto os responsáveis pelo acúmulo de emissões são os mais ricos. Ela também aponta que, dada a necessidade de crescimento econômico dos países mais pobres, suas emissões devem avançar também consideravelmente, daí a necessidade de colocar um preço nessas emissões. Segue a entrevista:

Quais os maiores desafios para transformar sua proposta em algo real?

Esther Duflo: Vamos começar pelo que eu acho que torna isso possível, que é fazer um acordo entre países de baixa e média rendas e países ricos, no qual os países ricos concordariam em compensar os pobres pelas mudanças climáticas e os países pobres, em troca, concordariam em fazer uma ação climática efetiva, em particular, implementando mecanismos de precificação de carbono. O país pobre obteria o que quer, que é alguma compensação, a um custo, que é implementar a ação climática. O país rico obteria o que quer, que é a mitigação climática, a um custo, que é pagar pela compensação. É por isso que acho que é viável, porque há algo para todos e também é bom para o planeta. Mas o desafio para isso é que o dinheiro tem de ser público. Nenhuma empresa pode pagar por isso. Portanto, tem de ser feito de uma maneira que seja justa e não coloque muita pressão sobre os pobres nos países ricos. Daí a ideia de conectá-lo à justiça fiscal, garantindo que os bilionários paguem pelo menos um pouco de impostos.

Quanto?

Esther Duflo: Não é uma quantia enorme: 2% da riqueza deles, o que é apenas 30% da renda que eles geram com essa riqueza. E também é preciso limitar a transferência de lucros por parte das corporações, garantindo que paguem pelo menos 21% dos lucros delas em impostos. Mas os desafios são que pessoas ricas e grandes empresas são muito poderosas. Elas conseguem fazer lobby contra essas propostas e garantir que elas não aconteçam. Mas há uma grande demanda por isso também, apesar da grande resistência por parte das pessoas mais ricas. Por exemplo, na França tivemos uma discussão sobre uma taxa semelhante para os ultrarricos. É algo muito, muito popular lá, mas não passou no parlamento. A taxação afetaria muito poucas pessoas no país, mas essas poucas pessoas conseguiram persuadir todos os outros de que teriam que pagar esse imposto e, então, isso não passou dessa vez. Mas não é uma corrida de velocidade, é uma maratona, e acho que, eventualmente, isso vai acontecer.

A sra. trabalhou no grupo de economistas para apresentar propostas de financiamento climático ao presidente da COP. Como a proposta foi recebida pelo grupo e pelo presidente?

Esther Duflo: O grupo teve muitas propostas muito interessantes e complementares. Por exemplo, a (professora de economia na MIT Sloan School of Management) Catherine Wolfram está trabalhando em uma proposta de coalizão climática que garante que haja precificação de carbono em um grupo de países. A minha proposta é muito complementar a isso, porque, se os países pobres implementarem a taxação de carbono, eles receberão dinheiro de compensação. Então, por definição, farão parte da coalizão climática. Outra proposta que é complementar é o trabalho de Rohini Pandey (economista em Yale) na valoração global da redução de carbono, incluindo soluções baseadas na natureza. Como contabilizar isso de uma maneira que seja justa. Isso também é um complemento muito forte.

Para sua proposta funcionar, todos os países precisam estar de acordo? Como fica se os EUA não apoiar?

Esther Duflo: Não, essa é a beleza disso. Nem todos precisam concordar. Pequenos grupos podem começar e depois podemos expandir progressivamente. Assim que um número suficiente de países concordar, bilionários podem ser taxados em qualquer lugar. Desde que um número suficiente de países, com economias grandes o suficiente, concorde em participar, os bilionários não podem fugir. Não há tantos bilionários no mundo. O que eles têm são empresas públicas muito grandes. Pense na Amazon, que opera em muitos países. Se alguns desses países concordarem com o imposto sobre bilionários, eles podem arrecadar dinheiro da Amazon em seus países. Podem arrecadar dinheiro suficiente para garantir que seja 2% da renda de Jeff Bezos. O acordo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre a tributação das corporações multinacionais tem essa estrutura. Você pode tributar uma empresa de um país não signatário no seu país para garantir que ela pague um imposto mínimo. Claro, agora os EUA conseguiram interromper isso temporariamente, mas a estrutura do acordo é tal que uma coalizão é suficiente para implementar a tributação no nível global.

Fonte: Broadcast Agro.