13/Oct/2025
De acordo com dados de estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), no mês em que o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra empresas brasileiras entrou em vigor, as atividades exportadoras já registraram fechamento de postos de trabalho com carteira assinada no mercado de trabalho nacional. Em alguns segmentos, o tombo no saldo de vagas de agosto de 2025 chegou a três dígitos na comparação com o resultado de um ano antes, em agosto de 2024. Houve quedas expressivas em setores altamente sensíveis às medidas tarifárias, especialmente na fabricação de produtos de metal, produção florestal, metalurgia e fabricação de produtos de madeira.
O levantamento tem como base os microdados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho. O mercado de trabalho registrou abertura líquida de 147.358 postos com carteira assinada em agosto, menor resultado para o mês na série do Novo Caged, iniciada em janeiro de 2020. O saldo foi 38,4% inferior ao de agosto de 2024, quando houve geração de 239.069 vagas. Todas as dez atividades econômicas no ranking de maiores quedas percentuais no saldo de empregos formais registraram demissões líquidas em agosto. Os saldos foram entre 100% e 400% menores que os de agosto de 2024. Juntos, esses dez segmentos eliminaram 13.769 postos de trabalho com carteira assinada em agosto deste ano, recuo de 252% em relação ao desempenho de agosto de 2024. É um ajuste, porque em meados de julho já se começou a ventilar todas as informações relacionadas ao tarifaço.
Então, os agentes e empreendedores acabam gerando expectativas, já vão se ajustando. Se eles tinham uma perspectiva de contratar mais pessoas ou mesmo de segurar um trabalhador temporário por mais tempo, isso pode ter afetado esse tipo de relação e ele ter demitido. Seis dessas atividades que mais pioraram o saldo de vagas em agosto de 2025 ante agosto de 2024 tinham relação com exportações: fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos, 195 vagas fechadas em agosto, queda de 108% no saldo ante o desempenho de agosto de 2024; produção florestal, 586 vagas a menos, queda de 149%; metalurgia, 406 vagas fechadas, recuo de 138%; fabricação de produtos de madeira, 1.780 vagas eliminadas, queda de 407%; extração de minerais não metálicos, menos 98 vagas, baixa de 119%; e agricultura, pecuária e serviços relacionados, menos 2.005 vagas, retração de 334%.
O Brasil exporta muita madeira, e o setor de madeira foi muito afetado pelo tarifaço, assim como a metalurgia, produtos de metal. Esses são segmentos que já vinham comunicando realmente que seriam muito afetados pelas medidas do Donald Trump. Completam o ranking: atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão, gravação de som e edição de música, menos 1.120 vagas em agosto de 2025, queda de 201% ante agosto de 2024; seleção, agenciamento e locação de mão de obra, menos 7.261 vagas, recuo de 375%; organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais, menos 39 vagas, baixa de 270%; e correio e outras atividades de entrega, menos 279 vagas, retração de 343%. Além do tarifaço, o mercado de trabalho já vinha perdendo fôlego por conta da política monetária contracionista. O mercado de trabalho continua num nível bom, aquecido, mas agora ele desacelerou em relação ao ano passado.
E com esse fenômeno adicional do tarifaço, os setores que apresentaram maior decrescimento também são os que já tinham potencial maior de serem tarifados. Então é difícil a gente dizer quanto que é da conjuntura interna e quanto é de fato externo, mas os dois fatores estão impulsionando para que esses segmentos performem mal. A expectativa é que o saldo de vagas no agregado do mercado de trabalho formal permaneça positivo em 2025, porém mais brando, com sinais de acomodação. "Obviamente, tem os meses de outubro, novembro e dezembro, que são meses que geralmente têm mais contratações temporárias. Isso pode impactar positivamente ou atenuar essa desaceleração que já vem sendo observada, mas a gente não vai ver uma performance tão boa quanto vimos nos anos anteriores, de 2023 e 2024. Tanto que esse foi o pior agosto dos últimos quatro anos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.