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15/Oct/2025

COP30: lado positivo de ausências de Trump e Milei

As delegações dos Estados Unidos e da Argentina se ausentaram, mais uma vez, dos debates prévios à COP-30. Os dois países não compareceram à reunião pré-COP que ocorreu entre os dias 13 e 14 de outubro, em Brasília, a última etapa prévia à conferência em Belém (PA). Ao todo, ministros e representantes diplomáticos de 67 países participam. Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que convidou todos os chefes de Estado e de governo, e reiterado o convite ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump em chamada telefônica há uma semana, a chance de presença de Trump é considerada mais do que remota. O presidente da Argentina, Javier Milei, também não deve aparecer na Conferência das Partes (COP-30) sobre Mudança do Clima das Nações Unidas. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, reiterou que convidou a todos.

O número de líderes globais confirmados ainda é mantido em sigilo pelo governo brasileiro, que promove a COP30 e uma cúpula política de alto nível dias antes. Ideologicamente alinhados, os governos Donald Trump e Javier Milei são marcados por viés negacionista climático e, nas últimas reuniões globais, tiveram uma postura crítica sobre a existência e o enfoque de fóruns multilaterais, bloquearam acordos e objetaram a discussão de assuntos. Quando não barraram por completo comunicados conjuntos, optaram por se desassociar das declarações. Segundo o Observatório do Clima, Estados Unidos e Argentina, como países, são importantes para a agenda de clima. Mas, neste momento, seus atuais governos só atrapalham. Hoje, o maior favor que os presidentes Milei e Trump podem fazer para a conferência de Belém é não vir. Porque, se vierem, será certamente para atrapalhar as negociações.

São negacionistas climáticos e, em seus países, fazem de tudo para prejudicar a agenda. Na COP não seria diferente. Ao longo de 2024, o governo Milei ordenou uma blitz conservadora na diplomacia argentina e passou a barrar temas da Agenda 2030 da ONU e não aceitar nem sequer discutir sustentabilidade, clima e gênero. Isso ocorreu, por exemplo, no G20 e no Mercosul. Na COP29, após a vitória de Trump, Milei decidiu desengajar seu país do “multilateralismo climático”. A delegação da Argentina abandonou a sala da COP29 em Baku, no Azerbaijão, seguindo instruções diretas da chancelaria em Buenos Aires. Na semana de alto nível da ONU, em Nova York, Donald Trump questionou na principal tribuna do mundo a emergência climática e disse que a “pegada de carbono é uma farsa inventada por pessoas com más intenções e elas estão trilhando um caminho de destruição total”.

Ele afirmou que “ambientalistas radicalizados querem fechar fábricas nos Estados Unidos e acabar com as vacas”. Em seguida, Allison M. Hooker, subsecretária para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, afirmou que o G20, que Donald Trump vai assumir no ano que vem, vai parar de se ocupar de temas sociais e ambientais e voltar às origens com foco econômico. A ausência na pré-COP em Brasília, que serve para tentar destravar a agenda e avançar ao máximo com negociações de temas complexos, repete o que as delegações norte-americana e argentina já fizeram em outras reuniões climáticas prévias, como a de Bonn, na Alemanha, em junho. O real grau de engajamento e participação dos norte-americanos ainda é uma incógnita para diversos negociadores e chefes de delegação. Por regra, a saída do Acordo de Paris somente se concretiza em janeiro de 2026 e, a rigor, os Estados Unidos seguem como parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Mas, até agora, eles têm se ausentado da mesa. O que, para diplomatas envolvidos nas longas discussões, pode não ser o pior cenário. Apesar do abandono do Acordo de Paris pelos Estados Unidos, maior emissor histórico de gases estufa e principal financiador, ser uma má notícia e ofuscar o futuro da COP30, boicotar é considerado menos ruim do que sabotar a conferência. As negociações da COP30, assim como as de outros fóruns como o G20, precisam ser resolvidas por consenso, e as delegações têm de fato a prerrogativa de barrar acordos. Por isso, a ausência é uma postura negativa para a urgência, mas pode complicar menos do que uma presença “deletéria”, um temor por diplomatas de governos engajados, e da presidência brasileira. No caso da reunião pré-COP, não há um processo de negociação formal em curso e, portanto, todos podem se pronunciar sem problemas. Mas, uma alta autoridade da COP admite reservadamente que esse perfil pode bloquear a agenda. O risco existe em Belém.

A ideia é que a COP30 possa avançar nas negociações, evitar bloqueios de um lado ou do outro que sejam provocados pelo desejo de colocar na agenda coisas que não estão na agenda. Então, a primeira coisa é assegurar a boa vontade de todos para que a COP possa começar já com negociações. Em entrevista antes da pré-COP, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, negou um “apagão da presença” norte-americana e argentina. Questionada sobre o papel desses países, ela indicou que o caminho para driblar a falta de participação dos países, outrora engajados, era lidar com o setor privado e os governos regionais internos, a paradiplomacia, como o Estado da Califórnia (Gavin Newsom) e a Província de Buenos Aires (Axel Kicillof). “Estamos trabalhando para que haja uma presença desses países na agenda de clima”, disse Marina Silva, citando entes subnacionais. “Ainda que tenha uma orientação central, ética e ciência não foram sepultadas nesses países.” Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.