03/Nov/2025
O mundo do agronegócio vive um paradoxo: a safra de grãos 2025/2026 deve bater recorde, mas os produtores rurais enfrentam um cenário de endividamento preocupante e a rentabilidade no campo está em queda vertiginosa. Com taxas de juros elevadas, a inadimplência nunca esteve tão alta e o número de recuperações judiciais no setor explodiu. Esse quadro tem feito os bancos apertarem suas políticas de crédito, aumentando a distância entre o financiamento prometido no Plano Safra e os recursos efetivamente disponíveis. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), relatos indicam maiores dificuldades de acesso aos recursos, especialmente por parte dos médios produtores.
Os dados do Banco Central indicam que a inadimplência do crédito rural com recursos direcionados, nas operações contratadas a taxas de mercado, alcançou 9,35% em agosto de 2025. Esse é o maior índice desde o começo da série histórica do Banco Central, iniciada em março de 2011. O último pico, além do recente movimento de alta, ocorreu em março de 2017, mas parou em 5,19%. Observa-se um endurecimento por parte dos agentes financeiros, em razão do atual cenário de endividamento, que passaram a exigir garantias reais mesmo em operações de menor porte. Por isso, a sensação é de um desânimo que contrasta com as projeções grandiosas da safra 2025/2026.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê 350,2 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 0,8% sobre o volume colhido no ciclo 2024/2025, com expansão na soja e no milho. A rentabilidade, no entanto, tem despencado. Levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, apontou queda de 36% da margem para a soja e de 92% da margem para o milho na comparação com a safra passada. O principal fator é o aumento persistente dos custos, especialmente insumos como fertilizantes, cuja alta chega a 20%, enquanto os preços dos grãos permanecem praticamente estáveis.
As fortes oscilações cambiais também desestabilizaram o planejamento dos produtores. No caso do milho, a margem bruta caiu de R$ 1.010,00 na safra 2024/2025 para apenas R$ 79,00 por hectare na safra 2025/2026. Incluindo despesas financeiras e de uso de terra, o prejuízo pode atingir quase R$ 1.900,00 por hectare. A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) divulgou um levantamento que mostra recuo na oferta de crédito rural. Nos primeiros três meses do atual Plano Safra (julho/agosto/setembro), em todo o País, houve queda de 44% nos investimentos e de 23% nos recursos disponíveis para custeios em relação ao ciclo anterior.
É uma crise de crédito. A escassez de recursos pode impactar a safra. Há possibilidade de menos uso de tecnologia nas lavouras e um tamanho menor das áreas cultivadas. Nesse cenário, os pedidos de recuperação judicial feitos por produtores rurais somaram 2.273 solicitações em 2024, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho). O número representa aumento 61,8% em relação a 2023. A ferramenta é geralmente procurada pelo produtor como a “última chance” para equacionar um passivo financeiro. Fonte: CNN. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.