29/Sep/2025
Os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump mantiveram contatos secretos e realizaram reuniões de trabalho prévias ao primeiro encontro presencial entre os presidentes na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), na semana passada, em Nova York (EUA). Essas interações, sigilosas até agora, envolveram autoridades de alto escalão dos governos brasileiro e norte-americano. Os emissários agiram com aval dos presidentes Lula e Trump e mantiveram canais abertos para indicar a “boa disposição” de ambos a um possível encontro que se concretizaria nos bastidores da ONU. Os dois governos agiram para pavimentar o caminho do encontro, embora até o último minuto pairasse a incerteza se aconteceria. A interação estava o tempo todo no horizonte das autoridades. A operação diplomática envolveu, sobretudo, quatro autoridades políticas.
O vice-presidente Geraldo Alckmin conversou por videoconferência com o embaixador Jamieson Greer, representante comercial dos Estados Unidos O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu no Brasil uma visita de Richard Grenell, enviado especial para Missões Especiais. Não houve divulgação de documentos, notas oficiais, nem registros públicos em agendas das autoridades de Brasil e Estados Unidos. Tampouco fotos. Os dois lados tomaram cautela e agiram com discrição para evitar que agentes contrários ao estreitamento de laços implodissem a operação. As reuniões se adensaram nos últimos 15 dias. As conversas entre representantes dos dois países passaram a ser sabotadas por bolsonaristas liderados pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, junto a representantes do movimento MAGA (Make America Great Again).
Por isso, autoridades públicas e privadas operaram nos bastidores. A “química” entre Lula e Trump não “pintou” por acaso nem foi tão espontânea quanto as versões públicas apresentadas por Trump e Lula. Na manhã de terça-feira (23/09), horas antes da conversa entre Lula e Trump, um diplomata afirmou que eles dividiriam a mesma sala reservada a chefes de Estado e que os cerimoniais não haviam tomado qualquer medida para evitar o encontro. Pelo contrário. Donald Trump chegou mais cedo, assistiu ao discurso de Lula e deixou-se fotografar pela equipe da ONU com os olhos na TV, enquanto Lula reagia em defesa da soberania nacional. O presidente Lula, por sua vez, manteve a rota que levava à sala para “buscar suas papeletas com anotações”, em vez de sair direto para o plenário do Debate Geral, o que era uma opção. Nenhum dos dois criou obstáculos para que não se cruzassem na sala.
Os contatos de bastidores ocorrem há meses entre os dois governos, mas se intensificaram após a condenação de Bolsonaro. Não houve pedidos prévios de uma reunião bilateral formal. Mas Lula, por sua vez, faria circular que, se trombasse com Trump no corredor da ONU, pretendia cumprimentá-lo. Lula repetiu a tese em entrevistas a TVs estrangeiras. A possibilidade estava ancorada em contatos reservados. Alckmin e Greer deram o primeiro passo. Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava o ex-presidente Jair Bolsonaro, eles agendaram uma chamada de vídeo por meio do sistema WebEx, para as 15h do dia 11 de setembro. Naquela tarde, o STF selou o destino de condenação do ex-presidente (27 anos e 3 meses de prisão) por tentar um golpe de Estado. Seria a 12ª reunião de contato das equipes comerciais dos dois países, lideradas pelos seus chefes máximos. Alckmin estava acompanhado de assessores próximos, entre eles a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.
Um documento recomenda: “Gerenciar o timing da negociação, julgamento do ex-presidente deve agravar tensões e poderá levar a novas sanções sobretudo aos membros do STF. Ao mesmo tempo, processos sob Seção 301 e 232 seguem em curso, podendo levar a tarifas adicionais ao Brasil. Priorizar setores, se for o caso (para exclusões do tarifaço, para investigações sob 232 etc)“. O Itamaraty recebeu mensagens diretas ao ministro Mauro Vieira, indicando que o enviado especial Grenell viajaria ao Paraguai. Ele de fato foi recebido pelo presidente Santiago Peña em Assunção no dia 16 de setembro. Grenell sondava se haveria disposição a um encontro, como havia indicado antes. O chanceler brasileiro confirmou e indicou que estaria no Rio de Janeiro, para a assinatura no dia seguinte do Acordo Comercial entre os blocos Mercosul e EFTA.
Além das duas conversas secretas, descritas como interlocutórias para pavimentar a aproximação presidencial, houve nos últimos meses uma série de contatos nos Estados Unidos. Desses diálogos, os norte-americanos mandaram o recado de que faltava presença brasileira fazendo lobby no país. Empresários, parlamentares e associações do setor privado fizeram missões aos Estados Unidos e participaram de debates. Mas houve ainda contatos reservados de Joesley Batista, da JBS, empresa que tem negócios bilionários no setor de proteínas nos Estados Unidos e foi doadora de campanha do republicano. O empresário conversou com Trump na Casa Branca, e João Camargo, da Esfera Brasil. O setor privado agiu em linha e contato com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Itamaraty e Ministério da Fazenda. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.