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03/Nov/2025

Os desafios do investimento em pesquisa no Agro

O Brasil se consolida como um dos gigantes globais na produção de alimentos, sendo o segundo maior exportador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Contudo, esse destaque contrasta com a fragilidade dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) no setor agropecuário. Especialistas apontam que a insegurança jurídica e a ausência de mecanismos de financiamento robustos são os principais entraves. Em um panorama mais amplo, o investimento em PD&I no País é cronicamente limitado. A Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) destaca que a instabilidade regulatória, a falta de segurança jurídica e a frequente mudança de normas contribuem para esse cenário.

A legislação de patentes, especialmente em biotecnologia, é vista como fraca, agravando a dificuldade. A tensão nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, intensificada pela imposição de tarifas norte-americanas de 50% sobre a importação de diversos produtos brasileiros, e a política de priorização de investimentos locais defendida pelo presidente Donald Trump, geram apreensão no setor. A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) lembra que a maior parte do investimento estrangeiro em ciência no Brasil tem origem nos Estados Unidos. A piora nas relações entre os dois países gera apreensão.

Apesar da relevância da agropecuária nacional, o País é, muitas vezes, pouco atrativo para aportes externos. Essa discussão é particularmente sensível no campo da biotecnologia, um segmento com grande potencial de crescimento. Dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Wipo) indicam que o número de patentes em biotecnologia cresceu, em média, 6,3% ao ano na última década. Apesar dos riscos comerciais, como o recente “tarifaço” norte-americano, especialistas e empresas do setor indicam que o impacto sobre as decisões de investimento em PD&I no agro tende a ser limitado. Projetos nessa área são tipicamente de longo prazo, levando anos ou até décadas para gerar retorno tangível, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP).

Essa natureza de longo prazo dificulta ajustes rápidos em resposta a mudanças geopolíticas pontuais, como tarifas comerciais ou novas exigências regulatórias. A infraestrutura, equipes e projetos estabelecidos não podem ser facilmente realocados. A estratégia das grandes multinacionais confirma essa visão. A Basf, por exemplo, investe anualmente mais de 915 milhões de euros em PD&I globalmente. O desenvolvimento de um novo defensivo agrícola exige um investimento estimado de 300 milhões de euros e 12 anos de pesquisa. O Brasil, com seus centros de pesquisa e estações experimentais, é considerado estratégico pelo grupo.

Na Syngenta Proteção de Cultivos, o cenário geopolítico atual exige uma estratégia globalmente integrada, mas com adaptações regionais. Não se trata de escolher uma região em detrimento de outra, mas, sim, de fortalecer a presença e capacidade de inovação nos principais mercados. A Syngenta investe US$ 2 bilhões por ano em sua rede global e inaugurou recentemente, em Paulínia (SP), seu primeiro Centro de Tecnologia e Engenharia de Produtos na América Latina, com um aporte de R$ 65 milhões, focado na tropicalização de soluções. Apesar dos investimentos das multinacionais, o Cepea lembra que o setor público, por meio de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ainda é o principal responsável pela maior fatia dos aportes em PD&I.

Essa dependência confere uma certa estabilidade, já que as decisões orçamentárias do governo tendem a ser menos sensíveis às flutuações de curto prazo do mercado internacional do que as decisões privadas. Contudo, os recursos são escassos. No orçamento de R$ 4,7 bilhões da Embrapa para este ano, apenas R$ 335,1 milhões (pouco mais de 7% do total) são destinados ao custeio das atividades de pesquisa, a compra de materiais essenciais. Cerca de R$ 4 bilhões são consumidos por salários, o que prejudica severamente o trabalho de investigação em campo e laboratório.

A Embrapa Soja lamenta o baixo investimento nacional: os aportes em inovação não chegam a 1% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto países como China, Estados Unidos e na Europa investem mais de 3%. Para um país que depende tanto do agronegócio, o Brasil investe muito pouco em ciência para o setor. Em resposta a esse quadro, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) do governo federal prevê o aporte de R$ 546,6 bilhões em recursos públicos e privados entre 2024 e 2029. O objetivo é desenvolver cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais, visando metas ambiciosas, como elevar o crescimento do PIB Renda Agroindústria para 6% ao ano em 2033 e aumentar a tecnificação da agricultura familiar para 66% no mesmo período. Fonte: Agrimídia. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.