11/Sep/2025
De acordo com o estudo "Análise Socioeconômica do Comércio Brasil-China" do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em parceria com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), de 2000 a 2024, a China não só se tornou o principal parceiro comercial do Brasil como alterou estratégias de internacionalização de empresas nacionais e impulsionou o emprego formal. No período, todos os Estados brasileiros mantiveram relações comerciais com a China. O estudo mostra que, em 2024, as Regiões Sudeste e Sul concentraram 63,8% das empresas brasileiras que exportaram para a China, reflexo da presença de polos industriais, cadeias agroindustriais e centros logísticos consolidados. A Região Sudeste contava com 1.791 empresas, e a Região Sul, com 822 empresas que vendem ao gigante asiático. As Regiões Norte e Nordeste mantiveram participação modesta e estável nas exportações, envolvendo pouco menos de 600 companhias.
A Região Centro-Oeste se destacou pelo valor exportado (US$ 16,14 bilhões), mas sua base exportadora restringe-se a 190 empresas. Em geração de empregos, o levantamento indica que, em 2022, cerca de 5,2 milhões de postos formais estavam em companhias que importaram da China, mais que o dobro dos empregos associados a empresas exportadoras (2,2 milhões). A remuneração média dos vínculos ligados às exportações alcançou R$ 4.916,73 em 2022, valor superior ao dos postos ligados às importações, cuja média foi de R$ 4.430,44. A diferença salarial reflete tanto o perfil setorial quanto o porte das empresas. Mesmo assim, os salários associados às exportações registraram o menor crescimento entre 2008 e 2022 (116,6%), embora acima da inflação acumulada de 89,1% no período, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número de empresas nacionais que exportam para a China mais que quadruplicou entre 2000 e 2024, chegando a 2.993. As companhias que importam do país asiático cresceram quase 11 vezes, somando 40.059, o que faz da China a origem com o maior contingente de importadoras brasileiras. Empresas médias e grandes que vendem para a China registraram a maior taxa de crescimento entre os destinos comerciais relevantes. De 2008 a 2024, houve um aumento de 65,8%, enquanto o crescimento foi de 30,9% para os Estados Unidos e 8% para a União Europeia. Entre as microempresas, as exportadoras aumentaram 277%, para 313, entre 2008 e 2024; já as que importam da China cresceram quase seis vezes, chegando a 10.974. Esse é um dos achados mais relevantes do estudo. Desde 2014, o número de micro e pequenas empresas (MPEs) exportadoras para China aumentou, em média, 15% ao ano, acima da média nacional de 11%.
Apesar dos avanços rumo a um comércio exterior mais inclusivo, persistem obstáculos, como escassez de financiamento direcionado, dificuldade de acesso a redes de apoio e promoção comercial e baixa presença em cadeias de maior valor agregado. Esses fatores limitam a participação plena de micro e pequenas empresas, bem como de mulheres e pessoas negras, além da diversificação regional das operações internacionais. A China ocupou de forma consistente as três primeiras posições como destino das vendas da Região Centro-Oeste entre 2000 e 2024, consolidando-se como mercado-chave para as exportações do agronegócio brasileiro. Mas, a compra de insumos chineses pelo setor, motor econômico da região, também é relevante. Na ponta das compras, a China lidera o ranking em número de empresas em todas as regiões do País desde 2008. Na Região Centro-Oeste, o total de companhias importadoras cresceu 33 vezes desde 2000.
O levantamento aponta que as Regiões Sul e Centro-Oeste também reforçaram a dependência da China como fornecedora de insumos industriais e agrícolas. A crescente dependência brasileira de insumos chineses impõe desafios estratégicos. A diversificação de fornecedores e o fortalecimento das cadeias produtivas nacionais tornam-se cruciais para mitigar riscos externos e ampliar a autonomia produtiva do País. A Região Sudeste também se destaca: em 2024, mais de 25 mil empresas da região compravam da China, movimento apoiado por infraestrutura eficiente (Porto de Santos, Viracopos, Guarulhos) e demanda industrial. Embora a China seja o país que mais compra produtos do Brasil no exterior, há mais empresas brasileiras que importam do que exportam nas trocas comerciais com o gigante asiático. São mais de 40 mil empresas que importam da China, entre lojas do varejo, atacadistas, tradings e indústrias, contra menos de 3 mil que exportam ao país.
