15/Oct/2025
Com os dados consolidados das exportações de setembro é possível constatar que muitos municípios conseguiram escapar do baque das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos importados. Ao todo, 906 municípios do País estavam ameaçados pelo tarifaço em julho, mas as perdas ficaram restritas a 742 deles. Esse número, porém, pode crescer. Rio de Janeiro (RJ), Confins (MG), Sete Lagoas (MG) e Ribeirão Pires (SP) estão entre os municípios mais afetados pelo tarifaço. As exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 2,6 bilhões no mês passado, 20% menos que no mesmo mês de 2024, quando foram vendidos US$ 3,2 bilhões. As maiores quedas foram sentidas na venda de carne bovina, ferro fundido, açúcares de cana-de-açúcar, café não torrado, madeira e armas, todos produtos que não escaparam do tarifaço.
Município mais impactado no período, o Rio de Janeiro (RJ) teve perdas de US$ 62,2 milhões, queda de 22% em relação a setembro de 2024. Empresas instaladas na cidade vendem ferro e aço para os norte-americanos, produtos que ficaram fora da sobretaxa do fim de julho, mas que já eram taxados em 50% desde o mês anterior e foram afetados. Em seguida, aparecem cidades que perderam praticamente todas as exportações para os Estados Unidos em setembro: Confins (MG), que fez vendas específicas de aeronaves para os norte-americanos em 2024 e, por isso, aparece na lista; Sete Lagoas (MG), também impactada pelas exportações de ferro e aço; e Ribeirão Pires (SP), que sentiu a queda nas vendas de armas e munições.
Entre os mais afetados, estão outros municípios que dependiam fortemente dos produtos taxados, entre eles Imperatriz (MA), por causa de pastas de madeira, Joinville (SC), com máquinas e equipamentos, e Araxá (MG), que vende café aos norte-americanos. No total, 265 cidades que venderam para os Estados Unidos em setembro do ano passado não tiveram nenhum faturamento em setembro. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), existem setores e empresas localizadas em lugares diferentes do Brasil em que o tarifaço se tornou proibitivo dar continuidade ao processo de exportação. No caso de alguns setores, como agroindústria, carne e café, eles têm facilidade maior para diversificar os destinos de exportações, mas, setores industriais como máquinas e equipamentos, os produtos são elaborados para as características do mercado norte-americano.
Piracicaba (SP), por exemplo, município que está sob maior ameaça, até aumentou as exportações em US$ 29,4 milhões em setembro. A cidade vende máquinas para a indústria agrícola e automotiva dos Estados Unidos. O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas de Piracicaba e Região explica que os impactos ainda estão por vir. As vendas dos maiores exportadores da cidade para os Estados Unidos são negociadas em um modelo chamado forecast, com pedidos planejados em uma data e confirmados depois de dois a três meses. As vendas de setembro, portanto, refletem negócios iniciados antes do tarifaço. E o impacto deve ser sentido a partir de outubro e novembro.
O grande problema é que algumas empresas da região de Piracicaba fornecem para uma multinacional que exporta para os Estados Unidos, fizeram investimentos e não vão conseguir ter esse retorno. Os maiores exportadores revisaram suas projeções de produção e faturamento para menos 6% em 2025. As grandes empresas sentem, mas quem sai machucado é a cadeia de fornecedores. Em Piracicaba, os produtos são modulados para os clientes norte-americanos, que podem conseguir fornecedores em outros países, ou arcar com preços maiores até acharem quem produz por um valor menor. O mercado norte-americano é estratégico para esses produtos, que são vendidos para determinados tipos de empresas, são muito específicos e não tem como repor a venda em outra empresa.
A conversa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Donald Trump, semana passada, animou os empresários, mas analistas dizem que, para as companhias e municípios brasileiros mais dependentes dos Estados Unidos, é preciso reverter o tarifaço. Segundo a CNI, os Estados Unidos são o principal destino da indústria de transformação, de produtos com valor agregado e bens que acarretam efeitos muito positivos para a economia. A cada US$ 1 bilhão exportado aos Estados Unidos, são gerados 24 mil empregos no Brasil. Na Ásia, esse número cai para 16 mil empregos. É indispensável reverter esse cenário. Afetados pelas maiores tarifas, Matão (SP), que vende frutas aos norte-americanos, teve queda de 63% nas exportações aos Estados Unidos, e Guaxupé (MG), que exporta café, teve perda de 22%. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.