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21/Oct/2025

Endividamento de grandes empresas é preocupação

A pressão no endividamento de grandes empresas brasileiras colocou os investidores estrangeiros em alerta e chegou a contaminar, inclusive, as taxas do contrato de proteção contra calote soberano do Brasil, o Credit Default Swap (CDS), a principal medida de risco de um país. O ambiente no mercado de crédito dos Estados Unidos também não está dos melhores e, nos últimos dias, problemas financeiros em algumas empresas têm aumentado a cautela de investidores estrangeiros com papéis corporativos de maior risco. A perspectiva de reestruturação das dívidas da petroquímica Braskem e da empresa de gestão de resíduos Ambipar, que tem 178 subsidiárias incluindo várias no exterior, fizeram investidores de títulos emitidos no exterior (bonds) repensar suas posições na Raízen, empresa de energia renovável do Grupo Cosan, que segue com os papéis em sob pressão.

O CDS do Brasil, considerando os contratos de cinco anos, chegou ao seu pior nível desde junho no dia 10 de outubro, tocando 160 pontos-base e saindo de uma mínima no mesmo período de 125 pontos-base em 18 de setembro. No mesmo dia 10, os bonds da Raízen com vencimento em 2054 chegaram a operar na casa de 63% do valor de face, implicando em um retorno ao investidor de cerca de 11%, o que normalmente pagam os papéis de empresas consideradas em situação de risco de inadimplência. Braskem com vencimento em 2028 e Ambipar com vencimento em 2033 fecharam em patamares expressivamente baixos, em 39% do valor de face e 9,5% do valor de face, respectivamente, lembrando que papéis abaixo de 50% do valor de face já sugerem problemas. No dia 16 de outubro, o bond da Raízen foi negociado em 81% do valor de face, enquanto Braskem 28 opera em torno de 42% do valor de face e Ambipar, a 12,25% do valor de face.

Segundo a Novus Capital, há cases de crédito começando a ‘pipocar’. E quando existe um movimento forte no exteriora, os fundos têm de fazer hedge (proteção) rapidamente. O CDS do Brasil sofreu. Nesse ambiente, como o estrangeiro está muito posicionado em dólar, por causa do diferencial de juros, qualquer movimento mexe muito com o mercado, sobretudo o câmbio e o CDS. Houve um movimento generalizado de venda de bonds de mercados emergentes, mas que acabou sendo mais forte no Brasil por causa dos recentes eventos corporativos. No caso de Raízen, foi ainda mais pronunciado, com temores específicos sobre a situação financeira da empresa do grupo Cosan. A Raízen cedeu frente à percepção de que a empresa está queimando caixa rapidamente e precisará vender ativos ou de uma injeção de recursos antes de 2027.

Os papéis precificaram aversão ao risco como efeito de contaminação pelos problemas de Braskem e Ambipar. A máxima 'too big to fail' (‘muito grande para falir’) talvez não seja mais verdadeira. Embora esse temor possa ter feito preço, o JPMorgan afirmou que Raízen e Braskem são histórias diferentes. O banco acredita que a Raízen deverá seguir queimando caixa nos próximos dois anos, mas aposta que a empresa mantém flexibilidade suficiente para enfrentar esses desafios. O banco não considera a Raízen como análoga à Braskem, onde uma reestruturação exige execução quase perfeita. Em vez disso, a materialização de um único catalisador, como vendas de ativos (notadamente na Argentina), um empréstimo de acionista, ou uma injeção de capital de um novo parceiro estratégico, poderia fornecer à empresa mais tempo até que seu fluxo de caixa seja consistentemente positivo.

Diante da piora no mercado, a Raízen emitiu um comunicado ao mercado, na última semana, em que diz não estar considerando qualquer forma de reestruturação de dívida ou pedido de recuperação judicial ou extrajudicial. A companhia informou ainda que mantém posição robusta de caixa, com R$ 15,7 bilhões em disponibilidades ao final do primeiro trimestre 2025-26 e R$ 5,5 bilhões (US$ 1,0 bilhão) em linhas comprometidas de crédito rotativo (RCF) disponíveis. No documento, a Raízen ainda diz que segue executando sua estratégia de gestão financeira voltada à otimização do perfil de endividamento e da estrutura de capital e que foi informada por seus acionistas controladores que as discussões e avaliações sobre alternativas de capitalização estão em curso. A onda de preocupações com o endividamento de empresas dos investidores no exterior não se restringe somente aos papéis brasileiros.

Os bonds de empresas norte-americanas de maior risco, classificadas como "high yield", estão sob escrutínio do mercado, após o JPMorgan marcar em seu balanço do terceiro trimestre perdas de US$ 170 milhões com a falência da Tricolor, empresa que atua no segmento de crédito para automóveis. “Todos deveriam ficar de sobreaviso”, disse o JPMorgan, ao comentar o balanço, prevendo ainda deterioração no ambiente de crédito quando a economia começar a piorar. “Quando você vê uma barata, provavelmente há outras”. A declaração ressoou nos ouvidos não só dos bancos, mas das gestoras que compram títulos de crédito das empresas, já que o crédito corporativo ganhou espaço na carteira dos fundos nos últimos anos, à medida que gestores foram buscando mais "gordura" em papéis de empresas, incluindo as high yield, frente ao longo período de afrouxamento monetário nos Estados Unidos e no mundo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.