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12/Nov/2025

China vira fator de estabilidade no Sudeste Asiático

Enquanto os Estados Unidos continuam estagnados no shutdown, os países que compõem a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), aliados históricos dos norte-americanos e que hoje representam cerca de 15% do comércio mundial, buscam na China a estabilidade política para suas relações comerciais. Em um comunicado conjunto divulgado ao fim da cúpula em outubro, os países da Asean (China, Nova Zelândia, Austrália, Japão e Coreia do Sul) afirmam estar "conscientes da importância de fortalecer a resiliência econômica da região" em meio ao cenário de incertezas no comércio global. Especialistas, contudo, não veem o distanciamento econômico dos países da Asean como uma convergência política do bloco para a esfera de influência chinesa.

Do contrário: a aproximação do bloco com a China se deve pela instabilidade que os Estados Unidos conferiram ao comércio internacional devido ao tarifaço e às incertezas internas daquele país. Segundo o Instituto de Relações Internacionais da USP, a avaliação é que basta ter uma eleição de um ou outro partido que a política interna e externa muda completamente. Hoje, no Sudeste Asiático, existe uma percepção de que o fator de incerteza não é a China, mas a política específica que os Estados Unidos têm perante o mundo. A chegada de Donald Trump ao governo norte-americano foi necessária para entender melhor essa nova postura dos países do Sudeste Asiático. Há a percepção de que a política interna dos Estados Unidos é muito instável. "O pêndulo é dentro dos Estados Unidos".

Desde abril de 2025, o governo Trump impôs tarifas comerciais contra todos os países. A alíquota máxima atualmente chega a 50%. Nos países do Sudeste Asiático, o país mais afetado foi Laos, com 47%, seguido de Vietnã, 20%. Em um relatório publicado em setembro, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) concluiu que os países da Ásia e do Pacífico navegam para uma mudança rápida, algo que é resultado da crescente incerteza no cenário internacional ocasionada pelo aumento das tensões comerciais. Essa mudança se daria principalmente pela diversificação dos mercados à medida que os gargalos aumentam. Segundo o relatório, antes mesmo da guerra tarifária de Trump ter-se iniciado em 2025, os países sul-asiáticos já começaram a diminuir a dependência do mercado norte-americano.

No Camboja, por exemplo, o comércio com os Estados Unidos diminuiu de 54% nos anos 2000 para 30% em 2020. Outros países, como o Sri Lanka, seguiram o mesmo caminho: em 24 anos as cifras caíram pela metade, de 40% no início do século para 24% em 2024. Individualmente, o distanciamento com os norte-americanos não faria muita diferença, mas como bloco a história é outra. Segundo o Observatório de Complexidade Econômica (OEC), dos US$ 22,6 trilhões movimentados no comércio internacional em 2023, a Asean foi responsável por US$ 3,6 trilhões, cerca de 15% do total de importações e exportações no mundo. Apesar de buscarem estabilidade econômica, os países do Sudeste Asiático ainda precisam garantir sua segurança no sistema internacional.

De modo geral, pode-se afirmar que a China exerce predominância na esfera econômica da Asean, consolidando-se como principal parceira comercial e fornecedora de investimentos, diz a International Political Science Association (IPSA). Por outro lado, os Estados Unidos mantêm maior influência na dimensão militar e de segurança, sustentada por acordos de cooperação, presença de bases, exercícios conjuntos e fornecimento de equipamentos. Essa relação é vista pelos países do Sudeste Asiático como uma forma de equilíbrio diante da expansão econômica chinesa e sobre disputas territoriais. O resultado é uma região marcada por forte interdependência econômica com a China e por laços de segurança mais estreitos com os Estados Unidos, em um ambiente de competição crescente entre as duas potências.

Para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apesar de os Estados Unidos serem parte integral da segurança desses países na região, não parece haver em Donald Trump nenhuma promessa de fortalecimento com o bloco em si, mas sim de forma bilateral com os países, apesar das tarifas darem uma impressão de distanciamento com os Estados Unidos. Para muitos desses países, ainda que a China tenha suplantado os Estados Unidos como parceiro comercial, nos últimos anos, os Estados Unidos ainda têm relevância e se destacam no campo de investimentos e de segurança. Na prática, essas aproximações se mantêm por outras vias e dentro desse eixo bilateral, principalmente, o que também faz parte do estilo de construção da política externa de Donald Trump: mais bilateral e menos focada nos espaços multilaterais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.