16/Oct/2025
A reunião preparatória para a COP30, que terminou na terça-feira (14/10), em Brasília, teve embate a respeito do fim do uso de combustíveis fósseis. A Arábia Saudita reagiu de forma contundente após o Brasil e outros países abordarem a necessidade de fazer a transição rumo ao fim desse recurso energético. Durante a abertura da plenária sobre transição justa, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, citou a decisão da COP28, em Dubai, que acordou a transição rumo ao fim dos combustíveis fósseis. Marina Silva defendeu ainda o fim dos subsídios “ineficientes” para essa fonte de energia. A decisão representa um chamado para eliminar progressivamente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis. Hoje, esses subsídios variam de 1,5 a 7 trilhões de dólares, a depender da metodologia, disse.
Além do Brasil, outros países se manifestaram a favor de discutir sobre como implementar a decisão de Dubai. A Arábia Saudita criticou a abordagem do tema e afirmou que o Balanço Global (GST) não diz respeito somente a esse tópico, mas é um “menu”. A Arábia Saudita é o segundo maior produtor de petróleo do mundo e lidera o grupo dos Estados árabes, que contém outros grandes petroestados, como os Emirados Árabes Unidos. Após o fim da pré-Cop, Marina Silva falou sobre o tema. Segundo a ministra, o protesto é algo que os sauditas já manifestaram antes, em reuniões fechadas. Eles argumentam que o parágrafo 28 é uma espécie de menu, e não deve singularizar ou discriminar somente uma tecnologia. Apesar da divergência, de maneira geral, os países demonstraram disposição em negociar, o que foi visto como um bom sinal para a COP30. Isso porque, a presidência conseguiu mapear os principais pontos sensíveis e descartar algumas propostas que não teriam adesão entre as partes.
Para a CEO da COP-30, Ana Toni, mais do que dissensos, foi escutado de algumas delegações o que eram as ‘linhas vermelhas’ dos países. Uma das coisas que a presidência da COP fez, mais do que só trazer soluções, foi entender grupos que queiram a mesma coisa, mas que têm red lines diferentes, para eles se juntarem e trazer soluções em termos de linguagem acordada para eles. Por exemplo, financiamento para adaptação. Todo mundo acha que é muito importante, só que tem países que querem de maneiras diferentes. Um dos principais atores nas negociações climáticas, a União Europeia foi cobrada nos bastidores pelos países para apresentação de suas metas. Neste ano, os países precisam rever suas ambições no âmbito do Acordo de Paris, mas até o momento, o bloco europeu não apresentou sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).
O atraso na apresentação das NDCs tem frustrado a presidência da COP30. Segundo fontes, a União Europeia tem sido arredia nas negociações. Na terça-feira (14/10), o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, fez uma reunião bilateral com o representante da União Europeia, Wopke Hoekstra. “Ele estava muito consciente de que, aqueles que esperam uma liderança da União Europeia, esperam que comece com as suas NDCs”, disse o presidente da COP30 sobre a reunião. Wopke Hoekstra é o alto representante para o clima do bloco europeu. Historicamente, o grupo se posicionava de forma progressista em relação à questão climática, mas a rediscussão da meta climática vive um impasse em relação ao tamanho da ambição a ser assumida. Um dos principais tópicos de discussão da pré-COP foram os indicadores para adaptação climática. O tema é caro ao Brasil sobretudo após as enchentes do Rio Grande do Sul. Apesar das divergências, os países estabeleceram um cronograma para avançar com o tópico em Belém.
Parte dos países manifestou a intenção de definir os indicadores ainda na primeira semana da COP30. A segunda semana seria dedicada à implementação. Estes indicadores devem ter uma natureza voluntária e as partes devem escolher importar os que mais se adequam à sua realidade nacional e que os mesmos devem ser simples e não constituir um esforço adicional para os países, evitando também a duplicação de esforços, disse a representante da Angola. Um dos pontos mais controversos, os chamados “meios de implementação” incluem mecanismos de financiamento para apoiar a adaptação climática. Ter uma agenda de adaptação com métricas, com recursos e com muita solidariedade para entender que o problema da mudança do clima, ainda que seja uma questão global, quando se traduz nos eventos extremos afeta localmente, afirmou a ministra Marina Silva.
“Fantasma” das últimas discussões climáticas, o financiamento continua como uma questão problemática. Nos próximos dois dias, a presidência da COP30 abordará o tema diretamente com os países em reuniões bilaterais e conversas com negociadores. Além do financiamento, serão abordados assuntos como tecnologia, gênero e perdas e danos. Nesse contexto, o círculo de ministros da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, é visto como uma peça-chave no debate. Na COP29, em Baku, os países concordaram com uma meta de US$ 300 bilhões até 2035 para financiar ações dos países em desenvolvimento no combate às mudanças climáticas. O valor frustrou delegações. Estimativas indicam que o valor necessário seria de US$ 1,3 trilhão. A controvérsia em relação aos valores acendeu o alerta da presidência da COP ainda nas reuniões preparatórias de Bonn, na Alemanha, em junho. O temor é de que países insistam em discutir a temática em Belém, travando a pauta da conferência. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.