03/Oct/2025
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a elevação da taxa básica de juros no País interrompeu o ciclo de recuperação da indústria brasileira de maior intensidade tecnológica na primeira metade deste ano. A manutenção da política monetária contracionista e efeitos adversos advindos do tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump contra exportadores brasileiros devem resultar num desempenho ainda pior no segundo semestre deste ano. No geral, a parte da indústria de transformação mais voltada a atender o mercado doméstico, incluindo várias atividades fabricantes de bens duráveis para consumo e bens de capital para investimentos, sentiu mais intensamente o peso do aumento dos juros e do enfraquecimento da demanda interna.
Os ramos mais intensivos em tecnologia, que possuem maior produtividade e geram empregos mais qualificados, foram os que pisaram mais fortemente no freio. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a produção industrial brasileira de alta tecnologia saiu de um avanço de 14,9% no quarto trimestre de 2024 para alta de 1,6% no primeiro trimestre de 2025, descendo a seguir para um recuo de 3,3% no segundo trimestre deste ano. No segundo trimestre, os destaques negativos foram os desempenhos das atividades farmacêutica (-6,1%), equipamentos de rádio, TV e comunicação (-2,0%) e aeronaves (-1,8%). Houve uma contenção da demanda interna importante nesse segundo trimestre. A política monetária começa claramente a fazer efeito sobre o dinamismo econômico.
Houve desaceleração intensa também na produção da indústria de média-alta tecnologia, que saiu de elevação de 11,9% no quarto trimestre de 2024 para altas de 7,8% no primeiro trimestre e 2,9% no segundo trimestre deste ano. O freio atingiu os ramos de veículos, máquinas e equipamentos, químicos e máquinas e materiais elétricos. É uma pena o Brasil ter abortado de novo essas fases tão curtas de expansão industrial. Porque é preciso ter um período mais longo de expansão para viabilizar investimentos e um processo de modernização mais substancial, e, consequentemente, obter uma trajetória de produtividade superior. Essas trajetórias de 'stop and go', esses crescimentos de fôlego curto no setor não contribuem para sua modernização e, consequentemente, para obtenção de níveis de produtividade e competitividade maior. No total da indústria de transformação, a produção saiu de aumento de 4,6% no quarto trimestre de 2024 para alta de 2,6% no primeiro trimestre deste ano e queda de 0,7% no segundo trimestre.
Do ponto de vista do dinamismo da indústria esse ano, o juro é uma carga muito mais pesada do que do que o tarifaço. O pior do tarifaço é a desgovernança do comércio internacional e a incerteza que isso traz para o sistema econômico global. O tarifaço de Trump, não apenas contra o Brasil, mas também contra outros países, pode gerar desvios de comércio que provoquem um acirramento da concorrência internacional com bens brasileiros, seja na disputa com produtos importados dentro do Brasil, seja em outros mercados para onde manufaturados brasileiros são exportados. Não será um segundo semestre fácil para a indústria, tanto para quem foca no mercado interno, tanto para quem foca no mercado externo. É um ano de interrupção do processo positivo visto em 2024. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.