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03/Nov/2025

Potencial Econômico das Práticas Sustentáveis”

De acordo com o estudo "Potencial Econômico das Práticas Sustentáveis na Agricultura e Pecuária" feito pelo Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com apoio do Instituto Equilíbrio e da Agni, tecnologias sustentáveis adotadas na agropecuária podem adicionar até R$ 94,8 bilhões por ano ao Produto Interno Bruto (PIB) até 2030. O aumento da adoção do sistema de plantio direto, uso de biocombustíveis, bioinsumos e terminação intensiva de gado pode levar a um incremento de 0,8% ao ano na economia brasileira nos próximos cinco anos. O levantamento considera como referência o PIB nacional de R$ 11,7 trilhões obtido em 2024. A projeção indica um crescimento a partir dessas tecnologias de 0,6% a 0,8% em média por ano em um País que tem expectativa de crescimento em torno de 2% ao ano. Portanto, somente o investimento nessas tecnologias podem incrementar o avanço em quase 50%. Os biocombustíveis são a tecnologia com maior impacto econômico. Sozinhos, eles podem gerar R$ 71,4 bilhões adicionais ao ano ao PIB nacional, um incremento médio de 0,61%.

Na sequência, aparecem os bioinsumos com impacto estimado de R$ 15,2 bilhões ao ano, seguido pela ampliação do plantio direto com potencial de R$ 4,7 bilhões por ano adicionais à economia e a intensificação da terminação bovina, que pode incrementar R$ 3,5 bilhões ao ano ao PIB. O estudo aponta que as quatro tecnologias analisadas também têm efeitos expressivos na geração de emprego. A adoção em larga escala pode criar mais de 700 mil ocupações diretas até o fim da década, com destaque para os setores ligados à bioenergia e à produção agrícola de alta eficiência. Essas quatro práticas agrícolas e pecuárias de baixo carbono têm potencial de reduzir as emissões significativas de gás carbônico (CO2) até 2030, gases ligados ao efeito estufa e propiciar o uso mais eficiente da terra, além de impulsionar a economia nacional. De acordo com o estudo, as quatro tecnologias têm potencial de mitigar 50 milhões de toneladas de carbono equivalente até 2030, se a adoção das tecnologias sustentáveis seguir em ritmo crescente até 2030.

A meta do Brasil na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) é alcançar 890 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e) em 2035. Somente essas quatro tecnologias têm capacidade de liberar 6% da NDC brasileira para outros usos de emissões da própria agropecuária. A área cultivada com adoção de plantio direto deve crescer 23,3 milhões de hectares até 2030, de 10,8 milhões de hectares para 34,1 milhões de hectares. Esse método de cultivo prevê que a semeadura ocorra com o mínimo ou nenhum revolvimento do solo. O impacto ambiental previsto é de redução de 7,4 MtCO2 equivalente ao longo dos próximos cinco anos via maior fixação de carbono no solo. Um dos impactos produtivos, além da geração de renda ao PIB, é o aumento da produção de soja que pode crescer 51,1 milhões de toneladas até 2030, para um total de 197,3 milhões de toneladas. Nesse cenário, entretanto, o balanço líquido de emissões da cultura da soja tende a subir 9,2 MtCO2e, por causa da intensificação produtiva e ao crescimento da área cultivada, ampliando a necessidade de uso do plantio direto para mitigar os efeitos.

Para os bioinsumos, o estudo prevê uso dos fertilizantes e defensivos biológicos em 13 milhões de hectares com potencial redução indireta da pressão por abertura de novas áreas agrícolas, já que a produtividade de soja deve aumentar 3,4% e a de cana-de-açúcar 1,4% a partir da expansão dos produtos. De forma indireta, os bioinsumos contribuem ainda para a proteção de biomas como o Cerrado e a Amazônia. Na pecuária, a terminação intensiva tende a alcançar mais 5 milhões de bovinos em cinco anos, passando das atuais 8 milhões para 13,5 milhões de bovinos com potencial redução de 19,3 MtCO2 equivalente em virtude do menor tempo do gado a pasto, como consequência do abate precoce e do ganho de peso mais rápido, além de gerar eficiência no uso da terra e redução de emissões por animal. O aumento dos biocombustíveis, por sua vez, com a substituição parcial dos combustíveis fósseis, deve atingir uma oferta de 63,9 bilhões de litros até 2030, aponta o estudo com base em dados do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2030).

Entre eles, espera-se produção de 31,7 bilhões de litros de etanol de cana-de-açúcar, 14,3 bilhões de litros de etanol de milho, 17 bilhões de litros de biodiesel e 0,9 bilhão de etanol de segunda geração. O crescimento esperado no setor é de 69,7% até 2030. Como impactos indiretos da expansão dos biocombustíveis, o estudo cita o crescimento de 8,1% da cadeia de transportes, de 6,4% da indústria de transformação, de 3,5% da agropecuária e de 1,2% da agroindústria. O impacto sobre o consumo interno é estimado em alta de 0,6% ao ano até 2030. A expansão projetada contempla o aumento previsto nas misturas obrigatórias de biocombustíveis. Por isso, é importante o compromisso do governo com essa agenda, sem recuos na política de descarbonização. O estudo revela que já há uma adoção orgânica dessas práticas agrícolas pelos produtores rurais, o que pode ser incentivado com políticas públicas direcionadas.

Trazendo a luz econômica sobre o tema, o estudo sinaliza ao governo em que áreas precisa de volumes adicionais para poder obter até um ritmo maior de adoção dessas práticas e ajuda a apontar para quais políticas públicas devem ser redirecionados subsídios para o incentivo das práticas aos produtores, sobretudo aqueles que estão fora do sistema financeiro. O desafio agora é escalar essa adoção com políticas públicas estruturadas e instrumentos de financiamento adequados. Hoje, os recursos destinados a programas de incentivo à agricultura de baixo carbono, como o Programa de Financiamento a Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis (Renovagro), são pequenos. Este estudo poderá contribuir para a definição do volume de recursos que será necessário no próximo Plano Safra no sentido de apontar quanto será necessário de subvenção para garantia de taxas de juros mais competitivas para maior adoção dessas práticas pelos produtores. É importante também a mensuração e registro das práticas adotadas pelos produtores até mesmo para melhor controle da eficácia das políticas públicas.

O estudo será apresentado pelo Observatório de Bioeconomia da FGV durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém a partir de 10 de novembro. Este estudo mostra com clareza que a adoção de tecnologias sustentáveis gera valor real para o produtor rural e para a sociedade como um todo. Não se trata apenas de preservar o meio ambiente, é uma agenda de produtividade, renda e geração de oportunidades, disse o Instituto Equilíbrio. Após a COP30, os realizadores do estudo pretendem apresentá-lo ao governo federal, incluindo o Ministério da Agricultura e o Ministério da Fazenda, e à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A ideia é que o documento traga sensibilização política tanto para elaboração do Plano Safra, principal política de crédito ao setor agropecuário quanto ao Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD). A ideia é sensibilizar os atores políticos a partir de base técnica e científica que os impactos dessas tecnologias vão além da esfera ambiental, com os retornos econômicos superando todos os investimentos feitos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.