06/Nov/2025
A Cúpula de Líderes, que habitualmente complementa a realização das COPs, terá a participação de 57 chefes de Estado e acontece nestes dias 6 e 7 de novembro, antecedendo as discussões da Conferência das Partes. A Cúpula terá reuniões gerais e sessões temáticas comandadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com foco em: Clima e Natureza; Transição Energética; e nos dez anos do Acordo de Paris. Durante o evento, será lançado também o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma iniciativa liderada pelo Brasil para viabilizar recursos que financiem a preservação de florestas tropicais. O modelo propõe que países com florestas sejam recompensados financeiramente pela preservação através de um investimento que combinaria recursos públicos e privados, oferecendo pagamentos anuais com base na área preservada e no combate ao desmatamento. O objetivo do governo brasileiro é conseguir US$ 10 bilhões até o final de 2026, período durante o qual o País presidirá a COP.
Internamente, de um ano para cá várias ações com objetivo de combater o aquecimento global foram colocadas em prática. O Brasil revisou sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) que passou a prever a redução das emissões entre 59% e 67% até 2035. Além do compromisso com o combate ao desmatamento, planos de restauração em larga escala de vegetação nativa e esforços para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis em vários setores por meio de uma política nacional de energia. Outro ponto acrescentado na NDC revisada é a inclusão da zona marinha e costeira nos compromissos climáticos. Nos últimos dias, o Brasil publicou também a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB), que define quais atividades econômicas podem ser consideradas sustentáveis, usando critérios científicos objetivos e considerando a realidade do País. Criou também a Secretaria Extraordinária de Mercado de Carbono, subordinada ao Ministério da Fazenda, que terá a missão de colocar em prática o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, instrumento que vai regularizar compras e vendas de créditos de carbono.
A 30ª Conferência tem sido chamada de COP da Implementação. O que o Brasil como organizador, autoridades ligadas à questão climática e membros do setor privado engajados no tema pregam é que acordos e compromissos já estão amplamente discutidos e consensuados e esgotou-se o tempo para que medidas sejam efetivadas. O governo brasileiro convidou e desafiou diversos representantes da iniciativa privada do País a levar para Belém exemplos de ações e investimentos sustentáveis capazes de se multiplicar no País e internacionalmente. Desde entidades empresariais, filantrópicas até cooperativas de povos originários, os exemplos prometem ser muitos e de características diversas. A COP30 começa nesta quinta-feira (06/11), em Belém (PA) com a cúpula de líderes mundiais, mas seus efeitos já são sentidos e comemorados pela cidade que viu o turismo explodir e o Produto Interno Bruto (PIB) ser impulsionado com mais empregos e empresas.
Mobilidade, saneamento e segurança seguem como desafios, mas é difícil andar pela capital e não tropeçar em novos parques, museus, restaurantes e hotéis de um padrão nunca antes na cidade. Segundo dados do governo do Pará, o Estado deve receber cerca de 1,5 milhão de visitantes ao longo de 2025, aumento de 20% em relação ao ano passado. Belém, por sua vez, registrou um aumento de 90% nos voos internacionais entre janeiro e setembro de 2025, em comparação com o mesmo período de 2023. As operações regulares saíram de 720 para 1.365. Só durante a COP30, a expectativa é que mais de 508 mil pessoas circulem pelo aeroporto internacional, em mais de 3 mil voos programados. O volume representa quase o dobro da movimentação registrada no mesmo intervalo de 2024, resultado de um aumento de 57% na oferta de voos. Os dados são da Norte da Amazônia Airports (NOA). A ideia, segundo o ministro das Cidades, Jader Filho, é que esse incremento faça com que Belém se torne uma cidade que consegue "fechar as contas".
