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06/Nov/2025

Manguezais retém carbono de forma mais eficiente

Usando uma abordagem inédita, pesquisadores brasileiros conseguiram compreender os mecanismos que podem estar ajudando solos alagados de áreas costeiras, como os de manguezais, a reter carbono de forma mais eficiente. Com isso, abriram um leque de oportunidades na busca por ferramentas para enfrentar os impactos negativos das mudanças climáticas causados pela ação humana sobre a terra. Os manguezais já são reconhecidos pela ciência como um dos ecossistemas mais eficazes na captura de gases de efeito estufa no mundo, superando florestas tropicais, como a Amazônia. Essa capacidade é atribuída principalmente à ausência de oxigênio nesses ambientes, o que retarda a decomposição de matéria orgânica e, consequentemente, a liberação do dióxido de carbono. O que se descobriu, agora, é que óxidos de ferro de baixa cristalinidade (entre eles ferri-hidrita e o lepidocrocita) encontrados em manguezais atuam como estabilizadores do carbono orgânico do solo.

Ou seja, eles protegem as frações mais instáveis, chamadas de lábeis, na linguagem da biogeoquímica, que de outra forma estariam vulneráveis à decomposição biológica, causando a liberação do CO2. Quando ocorre a mudança do uso da terra, seja para a construção de tanques de camarões ou para pastagem (situações registradas nas áreas analisadas na pesquisa), há alteração drástica no ambiente geoquímico, levando à oxidação ou à acidificação do solo. Isso promove a transformação dos minerais óxidos de ferro menos cristalinos em formas mais cristalinas, menos eficazes na estabilização do carbono orgânico. A cristalinidade se refere à forma como os átomos estão organizados, ficando dispostos de maneira repetitiva e ordenada. Cria uma estrutura tridimensional, que afeta as propriedades físicas e químicas do material. O estudo traz inovações importantes. Uma delas está na metodologia.

São usadas técnicas já estabelecidas, mas que, em uma sequência inovadora, permitiram inferir a importância do ferro na estabilização do carbono. Outro ponto de destaque foi conseguir demonstrar o mecanismo envolvido na proteção das frações mais lábeis da matéria orgânica, diz o pesquisador Francisco Ruiz, primeiro autor do artigo. Ruiz é vinculado à Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e recebe bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver sua pesquisa, publicada na renomada revista científica Nature. O grupo de pesquisa trabalhou com espectroscopia no infravermelho, que estuda as interações entre a matéria e a radiação, com análise térmica (TG-DSC) e com extração química seletiva para avaliar amostras do estuário Mocajuba-Curuçá, no estado do Pará, a leste da foz do Rio Amazonas.

Os resultados são “uma quebra de paradigma”. O estudo avança na compreensão real de como os solos dos manguezais funcionam como drenos de carbono em um cenário importante de mudanças climáticas e busca por estratégias para mitigação de seus efeitos. Quando se entende os processos por trás da estabilização, é possível vislumbrar que tipo de uso da terra é mais ou menos nocivo, além da possibilidade de potencializar ou frear determinados mecanismos para ter uma estabilização de carbono mais eficiente e menor emissão de gases de efeito estufa. Há ainda o projeto “BlueShore - Florestas de Carbono Azul para mitigação de mudanças climáticas”. Entre os objetivos da iniciativa estão o estudo dos mecanismos de sequestro e estabilização de carbono nos solos e a criação de um índice de saúde do solo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.