04/Sep/2025
Grandes representantes do Produto Interno Bruto (PIB) de Brasil e Estados Unidos rechaçaram o tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump e defenderam o diálogo na primeira audiência pública da investigação do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR,). Mais do que discutir prós e contras do Sistema de Pagamentos Instantâneos (Pix) ou da Rua 25 de Março, ficou claro nos debates que é limitada a margem para negociar condições comerciais mais vantajosas sem o envolvimento dos governos. Nesta quarta-feira (03/09), representantes de setores atingidos pelas tarifas (agronegócio, café, cerâmica e grandes empresas de tecnologia) participaram da audiência. Aberta em julho, a investigação do USTR acusa o Brasil de supostas práticas desleais em comércio digital, pagamento eletrônico, tarifas preferenciais, proteção de propriedade intelectual, mercado de etanol e questões ambientais, com base na Seção 301 da Lei de Comércio. Nas discussões gerais, porta-vozes defenderam que Brasil e Estados Unidos conversem: as tarifas seriam um "perde-perde" para ambos.
Em temas setoriais, como o etanol, representantes foram a favor da investigação contra o Brasil, alegando práticas protecionistas no País. Para o lobista norte-americano Brian Ballard, "os empresários brasileiros não são os inimigos do povo norte-americano e não merecem ser punidos". Ele admitiu, porém, que a semana não é ideal para discutir tarifas, em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ballard foi contratado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para defender o setor privado. O setor privado não será capaz de mudar a postura do governo dos Estados Unidos, mas as empresas merecem ser ouvidas. Isso é apenas o começo. O vice-presidente de Américas da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Neil Herrington, pediu "deliberação cuidadosa" ao USTR. A preocupação é de que as tarifas tenham um impacto adverso nas cadeias de suprimentos e possam iniciar um ciclo de retaliações. O setor de tecnologia defendeu ampliar canais bilaterais para evitar que o Brasil se aproxime ainda mais da China, principal parceiro comercial do País.
A ideia é evitar pressionar o Brasil a aprofundar a cooperação com empresas de tecnologia não norte-americanas, disse Husani Durans de Jesus, do Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação (ITI). Os Estados Unidos devem aproximar o Brasil, e não empurrá-lo para os braços da China em busca de uma China mais forte, reforçou Ed Brzytwa, da Associação de Tecnologia de Consumo. Melinda St. Louis, da Data Privacy Brasil, criticou o uso da Seção 301 pelo governo Trump para "maquiar tarifas que são politicamente motivadas contra o Brasil". Segundo ela, a medida não é motivada por nenhuma questão econômica e legal, mas por uma tentativa de interferir no processo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), alertou que a tarifa de 50% pode causar um distúrbio no comércio internacional, sobretudo para pequenas empresas e produtores quanto mais tempo vigorar a taxação contra o Brasil. O embaixador Roberto Azevêdo vê espaço para Estados Unidos e Brasil chegarem a um entendimento que reduza as tarifas de 50% impostas a produtos brasileiros.
Entre os itens citados, estão terras raras, materiais críticos, data centers e etanol como possíveis intercâmbios entre os dois países. A percepção é de que há para se chegar a um entendimento que abaixe as tarifas em um determinado momento. Tudo vai depender muito de como que essas conversas vão evoluir, das barganhas que possam aparecer. Neste momento, "todas as alternativas estão na mesa". Azevêdo enfatizou o potencial de energia renovável do Brasil, essencial para o segmento de data centers, área de grande interesse nos Estados Unidos. É preciso explorar essas alternativas. O embaixador também defendeu, inclusive na audiência do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), que Brasil e Estados Unidos abram o mercado de etanol ao mundo, já que são os maiores produtores globais. Ele, que foi diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou ainda que as empresas norte-americanas são "muito pragmáticas". Elas querem parcerias, elas querem alianças que abram o mercado, que facilitem os negócios, que melhorem as condições de negócio tanto nos Estados Unidos como no Brasil.
Azevêdo acredita que prevalecerá a cooperação, e não o protecionismo, na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. Mas, não vê negociação sem o envolvimento dos respectivos governos. Do lado da iniciativa privada, o que as empresas podem fazer é "facilitar o diálogo". É muito difícil pensar em uma negociação propriamente dita sem ter os governos envolvidos. A diplomacia é estatal. Ainda, representantes da iniciativa privada se reuniram nesta quarta-feira (03/09) com o vice-secretário do Departamento de Estado norte-americano, Christopher Landau, para debater as tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil. O encontro foi confirmado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Participaram da reunião com o número 2 do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, o presidente da CNI, Ricardo Alban, o embaixador Roberto Azevêdo, e o CEO da Amcham Brasil, Abraão Árabe Neto. Detalhes do encontro não foram revelados. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.