05/Nov/2025
A poucos dias do início da 30ª edição da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu a urgência de uma reforma no sistema global de financiamento climático, com foco em viabilizar a transição ecológica dos países menos desenvolvidos. É urgente viabilizar recursos para que os países menos desenvolvidos façam suas transições e avancem na sustentabilidade. É preciso transformar os veículos de investimento sustentável em algo “previsível e justo”, apoiando a resiliência das populações de maior risco. A ministra lembrou que cientistas afirmam que o planeta está perto de um ponto de “não retorno”, com o aumento da temperatura média global trazendo riscos para a vida humana e para a economia. Para superar esse quadro, Marina defendeu uma transição justa para um novo modelo de desenvolvimento, baseado em fatores sociais, econômicos e ambientais de sustentabilidade.
O assessor especial de mudanças climáticas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Avinash Persaud, afirmou que, diante de restrições fiscais, países emergentes precisam de acesso a financiamentos de longo prazo e de baixo custo, com garantias de instituições multilaterais, para acelerar investimentos em adaptação e resiliência climática. É possível destravar centenas de milhões de dólares sem aumentar a dívida pública. Na prática, países com fundamentos fiscais sólidos poderiam usar essas garantias para trocar dívidas caras por títulos mais baratos, direcionando a economia de juros a projetos verdes. Foi apresentada uma proposta prática para ampliar o fluxo de capitais a projetos climáticos viáveis nos emergentes: em vez de correr atrás de investimentos de estágio inicial, caros e arriscados para grandes fundos, as instituições multilaterais poderiam comprar carteiras de empréstimos de bancos locais e transformá-las em títulos atraentes para investidores institucionais.
Há um estoque relevante de crédito local, de cerca de US$ 500 bilhões, em empréstimos de longo prazo já existentes, montante que pode ser agrupado, diversificado e protegido de riscos físicos e cambiais, criando um produto em moeda forte e grau de investimento. Ele defendeu condicionamentos, como prazos para comprovação de reinvestimento, como forma de garantir que a operação gere financiamento novo, não apenas uma troca de ativos. Essas soluções precisam ser acompanhadas de transparência fiscal e avaliação de risco de crédito para manter a atração do capital privado. Os riscos macroeconômicos, cambiais e políticos estão travando os investimentos necessários à transição para uma economia de baixa emissão. Barreiras tecnológicas e de viabilidade comercial já foram superadas, porém riscos aos investimentos privados precisam ser solucionados para destravar o capital. A necessidade de financiamento climático é estimada em US$ 2,4 trilhões no mundo, o equivalente a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
Mercados emergentes de renda média precisam fazer uma transição energética mais rápida do que seus orçamentos domésticos permitem, necessitando de um financiamento internacional de aproximadamente US$ 1,3 trilhão. Há um compromisso do setor público de, junto com bancos multilaterais, financiar cerca de US$ 300 bilhões, menos de um quarto do total. Quem fará o restante é o setor privado. O setor privado já financia 81% dos investimentos em energia renovável nas economias desenvolvidas. Porém, esse fluxo de recursos, em razão dos riscos, não está indo para o Sul Global. Nos mercados emergentes, é preciso acelerar a transição para energias limpas, já que o ritmo atual é insuficiente para conter o aquecimento global. Os países de renda média precisam fazer essa transição mais rápido do que podem com suas próprias poupanças domésticas. A Moody's salientou que as dificuldades no financiamento climático variam entre as economias. Para um país da África, por exemplo, a escolha pelo investimento nessa agenda é extremamente difícil, pois significa escolher entre o clima e todo o orçamento de educação.
Por outro lado, economias da Ásia são mais capazes de absorver esse custo, que tem também uma lógica financeira pensando nos prejuízos que eventos extremos do clima, cada vez mais frequentes, podem trazer aos países. Investimentos contra o aquecimento global representariam um aumento de 10% a 15% na dívida de países como Brasil, África do Sul ou Índia, saindo de um nível de endividamento já elevado. Então, faz sentido ver onde o setor privado pode entrar e assumir parte disso. A necessidade de financiamento em ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa é estimada em US$ 2,4 trilhões. Isso significa mobilizar uma economia do tamanho do Brasil e da Argentina, a cada ano, apenas em investimento privado. O grande desafio da transição climática não está apenas em convencer investidores da urgência do tema, mas também em adaptar os instrumentos financeiros existentes a diferentes perfis de investidores, já que existe capital disponível.
Fundos de pensão e seguradoras dificilmente aplicam recursos em projetos não avaliados ou sem grau de investimento, o que limita a disponibilidade de recursos necessários à descarbonização. Em paralelo, países dependentes de combustíveis fósseis precisam "diversificar logo" suas economias, aproveitando o período de transição para criar novas fontes de renda e emprego. O BID defendeu que as exigências de divulgação climática sejam acompanhadas por "testes de estresse" regulatórios, de modo que tornem mais visível o risco real do clima aos negócios para acelerar a mobilização de capital privado. O processo serviria para ampliar a transparência corporativa sobre o tema. Apesar dos avanços em relatórios de sustentabilidade, poucas mudanças concretas têm sido percebidas na mobilização de recursos privados. A sugestão é a adoção de práticas semelhantes às de regulação bancária tradicional. Assim como bancos precisam provar sua solidez, as empresas deveriam demonstrar resiliência diante dos riscos climáticos projetados. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.