06/Oct/2025
Comprar pelo valor de face a tese de que a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para salários até R$ 5 mil mensais vai afetar a demanda, com repercussão na inflação e consequente eventual mudança no plano de voo do Comitê de Política Monetária (Copom), pode não ser uma boa aposta. Segundo economistas, há pelo menos três bons motivos para assegurar que a questão é muito mais complexa: câmbio apreciado, elevado endividamento das famílias e capacidade ociosa da indústria. Segundo a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), essa iniciativa tem que ser vista sob a ótica da reorganização tributária, uma vez que ele vê a ampliação da isenção como uma medida de justiça tributária. Outro ponto de vital importância, pelo menos neste momento, é o efeito cambial.
Mesmo com o nível de desemprego mais baixo da história (no trimestre encerrado em agosto a taxa caiu a 5,6%), a inflação tem desacelerado. Isso é explicado pelo elevado diferencial de juro a favor do Brasil, que se mantém entre as maiores taxas do mundo. Se o dólar continuar cedendo, tende a compensar as pressões de inflação. E a isenção até R$ 5 mil tem que ser vista pela ótica de reorganização tributária. Fica uma economia, em tese, mais eficiente. A medida tende a aquecer a atividade econômica. Mas, hoje, é que o câmbio está jogando muito mais a favor da redução da inflação do que as questões relativas à demanda. A despeito da massa salarial estar batendo recorde atrás de recorde, a inflação está caindo.
O juro aumentou, mas um fator que está jogando mais no sentido de trazer essa inflação para baixo hoje é o efeito câmbio, sobretudo em alimentos, que têm uma sensibilidade maior quanto ao aumento de demanda decorrente, por exemplo, do melhor poder aquisitivo das famílias por parte da isenção até R$ 5 mil. Para a André Perfeito Consultoria Econômica (APCE), a relação entre o aumento da isenção e a demanda não deverá ser tão forte como alguns economistas têm apregoado pelo fato de as famílias estarem muito endividadas. Então, não dá para saber o quanto disso vai se transformar em demanda efetivamente em termos agregados. Ainda que o excedente de dinheiro seja direcionado para consumo, o setor produtivo teria condições plenas de aumentar a oferta.
A parte ociosa da capacidade instalada da indústria, por exemplo, poderia ser ocupada de forma a amortecer o impacto da isenção na demanda e na inflação. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) no setor da indústria de transformação de São Paulo está em 79,4%. Isso significa que há um espaço de 20,6% da capacidade instalada da indústria a ser preenchido. No setor de máquinas e equipamentos, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o Nuci em agosto fechou em 78,8%, o que mostra uma ociosidade de 21,2%. A carteira de pedidos na indústria de máquinas e equipamentos, após ter crescido 2,1% em julho de 2025, recuou 2,5% em agosto. Houve piora nas carteiras da maioria dos setores, mas as maiores ocorreram nos segmentos de máquinas agrícolas e de máquinas para a indústria de transformação.
Ou seja, há espaço para aumentar a oferta e atender a um eventual avanço da demanda. Existe ociosidade em alguns setores. Isso pode dar espaço para aumentar a oferta e aliviar a pressão sobre a demanda. Agora, a preocupação ou a percepção é em relação ao mercado de trabalho continuar muito apertado e isso aumentar o salário em termos reais. Talvez o salário possa parar de subir e a pessoa ganhar mais por conta da isenção do IR. Eu não daria 'de barato' que toda essa isenção vai virar demanda automática não. Outro indicador que reforça a baixa atividade da indústria paulista é o Sensor, que em setembro fechou em 49,6 pontos. Se comparado com agosto, cresceu 2,7 pontos e apresentou diminuição de 1,4 ponto em relação a setembro do ano passado, quando estava em 51,0 pontos.
Mas, apesar da alta sobre o mês anterior, o indicador permanece abaixo dos 50,0 pontos, o que sinaliza a percepção dos empresários de contração da atividade industrial. As vendas, segundo a Fiesp, marcaram 50,3 pontos em setembro. O dado é 3,5 pontos maior que o de agosto e 1,0 ponto abaixo do registrado em setembro de 2024. Os estoques encerraram setembro em 49,0 pontos, com alta de 5,5 pontos na comparação com agosto, mas ainda abaixo da linha divisória dos 50,0 pontos. Por essas e outras razões, o Banco Central não deve alterar seu plano de voo, que é de cautela e de esperar para ver a concretização dos efeitos do aperto monetário na economia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.