19/Sep/2025
Cada vez mais jovens são diagnosticados com problemas de saúde antes associados ao envelhecimento, como enfarte, diverticulite, osteoporose, catarata e diabete tipo 2. Especialistas apontam que manter certos hábitos de vida, como ter alimentação desequilibrada, ser sedentário e fumar, tem contribuído para que enfermidades típicas da velhice se antecipem e afetem adultos em plena fase produtiva. Segundo o Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o brasileiro não tem dado a devida atenção aos fatores de risco. Isso é preocupante e pode não só antecipar o diagnóstico de doenças como elevar o risco de morte. São necessárias mais políticas públicas que mostrem a importância de acompanhamento médico especializado para que a população saiba quais são esses fatores de risco e como evitá-los. Se isso não for prioridade, não terá hospitais que aguentem, ao mesmo tempo, tantos jovens e idosos. Problemas de saúde que têm surgido cada vez mais cedo:
- Enfarte: dados Ministério da Saúde mostram que as internações de pessoas abaixo de 40 anos em decorrência de enfarte passaram de 1,7 caso por 100 mil habitantes em 2000 para quase 5 em 2022, aumento de 184%. Hoje, não precisa envelhecer para ter enfarte, basta colecionar fatores de risco. Metade da população adulta está com excesso de peso, cerca de 20% dos brasileiros têm pressão alta e há um crescente número de jovens usando cigarro eletrônico, fatores que potencializam o risco de enfarte. O uso de drogas, como cocaína e crack também tem contribuído para o crescimento.
- Diabete tipo 2: segundo a Sociedade Brasileira de Diabete (SBD), o excesso de peso e a obesidade precoces explicam o aumento da incidência dessa doença entre os mais novos. Essa situação favorece a resistência à insulina, condição em que o hormônio não consegue executar sua tarefa direito, ou seja, colocar a glicose dentro das células para gerar energia. Dessa maneira, o açúcar sobra na circulação. Uma pesquisa baseada em dados do estudo Global Burden of Disease 2019 e publicada na revista científica The BMJ apontou que a taxa de diabete tipo 2 entre adolescentes e adultos jovens (de 15 a 39 anos) subiu 56% em todo o mundo entre 1990 e 2019, passando de 117 casos a cada 100 mil pessoas para 183. Entre os principais sintomas de diabete em pessoas jovens estão sede em excesso, urinar muitas vezes ao dia, perda de peso rápida, cansaço recorrente, visão borrada e aumento da fome. Em alguns casos, a diabete tipo 2 pode ser silenciosa, sem sintomas evidentes, o que dificulta o diagnóstico precoce. Por isso, pais e jovens devem estar atentos a mudanças repentinas no corpo e procurar avaliação médica quando houver suspeita. A situação preocupa sobretudo porque, em jovens, a doença tende a provocar complicações mais rapidamente do que se observa entre indivíduos acima de 40 ou 50 anos. Um artigo publicado em 2023 no The Lancet Diabetes & Endocrinology mostrou, com base na análise de diversos bancos de dados, que pessoas diagnosticadas com diabete tipo 2 antes dos 30 anos morrem, em média, 14 anos mais cedo do que as sem a condição. Em contraste, quando a doença se manifesta após os 70 anos, a perda média de expectativa de vida é inferior a 2 anos. Essas evidências somente reforçam a importância do diagnóstico precoce e o controle intensivo da doença.
- Osteoporose
Segundo a Comissão de Doenças Osteometabólicas e Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a osteoporose pode ocorrer em qualquer idade, inclusive na infância e adolescência. Isso se deve ao fato de que mais de 90% da massa óssea é formada nas duas primeiras décadas de vida. O quadro é caracterizado pelo enfraquecimento dos ossos e predisposição a fraturas. A osteoporose é classificada como primária quando está relacionada ao envelhecimento e à menopausa. Se for consequência de outros fatores ou doenças, é chamada de secundária. Nos jovens adultos, a maioria dos casos é secundária, ou seja, há condições de base que comprometem a massa óssea. Os fatores que mais têm contribuído para o diagnóstico de osteoporose precoce são: baixo pico de massa óssea (não alcançar um pico adequado de massa óssea até os 20 anos em decorrência de fatores como sedentarismo e dieta pobre em cálcio na infância e adolescência); uso de medicamento como corticoides (principal causa por trás do diagnóstico da osteoporose precoce), anticonvulsivantes (como fenitoína, carbamazepina e valproato) e de inibidores de bomba de prótons (indicados para refluxo, por exemplo) na infância e adolescência; estilo de vida, com dietas restritivas ou desequilibradas (com pouca ingestão de cálcio e proteína), deficiência de vitamina D (por baixa exposição solar), tabagismo e consumo excessivo de álcool; doença crônica, como artrite reumatoide, lúpus, ou que causa má absorção intestinal, além de insuficiência renal crônica ou hepática.
