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11/Nov/2025

COP30: protagonismo do setor privado no evento

A COP30 começou nesta segunda-feira (10/10), em Belém, com a repetição de um cenário crescente dos dez últimos anos. Criadas por diplomatas para debater medidas de combate ao aquecimento global, as cúpulas do clima abriram espaço para a atuação do setor privado. Os objetivos das empresas são diversos, de acordo com o segmento: vão da articulação contra o fim do uso de combustíveis fósseis a tentativas de arrecadar recursos para projetos econômicos sustentáveis, passando por ações de promoção de práticas “verdes”. Até a edição de Paris de 2015, as COPs eram mais técnicas. A partir de 2016, no Marrocos, com a Agenda de Ação ganhando força, o setor privado foi ganhando protagonismo. A Agenda de Ação é o plano que tenta converter compromissos globais em ações concretas para combater as mudanças do clima.

Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), antes, os resultados da COPs ficavam distantes da realidade. Dez anos atrás, houve um entendimento de que era preciso ampliar a mobilização e aproximar as pessoas da agenda climática. Essa aproximação acabou ocorrendo principalmente com o setor privado, já que organizações civis e ativistas já eram atuantes nas cúpulas. Para COP do ano passado, no Azerbaijão, o CEBDS recebeu cerca de 80 pedidos de associados para se credenciarem no evento. Neste ano, foram quase 300 solicitações. O setor privado participa tanto da Blue Zone (espaço onde ocorrem as negociações diplomáticas e onde países e organizações têm espécies de stands com programações de palestras) como da Green Zone (espaço criado justamente para ampliar o debate com a sociedade civil, no qual países e empresas também têm stands com debates).

Ambas as zonas são áreas oficiais da COP. Na Blue Zone, há pavilhões dos países onde ocorrem fóruns estratégicos para o setor privado colocar sua agenda, fazer parcerias e uma articulação mais estruturada. É um espaço também para apresentar tecnologias e soluções para o aquecimento global. Já a Green Zone é uma vitrine aberta ao público. É quase uma feira de ciências para fomentar ideias. A intenção ali é democratizar a COP. Do agro ao petróleo, setor privado realiza COPs dentro da COP. As cidades que recebem as convenções também costumam ter programações paralelas em espaços fora da área oficial, como hotéis e restaurantes. Neste ano, por exemplo, o agronegócio estará reunido em um espaço batizado de AgriZone, dentro da Embrapa em Belém.

No caso do agro, setor responsável por 29% das emissões brasileiras e ligado às emissões por mudanças do uso da terra, atividades que emitem 42% dos gases poluentes brasileiros, entidades e empresas estarão da COP30 com uma programação de palestras em que profissionais falarão principalmente como as práticas brasileiras são mais sustentáveis do que as de outras potências agrícolas. Também responsável por grande parte das emissões de gases poluentes, o setor de petróleo participará por meio de empresas como a Petrobras, entidades como o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e governos de países cuja economia depende de óleo e gás. O advocacy é múltiplo. Em Dubai (na COP de 2023), a principal delegação foi a do próprio Emirados Árabes Unidos. Ali havia um lobby forte pelos combustíveis fósseis. Mas, ampliar o debate para diferentes atores faz parte do processo.

Outro motivo que tem levado empresas às COPs é a possibilidade de levantar recursos para projetos considerados sustentáveis, um movimento tido como crescente entre representantes do setor privado. O Instituto Amazônia 21+ (uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que reúne nove federações das indústrias dos estados da Amazônia Legal), por exemplo, lançará um chamamento para o fundo Travessia. O fundo apoia financeiramente micro e pequenos negócios da bioeconomia amazônica. Natura, bancos, Nestlé e Vale se unem por visibilidade a soluções climáticas no Brasil. A Natura, por sua vez, vai apresentar em Belém seu projeto de produção agroflorestal de óleo de palma (dendê). A intenção é buscar parceiros para escalar a iniciativa e influenciar outros países a adotarem projetos semelhantes.

Com tradição em projetos sustentáveis, a Natura vê a COP como uma oportunidade para mostrar o que faz e contar sua trajetória no Pará. A companhia trabalha com 11 mil famílias do Estado. De parte delas, compra insumos para produtos cosméticos. Com esse trabalho, a Natura colabora para proteger 2,2 milhões de hectares de florestas. O objetivo é chegar a 3 milhões em 2030. Durante a cúpula, a Natura terá um ônibus para levar participantes interessados em conhecer associações fornecedoras de, por exemplo, ervas para óleos essenciais. A Natura também participará da C.A.S.E., uma iniciativa criada em parceria com Bradesco, Itaúsa, Itaú Unibanco, Marcopolo, Nestlé e Vale para dar visibilidade a soluções climáticas existentes no Brasil. O projeto terá uma casa em Belém no qual haverá debates com cientistas e economistas proeminentes no debate climático.

Entre eles, a diplomata Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas entre 2010 e 2016, e a Nobel de Economia Esther Duflo. Também participante da C.A.S.E., o Bradesco está em COPs desde 2021. A instituição financeira começou a participar das cúpulas por entender que o setor ganhou relevância nas discussões sobre financiamento climático. O Bradesco participa das COPs vendo como apoiar e financiar os clientes nessa jornada da transição energética. Em Belém, além da C.A.S.E., o Bradesco participará de discussões focadas em financiamento climático e negócios sustentáveis na Blue Zone. Participante de COPs desde 2009, a Coca-Cola também vê na cúpula a possibilidade de apresentar suas boas práticas e compartilhar experiências e resultados. O evento proporciona justamente essa possibilidade de conexão e articulação entre diferentes setores, criando o ambiente necessário para que ideias inovadoras se tornem ações de impacto real. A empresa participará de painéis sobre resíduos e uso de água. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.