04/Nov/2025
O governo brasileiro discute internamente como vai propor ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um acordo, e o que vai incluir, com vistas às próximas reuniões de negociação para solucionar o tarifaço. Uma delas pode ocorrer nesta semana, em Washington, nos Estados Unidos. Entre as opções, estão um acordo comercial mais abrangente ou a discussão por setores econômicos em que podem ser feitas concessões pontuais e reduções de tarifa, com contrapartidas. O governo também avalia como incluir propostas de investimento e compromissos de compra do setor privado, algo atípico em negociações comerciais, mas que costuma estar envolvido nos acordos feitos pelos Estados Unidos com outros países, e agrada a Trump porque dá oportunidade de citar cifras, render manchetes na imprensa e fomentar empregos.
Uma das propostas é sugerir elevar o comércio bilateral para US$ 200 bilhões até 2030 e sinalizar compras na área de Defesa. Será preciso traçar uma estratégia e ouvir novamente o setor privado brasileiro. Ao longo dos últimos meses, os dois governos fizeram mapeamentos sobre os setores mais afetados de cada lado. Eles chegaram a manter negociações antes, por causa da deflagração da tarifa global “recíproca” de 10%, em abril, e depois da sobretaxa por razões políticas, de 40%, em julho. O presidente brasileiro e sua equipe pediram, sem sucesso, que Trump aceitasse uma trégua e suspendesse a taxação enquanto negociavam. O Brasil não fez gestos durante as conversas na Malásia porque sabia que Trump tentaria "maximizar" sua posição na mesa e cobrar por alguma concessão.
O lado norte-americano também não fez cobranças. Na primeira reunião com os presidentes, as duas equipes se mostravam impassíveis, com "poker face", e os presidentes se moviam como numa dança de tango, com cada passo calculado. Participantes da negociação relataram que os dois lados querem avançar rapidamente e que a primeira reunião não deve demorar. No encontro participaram, pelo Brasil, o ministro Mauro Vieira (Itamaraty), o secretário executivo Márcio Elias Rosa (Ministério do Desenvolvimento) e o embaixador Audo Faleiro (da assessoria especial da Presidência). Do lado norte-americano estavam Scott Bessent (secretário do Tesouro) e Jamieson Greer (representante comercial - USTR). Os dois lados vão discutir agora sobre que setores podem avançar e quanto tempo cada lado precisa. Além do encontro em Washington, previsto para ocorrer de forma presencial, deverá haver reuniões virtuais na sequência. Não se descartam encontros presenciais em Brasília.
O presidente Lula disse que enviaria aos Estados Unidos as três autoridades políticas mais envolvidas: o vice-presidente Geraldo Alckmin (ministro do MDIC) e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira. A expectativa é de que em até três reuniões o cenário comece a ficar mais claro, com as cartas na mesa. Alguns dos setores já conhecidos que deverão estar na agenda são café, carne, açúcar e etanol, bem como aeroespacial, além dos minerais estratégicos, entre eles reservas de terras raras. Há possibilidade de uma meta de comércio bilateral que pode alcançar US$ 200 bilhões em 2030 (em 2024, o fluxo foi de US$ 124 bilhões, segundo estimativas feitas a partir de informações estatísticas dos Estados Unidos). Há também meta de compras brasileiras dos Estados Unidos envolvendo desde aeronaves (90 aviões) a produtos energéticos, além de expectativa de investimentos nos Estados Unidos.
A estratégia também prevê colaboração em energia (inclusive combustível sustentável de aviação, SAF), minerais críticos, resiliência de cadeias de suprimento, barreiras técnicas e propriedade intelectual. Seria interesse sinalizar compras na área de Defesa e troca de experiências em questões regulatórias relativas ao setor de tecnologia, como inteligência artificial. A Embraer já apresentou aos norte-americanos um cenário de compras de produtos. Mas, ele poderá ser reforçado e ampliado. A fabricante de aeronaves compra peças e motores nos Estados Unidos para seus aviões feitos no País. A empresa já avisou a ambos os governos que têm planos de investir US$ 500 milhões no país, mais US$ 20 bilhões em compras de equipamentos para montagem de aviões, em cinco anos, e até US$ 40 bilhões em dez anos. Os dois governos sabem da importância da Embraer. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.