- Diverticulite
Nos últimos anos, médicos têm observado um crescimento de casos de diverticulite entre adultos, especialmente na faixa dos 40 aos 49 anos. Essa doença ocorre quando pequenas bolsas na parede do cólon ficam inflamadas. O quadro pode provocar dor abdominal, náusea, constipação, cólicas e febre. Segundo a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), mais uma vez, questões de estilo de vida são possíveis responsáveis pelo novo cenário. A teoria é que isso se deve, em parte, à maior presença de obesidade nessa população. Estudos mostram que o ganho de peso na vida adulta pode aumentar significativamente o risco de desenvolver diverticulite, especialmente em homens com índice de massa corporal (IMC) acima de 30. Para prevenir, é preciso manter uma alimentação rica em fibras, praticar atividade física regularmente, evitar o tabagismo e a obesidade são medidas úteis.
- Esteatose Hepática
A Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) também tem observado crescimento de casos de esteatose hepática, popularmente conhecida como fígado gorduroso, entre brasileiros jovens. Uma pesquisa da American Association for the Study of Liver Diseases revelou que a América do Sul foi a região que registrou o maior aumento de adolescentes com gordura no fígado em 29 anos, um aumento de 39,2%. No mundo, a prevalência de adolescentes com a doença subiu de 3,7%, em 1990, para 4,7% em 2019. O consumo de alimentos ultraprocessados está entre os motivos por trás dessa disparada. Esses produtos são conhecidos por concentrarem quantidades expressivas de compostos críticos, como açúcar, gordura saturada, sódio e aditivos químicos. A esteatose hepática não é só uma ‘gordurinha’ no fígado, como ainda se fala. É uma doença sistêmica que demonstra que o metabolismo não está adequado. O acúmulo excessivo de gordura no fígado pode acarretar inflamação hepática, fibrose, cirrose e até o desenvolvimento de câncer de fígado. Para evitar o quadro, é preciso fazer uma revisão nos hábitos alimentares e a prática de exercícios. Atividade física regular, pelo menos três vezes por semana, durante 40 a 60 minutos, associada a uma dieta com predomínio de alimentos in natura e pobre em ultraprocessados.
- Catarata
Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), tirando questões genéticas, há algumas possíveis explicações para a alta de catarata em faixas etárias mais novas. Por exemplo, a exposição solar e a alta prevalência de obesidade entre os brasileiros. O sobrepeso, vale destacar, favorece o desenvolvimento de diabete do tipo 2, e indivíduos com essa doença têm de duas a cinco vezes mais chances de ter catarata do que a população sem diabete. Os sintomas em jovens não diferem dos observados em idosos: visão embaçada, sensibilidade à luz, dificuldade para enxergar à noite e variações frequentes no grau dos óculos são os sinais mais comuns. Hoje, os oftalmologistas tendem a indicar a cirurgia em estágios mais iniciais da doença, aproveitando os avanços tecnológicos e a qualidade das lentes intraoculares.
- Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)
Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), apesar de a maioria dos casos ser diagnosticada após os 40 anos, têm sido relatadas manifestações em pessoas mais jovens. Em regra, o tempo de exposição ao tabaco é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Em média, é necessário fumar um maço por dia durante 20 anos para começar a apresentar sinais da doença. No entanto, o início precoce do tabagismo pode antecipar os sintomas, entre os principais estão tosse persistente, falta de ar e redução da capacidade física. O uso de cigarros eletrônicos é outro ponto de atenção. Diversos tipos de vapes liberam quase 2 mil substâncias diferentes, e muitas podem causar problemas respiratórios. Nicotina, propilenoglicol, glicerol, metais pesados e partículas finas são exemplos.
Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.