21/Oct/2025
Segundo a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), os recursos disponíveis para custeio no primeiro trimestre da safra 2025/2026 (julho a agosto de 2025) caíram 23% em comparação com igual período do ciclo anterior 2024/2025. Nos investimentos, a queda é de 44%. Há um movimento de retração nos recursos, fazendo este ser o pior momento da história desde o Plano Real, em 1995. E ainda não se chegou ao ápice da crise. Apenas no Rio Grande do Sul, os percentuais de retração são de, respectivamente, 25% e 39%. A crise de crédito atinge todo País e é a maior da história, seguramente. A maior parte desses recursos não é público, portanto, não é controlado. 75% do dinheiro não recebe subsídio, então é natural que ele cresça. Apesar do anúncio ter sido o do maior Plano Safra da história, há uma distância entre o que se anunciou e o que efetivamente se observou. Isso já aconteceu no Plano Safra anterior. O Plano Safra 2025/2026 ainda não terminou, mas está pior do que do ano passado.
Na prática, os recursos oferecidos são inferiores ao período anterior. Antes, havia diferença entre o anúncio e o disponível. O anúncio era muito maior que a realidade, mas crescia efetivamente, não o montante anunciado, mas era maior. Agora não, agora há uma queda e grande do valor que é liberado. E isto é a primeira vez que está acontecendo. Outro ponto de preocupação está na elevada inadimplência do setor agropecuário. Em julho de 2025, a taxa de inadimplência estava em 5,14%, a maior registrada até então. O recorde anterior, em 2017, tinha sido pouco mais de 3% e preocupa porque ainda está subindo. A taxa com crédito controlado está em 1,86%, enquanto a de taxas de mercado atingiu 9,35%. Em relação a inadimplência com juros livres, a péssima notícia é que o cenário está longe de ser estabilizado ou retrair, mas, pelo contrário. O juro livre tem uma correlação com a Taxa Selic de 8 períodos atrás, ou seja, ainda não chegou o “fundo do poço” da inadimplência. Vai aumentar porque ainda há os efeitos de aumentos de juros anteriores.
Existe uma defasagem entre a decisão do Copom e o que acontece na economia. Inflação, inadimplência, tudo isso tem efeito defasado. Por isso que o Banco Central chama de “Horizonte". A origem da inadimplência está relacionada aos juros, mas o aumento dela torna o crédito rural mais escasso e, consequentemente, a crise mais grave. São duas coisas que caminham juntas, elas se retroalimentam. A inadimplência faz com que os bancos aumentem o seu nível de segurança. Só que para aumentar o seu nível de segurança, eles estimulam o aumento da inadimplência, porque o produtor não pega crédito. Ele não tem o que fazer, ele vende o produto para comprar insumo e vem a inadimplir. Um dos reflexos está no aumento de exigências para liberação dos recursos. O sistema financeiro passou a utilizar a alienação fiduciária para aprovação e crédito. O agravamento, em todo o Brasil, das questões ligadas à adimplência de obrigações contraídas por produtores e alavancagem demasiada trouxe uma incerteza neste panorama e os bancos aproveitaram a ocasião para se utilizar de um instituto que é o da alienação fiduciária.
A Farsul orienta os produtores sobre a questão. O produtor, que já está numa situação que não é boa, sujeito a licitudes de secas novamente, qualquer problema que haja, ele poderá não ter o recurso e perder a sua propriedade. Então, a orientação é que o produtor procure sempre tomar recursos por outra modalidade. Por hipoteca, por exemplo, ou outros meios que não a alienação fiduciária, que é um meio muito expedido, muito rápido e muito comprometedor do patrimônio. Não se trata de uma crítica ao sistema financeiro ou ao instrumento. A alienação fiduciária não é um mal. Ela se justifica, por exemplo, na compra de um automóvel, um bem que não tinhas e que se não o pagar, irá perder rapidamente. Agora, para quem não está nessa situação, é algo que não é recomendado. Se trata de uma atividade que é feita a céu aberto, sujeita a intempéries. Uma garantia tão larga não parece uma boa ideia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.