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11/Nov/2025

IR: sobra da isenção deve ir para consumo e dívidas

De acordo com estudo da Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC), pagamento de dívidas e compra de itens do dia a dia, como alimentos, combustíveis e medicamentos, deverão ser os principais destinos da sobra de dinheiro que a isenção de Imposto de Renda vai proporcionar a cerca de 14 milhões de brasileiros que recebem até R$ 5 mil por mês. Aprovada no Senado, a medida era uma promessa de campanha do governo Lula. Depende agora da sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para entrar em vigor a partir do dia 1º de janeiro de 2026. No curto prazo, endividamento e inadimplência do consumidor atualmente em níveis elevados e juros básicos na maior marca em 20 anos são fatores que devem jogar contra do uso dos recursos para a compra de itens de maior valor.

No entanto, a recuperação do crédito dos que estão hoje inadimplentes pode turbinar o consumo de bens mais caros e comprados a prazo ao longo de 2026, que é um ano eleitoral. Dos R$ 31,2 bilhões de renúncia fiscal projetados para o ano que vem, cerca de um terço, R$ 10,47 bilhões, será usado para pagamento de dívidas, aponta o estudo da CNC. Na sequência, o segundo destino dos recursos extras será a compra de bens, que deve absorver R$ 8,84 bilhões, ou 28,4% do total, seguido pelo gasto com serviços (R$ 8,14 bilhões, ou 26%) e poupança, com R$ 3,75 bilhões (12%). A tendência é que o consumidor aproveite esses recursos para ‘limpar o nome’ e aliviar um pouco o orçamento. De um lado, o mercado de trabalho tem indicadores muito bons, mas a economia está com freio de mão puxado, que é a taxa de juros de 15% ao ano. E a perspectiva é de que essa taxa continue elevada nos próximos meses.

Juros em alta dificultam a renegociação de dívidas. Para projetar qual será o destino dos recursos extras, o estudo considerou os três pilares do consumo: as condições do mercado de trabalho (renda e emprego), de crédito e a inflação, acrescido do comprometimento da renda das famílias. Tanto dados da CNC como do Banco Central mostram que o comprometimento da renda do brasileiro com dívidas está em níveis recordes. Estatísticas do Banco Central indicavam que em agosto, o último dado disponível, 26,3% da renda das famílias estava empenhada com algum tipo de dívida, excluindo a prestação da compra de imóveis e descontadas influências sazonais. Esse resultado se equipara ao de maio de 2023 (26,3%) e é o maior da série. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC mostra que, em outubro, 30,5% das famílias atrasaram o pagamento de dívida e 13,2% declararam que não terão condições de pagar as dívidas pendentes. Em ambos os casos os resultados são recordes.

O Insper acredita que o endividamento elevado das famílias vai pesar na decisão de o que fazer com os recursos extras por conta da isenção de Imposto de Renda. A prioridade deve ser acertar as dívidas, ao menos no início. No entanto, o uso dos recursos para recuperar o crédito pode abrir espaço para ampliar o consumo de itens de maior valor a médio prazo. O consumo de bens não duráveis ligados à renda, como alimentos e medicamentos, serão turbinados no curto prazo. Para a Serasa Experian, a injeção de recursos da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês não necessariamente será direcionada para quitar dívidas em atraso, apesar de a inadimplência estar elevada. Mesmo com o arrefecimento recente, a inflação de alimentos acumulada nos últimos anos é elevada e o comprometimento da renda com os gastos do dia a dia, acrescido do pagamento de dívidas, é alto. Qualquer folga que essa família tenha poderá ser direcionada para o consumo, muitas vezes de subsistência, pois ela está com o orçamento comprometido.

O estudo da CNC sobre como as pessoas pretendem usar o dinheiro que sobrar com o novo IR mostra que, do total de R$ 8,84 bilhões direcionados ao consumo em 2026 fruto da isenção, quase a metade, R$ 4,17 bilhões (47%), deverá ser capturada por hipermercados e supermercados, que vendem alimentos e bebidas, itens de primeira necessidade. Na sequência, estão combustíveis e lubrificantes (R$ 1,67 bilhão), itens de farmácia e cosméticos (R$ 1,07 bilhão), artigos de uso pessoal e doméstico (R$ 660 milhões), vestuário e calçados (R$ 620 milhões) e outros segmentos (R$ 650 milhões). A Associação de Supermercados do Rio de Janeiro (Asserj), que reúne 400 associados com mais de 2 mil lojas no Estado, diz que, com o valor extra, vai haver aumento de vendas para pessoas das classes C, D e E. Historicamente, quando há aumento de renda para o público dessa faixa, mais da metade do incremento é gasto no supermercado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.