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12/Sep/2025

Brasil e os principais desafios da agenda climática

Sede da COP30 daqui a dois meses, o Brasil tem na sua Contribuição Nacional Determinada (NDC), ou plano de ação climática, compromissos como a redução das emissões líquidas de gases estufa de 59% a 67% até 2035, em comparação com 2005, e a aprovação de marco legal e regulamentação do mercado de carbono, com a criação do sistema brasileiro de comércio de emissões, entre outras medidas importantes para contribuir com a desaceleração do aquecimento global. Mas, além disso, outros desafios integram a agenda climática nacional. São eles:

1. Desmatamento bom é desmatamento zero

A conversão de áreas de floresta em pasto ou lavoura é responsável por quase metade das emissões de gases de efeito estufa. O País se comprometeu com o desmatamento zero até 2030 e tem conseguido reduzir taxas, mas ainda precisa avançar nos incentivos e alternativas econômicas para manter a vegetação nativa. Especialistas defendem que o problema seja sufocado na origem: cortar o dinheiro que financia o desmatador, com restrição de crédito rural, e cobrar altas indenizações nos tribunais. O desafio aqui é fazer com que o avanço da agropecuária, um dos motores da economia brasileira, esteja baseado em práticas sustentáveis e na recuperação de áreas degradadas.

2. Deixar a floresta longe do fogo; e ter meios de combatê-lo

Ecossistemas fragilizados e mudança do clima aumentaram o risco de fogo, que se tornou mais devastador e atinge locais que não costumavam queimar, como o coração da Amazônia. O fogo também tem sido usado de maneira criminosa para desmate e grilagem. Áreas públicas e privadas precisam de medidas para prevenir e capacidade de extinguir queimadas antes que se espalhem. A temporada de fogo bateu recordes no ano passado. Foram registrados 278.229 focos no País, o pior número em 14 anos e alta de 46% em relação a 2023, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. O Ministério do Meio Ambiente diz ter aumentado em 25% o total de brigadistas.

3. Restaurar ecossistemas: é caro, mas compensa

A restauração em larga escala é uma das principais maneiras de o Brasil contribuir com a mitigação das mudanças climáticas. Também protege espécies da extinção e evita catástrofes. Um obstáculo é o alto custo do plantio direto, ainda usado na maioria dos projetos. Especialistas defendem que o Brasil invista na combinação entre regeneração natural e intervenção humana, plantando espécies de interesse, e proteja do fogo e da degradação a vegetação que está nascendo. Além disso, a restauração de áreas de floresta pode beneficiar produtores rurais. É o que mostra estudo da Universidade de São Paulo (USP) com fazendas de café em 58 cidades do Sul de Minas e da Mogiana Paulista. Eles concluíram que restaurar florestas e áreas degradadas nas fazendas pode aumentar a produção e a rentabilidade no longo prazo.

4. Realinhar incentivos financeiros para atividades sustentáveis

A migração para uma economia verde, baseada na energia renovável e em atividades não predatórias, precisa contar com um redirecionamento de investimentos públicos e privados para ter êxito. Movimentação do setor financeiro nessa direção ainda é incipiente no Brasil, segundo especialistas. O Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o Conselhão, apresentou ao presidente Lula o “Portfólio de Investimentos para a Transformação Ecológica”, documento que deve nortear os investimentos nessa área nos próximos anos. O projeto tem como objetivo direcionar investimentos para cinco setores estratégicos: energia, indústria, mobilidade elétrica, bioeconomia e soluções baseadas na natureza.

5. Fortalecer e ampliar cinturões de áreas protegidas

Na terra e no mar, é preciso implementar mais unidades de conservação e assegurar a proteção das atuais. Esses cinturões garantem as funções ecossistêmicas (sequestro de carbono, reciclagem de água) que diminuem em ambientes fragmentados e, em alguns casos, podem gerar renda por meio de pagamentos por serviços ambientais e outros instrumentos. Em junho, o governo federal criou três unidades de conservação: uma no Espírito Santo e duas no Paraná. Com 45,4 mil hectares, a maior das novas unidades é a Área de Proteção Ambiental da Foz do Rio Doce, no Espírito Santo. Entre as cidades de Linhares e Aracruz, ela faz parte de acordo judicial para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015.

6. Universalizar o saneamento

Garantir acesso integral a água potável, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana ainda é um desafio no Brasil. Segundo o Censo 2022, a rede de esgoto alcança 62,5% da população do País. Pelo menos 39 milhões de pessoas despejam seus dejetos em fossas rudimentares e buracos e 4 milhões ainda lançam dejetos não tratados em rios, lagos ou no mar. Isso compromete a qualidade das águas nas áreas urbanas. A região mais crítica nesse sentido é a Norte do País, onde menos de 1/4 da população consegue fazer a destinação correta do esgoto.

7. Mapear e remover a população de áreas mais vulneráveis a desastres

O Brasil tem 1.942 municípios com risco de deslizamentos de terra, alagamentos, enxurradas e inundações - ou 1 em cada 3 cidades -, totalizando mais de 9 milhões de pessoas que vivem em áreas suscetíveis a desastres, de acordo com levantamento do governo federal. O número, no entanto, é subestimado. Entre as localidades estão regiões como São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, que sofreu com fortes chuvas e deslizamentos em 2023, e Petrópolis, no Estado do Rio, que passou pelo mesmo problema em 2022. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) conta com equipamentos de monitoramento de chuvas em 1.133 municípios brasileiros. A previsão é de que eles sejam instalados nas 1.942 cidades até o fim de 2027. Atualizar o levantamento dessas áreas, aumentar a resiliência e remover a população onde for necessário são os primeiros pontos de adaptação que o País ainda tem de cumprir.

8. O peso do Custo Brasil

Usinas para produção de combustíveis avançados, como etanol de segunda geração e combustível sustentável de aviação (SAF), demandam grandes volumes de investimento. A taxa de juros brasileira e a instabilidade econômica do País, porém, tornam mais caros os financiamentos que viabilizariam esses aportes. A boa notícia é que o Brasil tem potencial enorme, uma vez que o SAF, por exemplo, pode ser produzido a partir de soja, milho, palma e sebo bovino, entre outras matérias-primas. O crescimento da demanda por biocombustíveis é tido como certo no longo prazo devido à necessidade de o mundo reduzir as emissões. Para os próximos cinco anos, no entanto, ainda há dúvidas no ritmo de crescimento dessa demanda, dado que políticas globais para reduzir emissões ainda não estão totalmente definidas. Investidores e produtores de matéria-prima encaram, assim, dificuldades para estimar seus aportes.

9. Disputa que envolve o alimento

Apesar de o Brasil adotar práticas agrícolas avançadas, que permitem uma produção de biocombustíveis mais sustentável que a de seus concorrentes, países europeus consideram que o uso da terra para o cultivo de matérias-primas compete com o uso para a produção de alimentos. O País ainda precisa convencer a Europa de que suas práticas são sustentáveis. A nova Lei de Licenciamento Ambiental também pode não favorecer a sustentabilidade da produção agrícola usada na fabricação de biocombustíveis - e, portanto, a imagem desses combustíveis no exterior. A lei isenta de licenciamento toda a produção agropecuária (com exceção da pecuária intensiva de médio e grande porte). Para ambientalistas, a isenção não poderia ser por setor, mas pelo porte e pelo local da atividade econômica. A Agência Internacional de Energia (AIE) está desenvolvendo critérios para definir o que é um combustível sustentável. Uma vez que se tenha isso claro e conforme o País cumpra esses critérios, esse trabalho de convencimento poderá ficar mais fácil para o Brasil.

Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.