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25/Sep/2025

Brasil está no centro das atenções globais do Agro

Os palcos do Women in Agribusiness Summit, realizado nos Estados Unidos, trazem visibilidade ao que já vínhamos vivenciando nos últimos anos: o Brasil não é mais apenas o "celeiro do mundo", mas ocupa agora as prateleiras globais como um verdadeiro supermercado agro, determinante na segurança alimentar internacional. Em praticamente todas as palestras e mesas de debate, o Brasil está presente, seja como exemplo de potência produtiva ou como ator de peso nos fluxos comerciais globais. O país é citado em discussões sobre ser pilar de relevância no processo de formação de preços nas bolsas internacionais, sobre fluxos de capitais que direcionam investimentos para as commodities agrícolas, sobre os impactos de tarifas comerciais que redesenham mercados e até nas análises de segurança alimentar vinculadas às agendas multilaterais.

O que fica claro é que nos discursos globais o Brasil ocupa posições distintas e, muitas vezes, contraditórias ao que é de fato. É visto simultaneamente como gigante indispensável para garantir abastecimento, como parceiro estratégico em alianças comerciais, como competidor incômodo em mercados disputados e, em alguns momentos, até como vilão a ser contido. Essas percepções divergentes coexistem nas mesmas agendas, sendo discutidas em paralelo em diferentes painéis. Nos diálogos sobre acesso a mercados e políticas comerciais, o Brasil aparece como fornecedor essencial para países importadores, mas também como concorrente direto em disputas tarifárias.

Foi amplamente ressaltado, por exemplo, que o País hoje garante para si o movimento de parceiro preferencial da China e, ao mesmo tempo, se posiciona como um dos principais beneficiários do acordo Mercosul-União Europeia. É o que percebo como especialista em commodities agro e com um olhar atento para o agro e a partir da minha participação em eventos internacionais relevantes como o Women in Agribusiness Summit, além das conversas que mantenho com analistas de mercado, em rodas de discussão e junto a instituições financeiras. Já quando o tema é fluxo de investimentos e precificação global, o País surge como destino de capitais atraídos pelas altas taxas de retorno praticadas, embora acompanhado de questionamentos sobre estabilidade regulatória e previsibilidade fiscal.

Neste ponto há uma velada e inquieta preocupação a respeito de quanto o Brasil pode reverter os desafios de logística e infraestrutura que são tão divulgados internacionais e dar um pulo de competitividade operacional reduzindo custos. Aqui alguns questionamentos proferidos recorrentemente: "Quais os principais projetos que tramitam hoje no País que impulsionarão a competitividade brasileira?" "O que o Brasil está fazendo para ter mais acesso a crédito e a novos investidores e parceiros? Essa multiplicidade de olhares não é apenas uma questão de reputação. Ela molda a forma como os preços se estabelecem, como os contratos são firmados e como os riscos se distribuem ao longo das cadeias globais de suprimento. Esse cenário confirma algo essencial: protagonismo sem gestão é fragilidade.

Não basta que o agro brasileiro esteja no centro das discussões; é preciso que saiba transformar visibilidade em influência estratégica e retorno em investimentos em infraestrutura e capacitação. O Brasil avança em competitividade, mas enfrenta gargalos significativos, como o alto custo do crédito e as dificuldades de acesso a financiamento. Por outro lado, há um ativo que diferencia o País: sua capacidade de organização coletiva, por meio de associações representativas que comunicam, informam, capacitam, formam lideranças e constroem pontes globais. O Women in Agribusiness Summit evidencia que o Brasil está no foco da mídia, dos investidores e dos articuladores políticos.

O passo seguinte é consolidar-se não apenas como fornecedor de alimentos, mas como referência na gestão de riscos, na diplomacia comercial e na articulação internacional. O agro brasileiro está num caminho sem volta rumo à centralidade global. A questão não é mais se o Brasil será protagonista, mas como exercerá esse protagonismo: se de forma reativa, oscilando entre as narrativas de gigante, parceiro, competidor e vilão, ou se de forma estratégica, transformando essa pluralidade de percepções em poder de negociação, resiliência de mercado e influência real. É aqui que entra a importância da gestão de riscos e da leitura estratégica: enxergar além dos números de safra, compreender a dinâmica das tarifas, das políticas comerciais e dos fluxos financeiros, e posicionar o Brasil como ator indispensável e confiável nas cadeias globais de abastecimento. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.