ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

16/Sep/2025

Reação dos EUA deve se limitar a ministros do STF

Integrantes do governo brasileiro avaliam que eventual nova sanção aplicada pelos Estados Unidos, após a condenação de Jair Bolsonaro, deverá recair individualmente sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Executivo, e talvez familiares. O Departamento de Estado dos Estados Unidos prometeu “responder adequadamente” à condenação do ex-presidente brasileiro e de mais sete réus, todos ex-integrantes militares e civis de seu governo, pela trama golpista. Uma das avaliações correntes entre os estrategistas internacionais do governo brasileiro é que existe essa “tendência” de punição mais circunscrita a indivíduos, em vez de medidas que impactem de forma ampla a economia brasileira, como tarifas comerciais, ou possam ter repercussões financeiras imprevisíveis, como punições a bancos de bandeira brasileira. Segundo essa interpretação, punir o conjunto da economia nacional traria mais custos políticos negativos ao bolsonarismo e aos opositores de Lula.

Se atingir os bancos, que já foram cobrados pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), as sanções podem ainda trazer riscos difíceis de prever, por causa das relações imbricadas do sistema financeiro. Um cancelamento geral ou negativa genérica de vistos a brasileiros, por exemplo, durante a Copa do Mundo de 2026, prejudicaria cidadãos de forma indiscriminada, algo que já gerou contestações aos bolsonaristas e fortaleceu o presidente Lula. Seria um “efeito bumerangue”. No mesmo grupo de medidas que significam uma punição “coletiva” ao País estariam eventuais sanções secundárias pela relação comercial com a Rússia. Elas já foram aplicadas contra a Índia (a tarifa saltou de 25% para 50%), que contestou a legitimidade, porque a Europa negocia ainda mais com a Rússia, embora o comércio russo-indiano esteja em tendência de alta. A leitura do governo brasileiro tem como base movimentos recentes do governo norte-americano e os efeitos políticos domésticos do tarifaço de 50% sobre o Brasil.

O governo brasileiro admite que carece de dados diretos sobre a dinâmica interna das decisões trumpistas por falta de acesso à Casa Branca. Após a proclamação da sentença condenatória, diferentes porta-vozes da diplomacia trumpista e conselheiros de Trump se revezaram nas redes sociais para dizer que haverá consequências. Algo que o Palácio do Planalto já tinha em conta. Em todas elas, as autoridades diplomáticas norte-americanas e integrantes do círculo mais próximo de Donald Trump citaram apenas ministros do Supremo Tribunal Federal. Nas horas seguintes à condenação, Trump deixou de responder se aplicaria novas sanções e limitou-se a expressar apreço pelo ex-presidente brasileiro, comparar sua situação jurídica à dele e afirmar que a condenação era “terrível e muito surpreendente”. Depois vieram as manifestações públicas do secretário de Estado, Marco Rubio, do secretário-adjunto de Estado, Christopher Landau, do subsecretário de Diplomacia Pública, Darren Beattie, e do lobista e estrategista Jason Miller. Todos mencionaram apenas o STF.

Nominalmente, eles citaram o ministro relator Alexandre de Moraes, já punido com a Lei Magnitsky, e os juízes com ligações pessoais e políticas mais diretas com Lula: Cristiano Zanin, ex-advogado do presidente, e o ex-ministro da Justiça, Flávio Dino. A ideia era reforçar a tese de um tribunal enviesado e parcial. Sancionar os ministros, seja com aplicação da Magnitsky (o que depende também do Departamento do Tesouro) ou alguma medida restritiva de visto (na alçada apenas do Departamento de Estado), teria efeitos menos drásticos. Já o tarifaço de 50% atingiu amplamente setores produtivos do Brasil, inclusive alguns com forte ligação com o bolsonarismo, e criou dificuldades de argumento para a direita brasileira. O governo brasileiro entende que controlou a narrativa e que o embate rendeu dividendos políticos a Lula. Se aplicar sanções secundárias relacionadas à guerra na Ucrânia sobre o Brasil (por causa da compra incrementada de diesel e fertilizantes) Donald Trump poderia atingir em cheio o agronegócio (inclusive setores isentos do tarifaço, como suco de laranja), base política do ex-presidente.

Esses são os produtos essenciais na relação comercial russo-brasileira. Além disso, houve repercussões internas na economia norte-americana. O governo Lula e o agro brasileiro esperam que o café e a carne entrem na lista de exceções. Na semana passada, o governo norte-americano ampliou as isenções para incluir celulose e ferro-níquel. Além disso, a Embraer recebeu um pedido firme de compra de 50 jatos da companhia aérea norte-americana Avelo. Para um integrante do governo, esses gestos podem indicar que Trump percebeu que “errou a mão” no tarifaço e que vem sendo obrigado a rever a extensão das medidas. A reação norte-americana estará vinculada aos próximos passos da ‘recalibragem’ política da oposição brasileira, como a definição de onde pretendem contestar a condenação e se indicarão ou não agora um presidenciável como substituto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.