Enquanto há uma grande diversidade de produtos manufaturados e insumos industriais importados pelo Brasil da China, as vendas ao gigante asiático são concentradas em um número bem menor de fornecedores de produtos primários. Somente três produtos (soja, minério de ferro e petróleo) representaram três quartos do total vendido à China no ano passado. É bem maior o número de empresas brasileiras que exportam para o Mercosul (11,7 mil), os Estados Unidos (9,6 mil) e a União Europeia (8,6 mil), ainda que, no montante em dólares, estes mercados comprem menos do Brasil. Quando se olha para as importações, o total de empresas que trazem produtos da China, 40.059, em número preciso de 2024, é quase dez vezes superior ao número de importadores de produtos do Mercosul, o triplo dos Estados Unidos e o dobro da União Europeia. Desde o ano 2000, o número de importadores de produtos chineses no Brasil foi ampliado em 11 vezes.
O estudo mostra que, embora em menor ritmo, também houve um avanço no número de empresas que vendem à China: quadruplicou de 2000 para cá, incluindo microempresas que passaram a fornecer ao país. A urbanização acelerada, a ascensão da classe média e o crescimento da indústria puxaram nas últimas décadas a demanda chinesa por produtos que o Brasil tem condições de fornecer. Nos últimos dez anos, a China respondeu por mais da metade do superávit da balança comercial brasileira, sendo, em 2024, o destino de 28% das exportações do Brasil. As vendas para a China são mais concentradas em commodities do que para qualquer outro parceiro comercial. Apesar disso, houve um aumento do número de produtos brasileiros fornecidos ao país. De 673 produtos em 1997, o Brasil passou a exportar mais de 2,5 mil produtos para a China, com base na nomenclatura comum do Mercosul.
A conclusão dos autores do estudo é de que, apesar de ainda pouco diversificado em produtos e empresas, o comércio com a China tem atraído mais exportadores, especialmente de menor porte. Isso está levando a uma ampliação do leque de produtos exportados ao mercado chinês. A China segue oferecendo oportunidades a empresas brasileiras. Isso tudo faz pensar em políticas públicas para que mais empresas, mais regiões do Brasil, mais trabalhadores brasileiros possam se aproveitar das oportunidades, que ainda são crescentes, no mercado chinês. A presença feminina no comércio Brasil-China chegou a 29% do total de trabalhadores nas exportações em 2022, maior nível desde 2008. O avanço, porém, ainda esbarra no peso das commodities agropecuárias e de mineração na pauta de vendas externas, setores que tradicionalmente empregam menos mulheres.
Os embarques para a China são dominados por grandes empresas, então a ampliação e o fortalecimento das políticas de diversidade de gênero em cada uma delas pode ser um caminho para aumentar a participação de mulheres. Os dados mostram que, em 2022 somente 16,5% dessas firmas tinham maioria feminina em seus quadros. A presença feminina vem avançando nos últimos anos, totalizando 608 mil trabalhadoras em 2022, embora ainda permaneça inferior, em termos absolutos, à de regiões como Estados Unidos e União Europeia. Nas importações, os índices são mais expressivos: participação feminina de 34,4% no mesmo ano, o que representa 1,9 milhão de trabalhadoras. Na estrutura societária, em 2024, elas representavam 21,2%. Isso reforça que ainda há um longo caminho para aumentar a presença feminina em posições de decisão. A presença de trabalhadores negros no comércio com a China avançou 133% entre 2008 e 2022. Nas empresas exportadoras, esse grupo representa 43,9% do total de empregados, somando 865 mil pessoas.
A participação de negros é ainda maior nas importações, onde somam 2,2 milhões de trabalhadores, ou 44,7% do total. Esses indicadores mostram que, entre os principais parceiros comerciais do Brasil, a China é o destino em que as empresas exportadoras apresentam a maior proporção de trabalhadores negros. Por outro lado, em 2022, profissionais negros de empresas brasileiras envolvidas nessa relação comercial recebiam, em média, 40% menos que os colegas brancos. A remuneração média desses trabalhadores de companhias que exportam para o país asiático foi de R$ 3.539,28, abaixo do salário médio pago a quem atua em empresas com vendas para Estados Unidos e União Europeia. O estudo analisou registros de operações de comércio exterior da Secex/MDIC; vínculos empregatícios declarados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho; e cadastros societários de empresas registrados na Receita Federal do Brasil (RFB). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.