Isso porque, sem a exploração do seu potencial turístico, a capital paraense não tem grandes indústrias e sua arrecadação vinha basicamente de comércio e serviços. O ministro pondera que a COP30 e toda a exposição de Belém é uma oportunidade de se criar um ciclo virtuoso na região, mas que precisa ser aproveitado com manutenção das obras entregues e continuidade de investimentos. Segundo a Junta Comercial do Estado (Jucepa), de janeiro a 27 de outubro de 2025, o Pará registrou a criação de 84.894 novas empresas, um aumento de 22,39% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 69.360 aberturas de empresas. Todas são micro e pequenas empresas, com destaque para os Microempreendedores Individuais (MEI) com 63.913 registros. O governo paraense diz que também capacitou gratuitamente mais de 35 mil pessoas por meio do programa Capacita COP30, que se consolidou como referência nacional em qualificação profissional.
O governador Helder Barbalho disse que o PIB do Pará deve crescer cerca de 3% em 2025, sendo que um terço disso impacto direto da COP30 em Belém. "Demoraria certamente muito tempo para que tudo isso pudesse ficar pronto, e em dois anos se transformou em realidade. Isso permite que a cidade possa ter o turismo como uma nova vocação econômica e com fortalecimento da geração de emprego. Os resultados estão postos: crescimento de PIB do Estado, maior nível de admissão de carteira assinada da história, maior crescimento de operações empresariais e novos negócios abertos também no comparativo com o ano passado, um crescimento de mais de 200%", declarou. O que o governador se refere ao falar de entregas que demorariam mais tempo e saíram em dois anos são os equipamentos urbanos já disponíveis para a população. São ao menos três parques, o novo Museu das Amazônias, um novo polo gastronômico e um porto com capacidade de atracar navios de cruzeiro que sempre preferiram Manaus (AM) à Belém pela infraestrutura.
O maior legado físico da COP30 é o Parque da Cidade. Ele será sede das plenárias da Blue Zone, das exposições da Green Zone e de áreas de convivência entre governos, empresas e sociedade civil. Inaugurado em junho, o parque ficou aberto ao público até agosto e recebeu uma colônia de férias pública que atendeu 10 mil crianças, adolescentes e idosos. Em menos de dois meses de funcionamento, ultrapassou 670 mil visitantes. Construído na área do antigo aeroporto, o espaço de 500 mil m? tem ciclovia, pista de skate, trilhas ecológicas, áreas esportivas e até um parque aquático natural (wetland). Na orla da cidade, cinco galpões históricos cedidos pela Companhia Docas do Pará (CDP) ao Estado foram restaurados, dando origem ao Complexo Porto Futuro. O espaço reúne equipamentos inéditos na Região Norte: o Museu das Amazônias, a Caixa Cultural, o Armazém da Gastronomia e o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia.
Mesmo com os avanços proporcionados pela atenção e investimentos da COP30, Belém segue com suas dificuldades históricas em infraestrutura de mobilidade e sanitária, com impacto ambiental direto. Para o evento da ONU, foram entregues o BRT Metropolitano, quatro novos viadutos, a pavimentação de mais de 160 vias em diversas regiões da cidade e intervenções de macrodrenagem e saneamento em 13 canais, 11 deles em áreas periféricas. Também já foi feita a Estação de Tratamento de Esgoto Una (ETE Una), a maior do Estado, e os terminais hidroviários de Icoaraci e Tamandaré que modernizam o acesso às ilhas. Com quase 400 anos de existência, o mercado de Ver-o-Peso passa a contar com infraestrutura de saneamento, garantindo preservação e melhores condições para trabalhadores e visitantes. Belém é uma das piores cidades do País quando se fala em saneamento básico. Cerca de 80% da população não tem acesso a esgoto tratado, segundo dados do Painel Saneamento Brasil.
Isso aumenta a pegada de carbono da cidade, como afirma a FGV EAESP. Além das emissões, os impactos das mudanças climáticas podem agravar ainda mais essa situação de déficit de saneamento aumentando as desigualdades sociais e sanitárias, sobretudo nas periferias, onde a exposição a efluentes não tratados é cotidiana. Assim, com as mudanças climáticas, quadros como esse tendem a se agravar. Um legado que a COP30 poderia deixar para a cidade é um plano robusto de investimento e resiliência em saneamento. Belém poderia usar isso como um ativo para uma transição energética mais justa. Tanto Helder Barbalho como Jader Filho admitem que ainda há desafios a serem enfrentados na cidade pós-COP30 e concordam que o saneamento é um dos principais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.