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21/Oct/2025

Alimentos devem pressionar inflação no 4º trimestre

Os preços dos alimentos no varejo devem voltar a pressionar a inflação no último trimestre deste ano, pondo fim a um período de quatro meses consecutivos de comida mais barata. A virada no gasto com a alimentação no domicílio, no entanto, não deve provocar descontrole na inflação de 2025, que vem perdendo fôlego. Apesar do quadro favorável da inflação em geral, é esperado um certo desconforto no carrinho de compras de alimentos do brasileiro, especialmente nos preços das proteínas, como carne bovina e aves, do café, e de itens in natura, como legumes e frutas, entre outubro e dezembro. Normalmente, nesse período do ano há mais dinheiro circulando por causa do pagamento do 13º salário. Isso abre espaço para que o consumidor aceite reajustes. As pressões nos preços dos alimentos já apareceram nas cotações dos produtos agropecuários no atacado nos dois últimos meses, revertendo a trajetória de queda.

Estudo feito pela consultoria 4Intelligence mostra que, entre maio e julho, o Índice de Preço no Atacado (IPA) dos produtos agropecuários, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), registrou quedas expressivas. As boas safras agrícolas, a gripe aviária (que aumentou a oferta interna de aves antes destinadas à exportação e pressionou também os preços de outras proteínas, como a carne bovina), o câmbio e o tarifaço dos Estados Unidos, que inicialmente ampliou a oferta de alimentos no mercado doméstico, foram fatores decisivos para a queda dos preços da comida. De junho a setembro, o grupo alimentação no domicílio no IPCA registrou deflação, como reflexo do recuo dos preços no atacado que houve nos meses anteriores. Havia uma evolução de preços bastante benigna, que colocou a alimentação doméstica nos últimos meses com taxas até abaixo da sazonalidade.

Essa tendência, no entanto, deve sair de cena no último trimestre. Em agosto, o IPA-DI dos produtos agropecuários subiu 1,53% e em setembro, 1,89%. Como existe um intervalo para a transferência das cotações do atacado para o varejo, a perspectiva é de que os preços da alimentação no domicílio voltem a subir em outubro. No IPCA de setembro, alimentação no domicílio caiu 0,41%, após redução de 0,83% de agosto. Foi a quarta queda seguida. O câmbio e as incertezas produzidas pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também devem ser fatores a pressionar os preços dos alimentos e assim ampliar a pressão sobre a inflação. A Lifetime Gestora de Recursos acredita que o nível atual do câmbio não se sustenta por muito tempo, pois as incertezas relacionadas à economia dos Estados Unidos irão, em algum momento, se dissipar, levando à valorização global da moeda norte-americana.

Além disso, o Brasil tem um problema fiscal a ser solucionado. Esses fatores devem depreciar o Real em relação ao dólar e ter impacto inflacionário. Boa parte do câmbio mais favorável já foi repassado e dá para ver isso nos dados de preços de alimentação e de bens industriais. O efeito da sazonalidade pode justificar a projeção de aumento de preço da comida. Em geral, a inflação de alimentos é menor nos meses de junho, julho e agosto, quando as questões climáticas e a safra ajudam. Mas, no último trimestre, a influência desses fatores cessa. Para o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, o câmbio é uma variável que pode vir a comprometer os preços dos alimentos, que são muito voláteis. O câmbio depende dos próximos capítulos da novela "Brasil-EUA", depois do tarifaço.

Apesar do peso do câmbio nos preços das commodities agrícolas, cotadas em dólar, a FGV aposta em aumentos menores de preços para os alimentos para o último trimestre do ano em relação à média do período do ano anterior. Para o último trimestre deste ano, a 4intelligence projeta que alimentação no domicílio deve acumular alta de 3,22%, o segundo maior resultado em cinco anos e acima da sazonalidade do período. A mediana da variação desse grupo de preços entre 2011 e 2024 foi de 2,40%. No entanto, no último trimestre de 2024, a inflação da alimentação no domicílio subiu 4,26%, afetada pela forte estiagem. Apesar da volta de pressões significativas nos preços dos alimentos no final de ano, época de maior consumo, os varejistas terão de ser criativos para impulsionar as vendas, fazendo mais ofertas para atrair o consumidor para a loja. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.